Abrir as portas de casa para um desconhecido fazer uma série de perguntas sobre renda, nível de escolaridade e outras questões pode ser invasivo para muitos. Em se tratando do Censo 2022, é fundamental para que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) produza um panorama atual da população brasileira, ainda mais porque a última pesquisa é de 2010.
Nesses 12 anos, o Brasil passou por diversas transformações sociais e econômicas, ressalta o professor de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Roberto Rodrigues Soares, o que torna fundamental a participação maciça da sociedade. Quem não quiser responder presencialmente, tem opções de escolha que facilitam a participação.
— Nessa última década, tivemos mudanças em relação ao mundo do trabalho, mudanças que indicam uma revolução tecnológica. Detectar o nível de escolaridade da população é importante, porque as profissões exigem cada vez mais das pessoas. Também vemos mudanças no perfil de escolaridade, com as políticas de ações afirmativas, que garantem maior participação de negros e indígenas — diz o professor.
Atualizar os dados do Censo ajuda a embasar políticas públicas que possam auxiliar no enfrentamento de problemas históricos, como o analfabetismo, e mesmo de novas demandas, como o envelhecimento da população.
— Lá na década de 1970, nosso país era de muitos jovens e crianças. Agora, temos muitos idosos, e precisamos de outro tipo de assistência, outros tipos de profissionais, como fisioterapeutas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há pequenos municípios que estão se esvaziando, porque os jovens migram para as cidades grandes e só sobram os mais idosos — observa Soares.
Mas o Censo não contribui apenas para a formulação de políticas públicas, observa Luís Eduardo Puchalski, coordenador operacional do Censo no Rio Grande do Sul. A iniciativa privada também pode se beneficiar dos dados presentes no questionário, como o que indica o nível de escolaridade de uma população.
— Quando uma indústria deseja se instalar, vai pesquisar as regiões do Brasil cujos habitantes têm alto nível de escolaridade. E isso está no Censo. Outro exemplo: qual é a renda média do bairro Menino Deus, em Porto Alegre? Essa informação está no Censo e vai ajudar um comerciante que deseja abrir um negócio no Menino Deus — exemplifica Puchalski.
A legislação brasileira permite multar quem se recusa a colaborar com o Censo. Mas não é hábito do IBGE punir quem se opõe a prestar esclarecimentos. Mesmo que uma pessoa que se negue a responder ao questionário não esteja sujeita a sanções, ela vai, na avaliação de Puchalski, prejudicar que o diagnóstico da população brasileira, com suas velhas e novas necessidades, seja feito com precisão.
— Se coisas melhores podem vir a acontecer no Brasil, isso depende de um bom diagnóstico que deve ser feito, que, por sua vez, depende da participação da população — reitera.