A estudante de História Luciana Machado, 26 anos, se esparramava em uma poltrona do campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) na manhã desta quarta-feira (6) quando foi surpreendida por um grupo de crianças que perambulavam pela universidade distribuindo abraços.
Eram os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Marista Champagnat mostrando às pessoas como o dia pode ficar melhor com pequenas atitudes de gentileza. Luciana deixou de lado o livro Primo Basílio, de Eça de Queirós, e se rendeu aos abraços.
— Eles chegaram bem empolgados. Não é comum ser abraçada assim, do nada. Talvez isso não mude a vida das pessoas, mas certamente muda o dia — disse.
A turma da professora Clarissa Petersen iniciou o semestre em polvorosa, com dificuldade de relacionamento. São estudantes de seis anos que, além de terem sido privados do convívio social durante a pandemia, recém entraram em uma escola, onde estão aprendendo a dividir uma mesma sala de aula com mais de 20 colegas.
Ao lerem o livro infantil Gentileza, de Alison Green, foram convidados a elaborar uma ação em que poderiam praticar a atitude de ser espontaneamente afável com o próximo, sem esperar algo em troca. O resultado é que começaram a ser mais cordiais entre si.
— Eles tinham questões de adaptação para serem trabalhadas no retorno à sala de aula. Estavam desacostumados, pois ficaram muito tempo em casa, sozinhos. Agora, estão mais gentis entre eles. Ajudam os colegas, são solidários. E costumam avisar quando alguém sai da linha: "Olha a gentileza" — conta a professora.
A gentileza acaba estimulando até a generosidade, como conta o aluno Enzo Volpato, seis anos:
— A gente está se emprestando mais as coisas, tipo os brinquedos — diz.
Outro alvo dos abraços da turma foi Edileny Lima de Souza, 37 anos, que trabalha no departamento financeiro acadêmico da PUCRS. Natural de São Tomé e Príncipe, ilhas que pertencem à África Ocidental, ele estava acostumado ao calor de seu povo, que, segundo conta, é mais receptivo ao toque físico do que os brasileiros.
Para Edileny, um abraço é demonstração de empatia, um sinal de que é possível se abrir para o outro.
— A sociedade está com carência desse tipo de atitude. As pessoas estão com dificuldades... Quando a gente recebe um abraço, é um conforto. E eu retribuo todos os dias que chego no meu trabalho. E eu sou grande, dou abraço de urso — disse.
Esta foi a primeira ação de gentileza dos alunos do 1ª ano do Ensino Fundamental do Colégio Marista Champagnat. Nos próximos dias, mais pessoas irão receber abraços espontâneos enquanto estiverem cumprindo seus compromissos pelo campus da PUCRS.