Os haitianos Loreine Eliassaint, 29 anos, e Donald Chéry, 36, se casaram na manhã deste domingo (10) na Zona Norte de Porto Alegre. Foi o primeiro casamento do ano na Igreja Pentecostal Assembleia de Deus - Ministério Restauração, na região do Porto Seco, que realiza ações sociais para apoiar e acolher a comunidade de migrantes na Capital. Para celebrar o casamento, Loreine e Donald tiveram que obter certidões de nascimento traduzidas para o português e declarações de estado civil, documentos que nem sempre os migrantes conseguem obter.
Segundo o assessor para assuntos de Migração e Povos Indígenas da Secretaria Extraordinária do Trabalho e Qualificação Profissional da Prefeitura de Porto Alegre, Mario Fuentes Barba, a falta de condições de trazer os documentos ao se deslocar e as dificuldades de comunicação no local de origem fazem com que os migrantes tenham dificuldade para casar no Brasil. Alguns cartórios, também, desconhecem as regras da Lei de Migração, que permitem a celeridade na celebração. A estimativa é de que, atualmente, há mais de 30 mil migrantes de 52 nacionalidades morando em Porto Alegre.
Loreine e Donald namoraram à distância por cinco anos. Ele trabalha com construção civil e deixou o país de origem em 2016; ela veio para o Brasil em 2021. Eles haviam se conhecido antes disso na cidade de Saint Marc, no Haiti. Ambos migraram pelo mesmo motivo: a busca por melhores condições de vida.
O casamento foi comemorado por parentes, amigos e demais membros da comunidade de haitianos na Capital gaúcha, bem como outras pessoas que congregam na igreja. Cerca de 100 pessoas prestigiaram o evento.
— Foi muito importante conseguir fazer a cerimônia. O sentimento é de gratidão a Deus por estar celebrando esse casamento — diz Donald.
Foi um típico casamento haitiano, com muita música e cores. Tradicionalmente, na cerimônia, os convidados usam uma cor para ornar com o branco. Neste caso, a noiva escolheu o verde-água, cor usada pelas mulheres da família dos noivos. No caso dos familiares homens, eles usaram gravatas verde-água para combinar.
A cantoria ficou a cargo de integrantes do coral da igreja. O evento também contou com banda, com direito a bateria, baixo e teclado. Na ocasião, também foi batizada Rose, de dois anos, a filha do casal. Após a cerimônia foi o momento de confraternização: amigos e familiares se reuniram para comer na residência do casal, que mora no bairro Rubem Berta.
Quem conduziu a cerimônia foi o cientista Pascal Silas Thue, de Camarões, que vive no Brasil desde 2014 e congrega na igreja. Poliglota, Silas contribuiu para que brasileiros e estrangeiros pudessem acompanhar a cerimônia, falando em português e em crioulo haitiano. Segundo Silas, a igreja Ministério da Restauração conta com um departamento de apoio aos estrangeiros para proporcionar oportunidades de desenvolvimento, orientar e acolher os migrantes.