Aos 38 anos, o haitiano Miracien Arthur pode tranquilamente ser confundido com um brasileiro e, mais especificamente ainda, com um legítimo porto-alegrense. Com pronúncia perfeita do português, reconhece e entende até as gírias.
Em maio de 2014, ele deixou a família e os amigos em Saint-Marc, para tentar a vida em outros pagos.
— No Haiti, a crise estava grande, depois houve o terremoto e o furacão — recorda Arthur, que trabalha como garçom na Churrascaria e Galeteria Komka, no bairro São Geraldo, onde também mora.
No Haiti, Arthur se dedicava à computação e estudava Direito e Assistência Social. Como a situação era delicada no país, decidiu fazer as malas. Conforme conta, um amigo dele já estava em Porto Alegre, o que serviu como motivação para sua viagem. Quando chegou, primeiro viveu no bairro Guajuviras, em Canoas, na Região Metropolitana.
A adaptação à língua portuguesa foi a parte mais difícil neste processo. Mas Porto Alegre e os porto-alegrenses arrebataram o coração do imigrante, que diz estar perto de obter a dupla cidadania:
— Aqui onde trabalho é como uma família. Amo todo mundo, assim como todo mundo me ama.
Nas horas de lazer, o haitiano gosta de fazer passeios por praças e dividir uma cervejinha, entre um bate-papo e outro, com os amigos gaúchos.
— Não sou uma pessoa que sai muito, gosto de ficar em casa. Nas segundas-feiras, saio com os colegas do restaurante para almoçar e tomar uns traguinhos — resume, confessando que tem o sonho de conhecer Gramado, na Serra.
Além dos pais, que trabalham como agricultores no Haiti, Arthur deixou a ex-esposa e três filhos no país. Visitou apenas uma vez os familiares, durante um mês em 2015. Segundo compartilha, se voltar, corre o risco de ser sequestrado em Porto Príncipe (capital do país), e os bandidos exigirem dinheiro por sua libertação.
— Não tenho dinheiro, se me sequestram vão me matar. Tem muita gangue, especialmente em Cité Soleil, que é um lugar bem perigoso — comenta.
Na Capital, Arthur namora, mas não vive junto da companheira. Entre as paixões, estão o churrasco, que come diariamente por trabalhar no Komka, e o Inter, o time que escolheu para torcer.