— É uma experiência inusitada estar de frente para uma múmia tão antiga. Isso é algo que eu via somente pela televisão em documentários ou em desenhos.
Esta foi a impressão do estudante de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Maicon Rambo, 19 anos, ao visitar nesta quarta-feira (12) a exposição Iret-Neferet, a Múmia Egípcia de Cerro Largo-Símbolos e Rituais de Mumificação, no campus central da Universidade. O espanto do jovem não é exagero, afinal, trata-se de uma peça rara, uma múmia que viveu há mais de 2.500 anos no Egito e que teve a origem identificada no mês passado por um grupo de pesquisadores da PUCRS e do estado do Paraná.
A movimentação de curiosos e estudiosos foi grande ontem, no primeiro dia da mostra, especialmente em torno do crânio milenar. Protegido por uma caixa de vidro e confortavelmente aquecido a uma temperatura de 23°C, está acompanhado de outras peças, como cópias dos instrumentos utilizados no processo de mumificação dos corpos — entre elas, ferramentas que auxiliavam a retirar fluídos e órgãos dos corpos. Também é possível conhecer alguns produtos colocados na parte interna dos corpos, como cera de abelha, utilizada para tampar os ouvidos dos mortos, por exemplo.
Essa espécie de viagem no tempo encantou um grupo de cinco estudantes de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que aproveitou a estada de cinco dias na cidade para conferir a exposição.
— É interessante mostrar a história do Egito Antigo, especialmente agora, que perdemos parte do nosso acervo com o incêndio ocorrido no Museu Nacional (no Rio de Janeiro). Eu já fui em exposição desse tipo, e acho importante porque também nos instiga a querer pesquisar mais sobre o assunto — avalia o estudante Gabriel Rohr, que pretende dedicar a vida a estudar a história das regiões da Palestina e de Israel.
Uma mulher com cerca de 42 anos
Batizada de Iret-Neferet (olho bonito, em egípcio antigo), pesquisadores descobriram que a cabeça da múmia pertencia a uma mulher com cerca de 42 anos, que vivia na região do Vale dos Reis, no Egito, entre os anos 768-476 a.C. Ou seja, foi contemporânea da personagem bíblica rainha Ester.
Apesar de ter sido identificada somente agora, ela já pertencia ao acervo do Museu 25 de Julho, na cidade de Cerro Largo, no noroeste gaúcho, desde a década de 1970. Ela chegou em solo gaúcho por meio de uma doação e lá ficou por muitos anos, até que, em 2017, Édison Huttner, coordenador do Grupo de Identidade Afro-egípcias da PUCRS, foi convidado por Guido Henz, então diretor do museu, a conhecer o crânio.
Eder Huttner, doutor em Geolontologia Biomédica cirurgião buco-maxilofacial, afirma que, pela análise dos dentes da múmia, é possível fazer outros apontamentos. Por exemplo, o fato de ela ter conservado apenas nove dentes na boca é um indício de que Iret-Neferet fazia parte de uma classe mais abastada da sociedade egípcia, já que, na região em que ela morava, foi onde começou a manufatura de amido.
— Como ela tinha muitas cáries nos dentes, significa que ela tinha poder aquisitivo para ter acesso a esse tipo de alimento, algo que não era comum para a maioria dos cidadãos da época — diz Huttner.
Outra etapa que será estudada pelos pesquisadores é genealogia da múmia:
— Na Alemanha, tem um banco com dados de diversas famílias de múmias. Agora, queremos encontrar quais os possíveis parentes que ela tem por meio de análise de DNA.
A EXPOSIÇÃO
- O quê: exposição Iret-Neferet, a Múmia Egípcia de Cerro Largo-Símbolos e Rituais de Mumificação
- Quando: De segunda a sexta-feira, das 7h35min às 22h50min, sábados, das 7h35min às 17h30min, até 26 de julho.
- Local: Espaço Cultural da Biblioteca Irmão José Otão, no Campus Central da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6.681)
- Entrada gratuita