Durante missa na localidade de Pinhal Alto, em Nova Petrópolis, o bispo emérito Dom Zeno Hastenteufel pergunta quem não fala alemão. Só dois braços são levantados. Um era o meu. Na minha família, sou a primeira geração a perder o dialeto trazido pelos imigrantes que chegaram ao Rio Grande do Sul a partir de 1824. Os outros fiéis na missa eram moradores locais e visitantes da Alemanha. Toda celebração foi em alemão.
Em Nova Petrópolis, além das aulas de alemão nas escolas municipais, o idioma dos antepassados é preservado nas famílias. A cidade da serra gaúcha ainda guarda muito dos costumes, esportes, culinária e arquitetura dos imigrantes germânicos. Desde sexta-feira (1), acolhe um grupo de 19 alemães. A viagem é organizada por Alfred Muders, vereador de Emmelshausen, município de cinco mil habitantes na região do Hunsrück, no sudoeste da Alemanha. A cidade do estado da Renânia-Palatinado é coirmã de Nova Petrópolis.
No grupo de visitantes, estão 14 pessoas que vieram pela primeira vez à região de colonização alemã no Rio Grande do Sul. Chegaram com muita curiosidade para entender como são preservadas tradições já perdidas na Alemanha. A presidente da Rota Romântica, Terezinha Kuhn Haas, explica que os alemães estão em casas de famílias do município, permitindo uma integração maior. Conversei com os visitantes com ajuda da escritora Helena Seger e da professora de alemão Célia Weber Heylmann.
— Aqui ainda se vive o que a Alemanha vivia 30 anos atrás. Os jovens não querem mais a música alemã, só norte-americana. Em relação aos trajes, não se vive mais este costume. Só resta uma bandinha de sopro no município. A juventude deixa as cidades menores, onde eram mantidas estas tradições — resume Muders.
O vereador alemão está em Nova Petrópolis pela sexta vez. Na década de 1970, com surpresa, descobriu que tinha parentes no Brasil. Em 2008, fez a primeira viagem para participar de encontro da família Grings. Questionado sobre o dialeto hunsrückisch, muito falado pelos descendentes de imigrantes no Rio Grande do Sul, disse que só as gerações mais velhas ainda o preservam na região do Hunsrück.
O alemão Kristian Wolf, que trabalha na área de tecnologia da informação, decidiu retornar a Nova Petrópolis para sua segunda visita. Até agora, não encontrou familiares por aqui. Elogia como os gaúchos ainda mantêm as tradições dos imigrantes, mesmo tanto tempo depois.
— É o máximo saber que pessoas de locais tão distantes ainda conseguem se comunicar em alemão. As danças e as músicas folclóricas estão desaparecendo mais rapidamente na Alemanha — destaca Wolf.
Por uma semana, o grupo de alemães ficará em Nova Petrópolis. No sábado (2), os visitantes participaram da inauguração, no Esculturas Parque Pedras do Silêncio, de monumento para celebrar os 200 anos da imigração alemã no Brasil. O prefeito de Nova Petrópolis, Jorge Darlei Wolf, brinca que, além da cerveja, os visitantes gostam muito da caipirinha e do churrasco.
Em agosto, um grupo gaúcho retribuirá a visita. Em uma rótula de acesso a Emmelshausen, será inaugurado monumento em formato de sapato dos imigrantes.