O cônsul-geral da Alemanha em Porto Alegre, Marc Bogdahn, está com a agenda repleta em 2024 devido ao bicentenário da imigração alemã no Brasil. Desde 2023 na representação diplomática do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, ele veio de Brasília, onde trabalhou durante quatro anos na embaixada. No consulado, está em contato direto com as comunidades e entidades fundadas pelos imigrantes e seus descendentes nos últimos dois séculos.
Em 1824, o território do centro da Europa era formado por vários estados de língua alemã. A fundação do Império Alemão, a unificação da Alemanha, ocorreu somente em 1871.
São aproximadamente 20 mil cidadãos alemães no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a maioria com a dupla cidadania. No consulado, a maior demanda hoje é dos vistos para trabalhar na Alemanha. Em seu escritório no centro de Porto Alegre, Bogdahn falou sobre as celebrações deste ano e as relações entre os países.
O que representa para a Alemanha o bicentenário da imigração no Brasil?
Em primeiro lugar, é uma festa brasileira, porque comemora os primeiros imigrantes, em 1824, em São Leopoldo. Eu gostaria de enfatizar que a imigração no Brasil foi importante, especialmente no Sul, já que contribuiu muito para fortalecer os vínculos, tão fortes entre o Brasil e Alemanha. O Brasil é nosso único parceiro estratégico na América Latina.
Como a Alemanha participa das celebrações?
A embaixada em Brasília e o consulado em Porto Alegre, que são órgãos do governo federal alemão, participam de algumas atividades, das celebrações. Esperamos a visita de representantes de vários estados da Alemanha ao Brasil neste ano. Os municípios são muito importantes, porque têm parcerias fortes. Eu já pude visitar cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Municípios daqui têm vínculos com municípios alemães, relações de décadas já.
Os alemães e descendentes tiveram participação importante na formação do Rio Grande do Sul. Como são estas relações com a Alemanha hoje?
Quando cheguei, me impressionou esta presença cultural das tradições germânicas, da língua alemã. Lógico que está menos forte do que há cem anos, mas ainda é impressionante o número de pessoas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina que falam alemão, pelo menos um pouco, algumas palavras. Claro que, depois de sete ou mais gerações, se perde um pouco da língua.
Quais os interesses da Alemanha no sul do Brasil?
Interesse cultural, pelas relações e preservação da língua. Muitos colégios mantêm aulas do idioma alemão. Econômico, já que temos a presença de muitas empresas fundadas por descendentes de alemães. Muitas companhias alemãs também estão no Rio Grande do Sul. Temos uma câmara de comércio bilateral muito ativa em Porto Alegre.
Como são os processos migratórios 200 anos depois?
Antes, o processo migratório tinha um único sentido, da Alemanha para o Brasil. Durante séculos, a Alemanha foi um país de emigração. Depois da Segunda Guerra Mundial, também virou um país de imigração, de gente de outros países que foi estudar e trabalhar. Logicamente, também do Brasil para Alemanha. Trabalho e estudos. Estudo é muito forte. Muitos estudantes brasileiros vão para as faculdades alemãs e depois voltam. Outros querem ficar trabalhando na Alemanha. A gente tem falta de mão-de-obra.
Quais são os princípios fundamentais da sociedade alemã hoje?
Os valores são os mesmos, basicamente, do Brasil. Depois da catástrofe que foi nazismo, é muito importante a preservação e fortalecimento do estado democrático de direito. A Lei Fundamental está completando 75 anos. A gente avançou bastante no respeito às pessoas, aos direitos humanos.