As irmãs gêmeas Alice e Aline foram separadas logo após o nascimento, em 2017, quando ainda estavam na maternidade de Feira de Santana, na Bahia. No entanto, a ação de um casal as uniu novamente quase três anos depois: em 11 de julho de 2020, Alice e seus pais foram buscar a irmã que estava em um abrigo para adoção em Teixeira de Freitas, também na Bahia. As informações são do portal UOL.
Elas são filhas biológicas de um casal de nômades. Alice nasceu com uma anomalia na laringe, chamada de laringotraqueomalacia, e, por isso, passou por um procedimento cirúrgico e ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Aline nasceu saudável e recebeu alta com a mãe biológica, logo após o parto. Desde então, o paradeiro delas era desconhecido, pois a família não tinha endereço fixo.
Alice teve alta após três meses, mas continuou internada porque a família biológica não foi encontrada durante o período e nunca a visitou. Após buscas sem sucesso, a Justiça informou que a menina seria levada para um abrigo de adoção. Mas a situação foi considerada inadequada pela equipe do hospital, considerando que a criança precisava de cuidados adequados por conta da traqueostomia que havia feito.
Ana Cristina de Jesus Santos Almeida, 31 anos, é assistente social do hospital onde as gêmeas nasceram e, ao saber da situação de Alice, comentou com o marido Júlio Ramos de Almeida Neto, 34 anos. O casal então decidiu adotar a menina e entrou com o pedido de guarda em julho de 2018. A autorização saiu em setembro do mesmo ano.
— Eu soube de Alice durante o trabalho. Quando a vimos, foi amor à primeira vista e demos entrada no pedido de guarda. Após a autorização, eu e meu marido passamos duas semanas na UTI do hospital em um processo de adaptação para aprender a aspirar, limpar e manusear a cânula da traqueostomia. Além disso, precisávamos saber atender às necessidades que nossa filha precisava, como medicação, fisioterapia e acompanhamentos médicos — recorda Ana Cristina.
Reencontro com Aline
Em setembro de 2019, a outra menina foi encontrada pelo Conselho Tutelar de Teixeira de Freitas em situação de vulnerabilidade social, com comprovação de maus-tratos e, por isso, foi encaminhada para um abrigo. A equipe do conselho logo entrou em contato com Ana Cristina e Júlio para informar o paradeiro de Aline, já que a Justiça dá prioridade para que irmãos fiquem juntos quando são colocados para adoção.
Quando soube da notícia, a assistente social — que na época estava grávida de seu primeiro filho biológico — decidiu ficar com a menina.
— Sempre procurávamos notícias de Aline e da família, mas ninguém sabia. Acreditávamos que Alice gostaria de saber da origem dela quando ficasse maior. Foi um choque aquela ligação (do Conselho Tutelar), e não consegui dizer não — explica Ana. — Tive uma gestação dupla, a do Pedro, já que estava grávida, e a da Aline, com a espera da autorização da Justiça para ela morar conosco. Reformamos o quarto de Alice com o berço de Pedro e a cama de Aline porque sabíamos que ela ia chegar para nós. Só não sabíamos quando a Justiça iria autorizar.
A solicitação de guarda da menina foi protocolada ainda em 2019, e a autorização de custódia provisória foi concedida 11 meses depois. Nesse período, Aline permaneceu no abrigo sendo acompanhada pelo Conselho Tutelar, o filho biológico do casal nasceu e eles preparavam Alice para a chegada da irmã gêmea.
O reencontro presencial entre as irmãs ocorreu em 11 de julho, e foi marcado por emoção, carinho e amor. O momento foi filmado e, no vídeo, Alice aparece se aproximando de Aline, que estava com uma funcionária do abrigo, e acariciando seu rosto.
Atualmente, as meninas têm dois anos e 11 meses e, de acordo com os pais, as semelhanças entre elas não estão apenas na aparência: elas têm o mesmo gosto alimentar e estilo musical.
— Nesses quase três anos, as duas tiveram vidas diferentes, mas o laço não foi quebrado, graças a Deus. Gostam das mesmas comidas, adoram dançar, têm preferência pelo mesmo estilo de música. É incrível a ligação que elas têm. Elas cuidam uma da outra, se amam muito e são muito cúmplices — conta Ana, ressaltando que Aline se adaptou rápido à rotina da casa e ao convívio com os irmãos.
Casal passa por dificuldades financeiras
Os processos de adoção das gêmeas ainda estão na fase da guarda provisória, pois, devido à pandemia de coronavírus, não foi possível fazer a solicitação da guarda definitiva. Ana Cristina e Júlio são casados há nove anos e contam que não planejavam ser pais biológicos ou adotivos até Alice aparecer.
— Não pensávamos em filhos até conhecermos Alice. Nunca planejamos ser pais biológicos e adotivos, nem imaginávamos que teríamos gêmeas. Tudo foi acontecendo. Passamos de uma filha para três num curto espaço de tempo, de menos de um ano. Temos uma rede de apoio dos nossos pais, familiares e amigos para nos ajudar a cuidar das crianças. O Pedro tem três meses e Alice requer muitos cuidados devido à saúde — relata a mãe.
Júlio está sem emprego fixo desde o começo do processo de adoção de Aline, mas o casal garante que, mesmo diante das dificuldades financeiras, não se arrepende de nada e que dará amor e uma família para Aline, assim como dá para Alice e o caçula Pedro.
— Pensamos assim: onde come um, comem dois, comem três, e não tivemos medo de não darmos conta. Entregamos a Deus. Estamos recebendo ajuda de familiares e amigos. Nosso apartamento é pequeno, mas cabe todo mundo. Neste momento, recebemos ajuda de mão de obra da família, pois é a principal neste momento de pandemia, principalmente porque Alice é mais frágil por conta da traqueostomia — explica Ana.
Para auxiliar o casal com as principais despesas das crianças — como fraldas, alimentação e remédios para Alice —, amigos criaram uma rede de solidariedade e abriram uma vaquinha online. A página para doações pode ser acessada por meio deste link.