Dentro de um mês e um dia, o Estado celebra a passagem de uma data que está profundamente ligada a sua história e desenvolvimento. Em 25 de julho de 2024, completam-se 200 anos da imigração alemã no Rio Grande do Sul. Foi em São Leopoldo, em 1824, que as primeiras famílias chegavam por aqui. E para marcar o bicentenário, a programação contempla não só o berço dessa trajetória, mas dezenas de cidades gaúchas com raízes alemãs.
Entre os locais com a marcante descendência germânica até os dias atuais, está Santa Cruz no Sul. Segundo estudiosos que pesquisam a história do município, a terra das cucas e da Oktoberfest inaugurou a segunda fase da imigração alemã no RS. Desta vez, não mais promovida pelo Império, e sim pelo governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
— Doze pessoas chegaram no dia 19 de dezembro de 1849. Entre os primeiros imigrantes, estavam August Wutke com a esposa e quatro filhos, Friedrich Tietze e a irmã, August Raffler, August Mandler, Gottlieb Pohl e August Arnold. Depois deles, milhares de pessoas e famílias de origem germânica vieram convidadas para se estabelecerem na “Kolonie” Santa Cruz — detalha a doutora em Ciências Sociais Lissi Bender.
O professor de História Henrique Röhsig comenta que os lotes iniciais foram abertos na região em que hoje está localizado o Aeroporto de Santa Cruz do Sul. Na época, o comércio era interligado com a cidade de Rio Pardo e, as viagens, realizadas em carroças puxadas por juntas de bois.
— Seis anos depois, já foram demarcadas as primeiras quadras do espaço urbano, onde hoje fica mais ou menos o centro da cidade. Dois pontos importantes a destacar são a mão de obra imigrante, que era muito pujante, e a preocupação com a educação. Temos escolas que foram construídas até mesmo antes das igrejas — afirma o professor.
Mesa farta e costumes mantidos por família da Linha Brasil
Com o passar do tempo, as paisagens foram mudando em parte da cidade. Apesar disso, as tradições e costumes trazidos com imigrantes ainda são mantidos em muitas famílias, como é o caso dos Siebeneichler, da localidade de Linha Brasil, Monte Alverne. Por lá, principalmente aos finais de semana, a mesa fica repleta de delícias inspiradas na cultura alemã, como a tradicional chimia com frutas da estação, cucas variadas, pães de milho frescos, bolachas, bolos e torresmo.
— As únicas coisas que compramos são a linguiça e a nata. O resto nós produzimos. A minha mãe está com 76 anos e até hoje faz as cucas, com receitas que aprendeu da nossa avó. Nós temos um lavandário que recebe pessoas aos finais de semana. Nossa ideia era produzir só óleos essenciais, mas os turistas começaram a visitar aqui e foram gostando. Por isso, decidimos oferecer o café colonial — conta a monitora de creche e uma das responsáveis pelo empreendimento Recanto Aromas do Monte, Cristiane Enia Siebeneichler, 46 anos.
Ao lado de duas irmãs, Márcia Andréa Siebeneichler Dreissig e Laura Sabina Siebeneichler Raths, elas viram a oportunidade de manter as raízes em um negócio da família. A propriedade em que ocorrem as visitas era do bisavô, um dos primeiros imigrantes da região. Os pais, Ruben e Érica Siebeneichler, seguem residindo no local.
— São os nossos pais que cuidam no dia a dia. Eles têm a criação de bichos, como galinhas, porcos e vacas. Fazem a produção de queijo colonial, kässchmier (queijo cottage), tem a plantão de milho para o gado, além de aipim, batata e feijão para consumo próprio. Na nossa infância, ficávamos bastante na roça. Era diferente de hoje... A gente se ajudava — conclui Cristiane.
Próximas semanas serão de programações especiais
Para marcar a data, Santa Cruz do Sul terá programações especiais de celebração. A prefeitura destaca que a primeira edição de um desfile temático alusivo ao Bicentenário está em tratativas. Caso se confirme, o evento será realizado no dia 27 de julho, em parceria com a Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp).
Também no calendário do município, há ações como exposição de fotos antigas na Biblioteca da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e o festival dos esportes em São Martinho, ambos ainda em junho, além de uma vasta previsão para julho, incluindo oficina de culinária típica alemã na Escola de Língua Alemã Auf Gut Deutsch, curso de danças alemãs no pavilhão da comunidade católica de Linha Santa Cruz e as tradicionais festas do colono e do motorista nas localidades.
Outra ação aguardada é a promoção de concertos pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) no interior. Na sexta-feira (28), a atividade ocorre às 19h, na Catedral São João Batista, em Santa Cruz do Sul, com entrada franca. Já no sábado (29), às 20h, a apresentação será no Vale do Paranhana, no Centro de Eventos das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat). O ingresso é disponibilizado mediante a doação de um litro de leite de caixinha, com possibilidade de retirada já na Faccat, no Sesc Taquara e na Biblioteca Pública de Taquara.
No Vale do Sinos, há um encontro de corais com 14 municípios da Rota Romântica previsto para o dia 21 do próximo mês, julho, durante o Café da Colônia de Morro Reuter. Também há uma missa em alemão sendo organizada.