Um dos astrólogos mais conhecidos do Brasil, o paulista João Carlos de Almeida, o João Bidu, habita há décadas os mostruários de produtos nos caixas de supermercados e as bancas com revistas que estampam seu nome e sua foto. Apesar da crise do mercado editorial, a “grife” João Bidu ainda é muito presente, indissociável das publicações populares que oferecem previsões para o amor, o trabalho e a saúde. Antes um produto para o público feminino, hoje o horóscopo é buscado também pelos homens, constata o autor.
GaúchaZH conversou com o simpático “horoscopista” – como Bidu era chamado no início da carreira – sobre sua trajetória, a crença de leitores nos desígnios revelados pelos astros e a sua relação pessoal com as mensagens enviadas pelos satélites e planetas.
Sua aproximação com a astrologia começou no rádio. Como foi?
Aos dois anos e meio, tive poliomielite. Não podia brincar com a molecada nas peladas lá na vila onde a gente morava. Embora com limitações, tive uma infância bastante divertida, alegre, caçava passarinho... Hoje nem passa pela nossa cabeça caçar passarinho! Onde já se viu? Brincava com a molecada para lá e para cá, mas na hora de jogar futebol não dava, não tinha condições de correr como eles. Aí resolvi ficar na beira do campo, como se transmitisse o jogo. As pessoas me incentivavam. A partir dos 15 anos, comecei a trabalhar em uma rádio em Bauru (SP) fazendo comentários sobre futebol varzeano. A carreira evoluiu, tive a oportunidade de começar a transmitir. Minha paixão sempre foi ser locutor esportivo. Aí fui para a Auriverde, onde estava feliz da vida, era uma rádio de boa audiência, reunia os grande profissionais da área em Bauru. Então o sócio-diretor da emissora resolveu criar o João Bidu, pegando o João do meu nome e o Bidu de uma gíria que já tinha passado, que significava “adivinhão”, “claro”, “lógico”. Achei que não daria certo porque não tinha intimidade com astrologia. Ele me tranquilizou dizendo que eu seria apenas o apresentador de um programa astrológico, em que o astro principal era o Omar Cardoso, naquela época o maior astrólogo do Brasil. O João Carlos de Almeida narrava futebol, e o João Bidu falava de astrologia. Eu fazia uma voz um pouco diferente, enganava o povo, né (risos)?
E quando o senhor começou a fazer seu próprio horóscopo?
Me empolguei, fui atrás de livros, peguei os anuários do Omar Cardoso, descobri rapidinho o esquema de casas astrais, os signos que combinam, os signos que não combinam, e, com outros livros, aprimorei meus conhecimentos. Em 1974, o Omar foi contratado pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo, que tinha uma rádio em Bauru. Virei o horoscopista. Me deram o nome de Professor João Bidu. João Bidu era um nome muito popularesco e talvez não passasse credibilidade. E assim foi. Deu certo. Fizemos sucesso, a audiência continuou boa também. Com a morte do Omar Cardoso, as emissoras ficaram órfãs de um astrólogo. Naquele tempo, todas as grandes emissoras tinham o horóscopo na parte da manhã. Comecei a fazer programas para várias emissoras do Brasil.
O que a astrologia pode prever?
É uma ferramenta que sempre pode ajudar a pessoa a se conhecer melhor em termos de personalidade, principalmente quando você levanta o mapa astral, trabalhando com mais elementos, não só o signo solar que todo mundo conhece, mas com o signo ascendente, que está ascendendo no horizonte, no lado em que o sol nasce, e a distribuição dos planetas. Os planetas são muito importantes. Às vezes, a pessoa é do signo de Áries, mas tem uma influência grande de planetas no signo do ar, então ela vai ter características arianas, evidentemente, mas vai ter também uma forte influência dos signos do ar, que são Gêmeos, Libra e Aquário, que têm muita criatividade, poder de adaptação, facilidade de relacionamento, inteligência. Mas o público vê a astrologia, no fundo, como um guia para desvendar o futuro, para saber o amanhã. Todos valorizam essa parte da personalidade, que bate mesmo, mas, na verdade, a grande procura é pelo horóscopo, aquilo que pode acontecer amanhã, no ano ou no mês.
O horóscopo não se aplica (a milhões e milhões de pessoas). A gente faz uma previsão genérica. Vai acontecer com uns, não vai acontecer com outros. Tem uns que leem com fanatismo, como se fosse religião, tem gente que só dá uma passadinha e não se impressiona muito. Mas não tem como uma previsão que sai no jornal, na revista ou na televisão acontecer para todos. É uma dica, uma mensagem para tentar ajudar.
JOÃO BIDU
Astrólogo
Certamente muitas pessoas condicionam suas ações ao que leem. Que alerta o senhor daria a elas?
Tem gente que precisa daquela mensagem astrológica como se fosse uma muleta, um apoio. Normalmente, quem procura astrologia é a pessoa que está sem amor. Tanto que a astrologia, nas revistas, era um produto muito mais voltado para as meninas que tinham aquele sonho de encontrar o príncipe encantado. A partir do momento em que elas se casavam, deixavam as revistas de horóscopos porque já tinham realizado o sonho. Hoje as coisas mudaram.
Como se deve ler um horóscopo?
O que está ali é uma dica, porque é muito genérico. Quando você está analisando o signo de Áries, e Júpiter está em Sagitário, Júpiter está então na nona casa astral de Áries. Provavelmente, as possibilidades são de que você tenha surpresas ou contatos com pessoas de longe, estrangeiras, assuntos relacionados a importação e exportação, uma influência muito grande da religião em sua vida, senso de justiça ou alguma coisa relacionada ao lado judicial. Evidentemente que isso é muito genérico e não vai acontecer com todo mundo, mas acredito que deve acontecer com muita gente. Falo que “deve” porque nunca fizemos uma pesquisa para saber. Caso contrário, há muito tempo a astrologia já teria sido banida, varrida para baixo do tapete.
Isso sempre me intrigou: como acreditar que seja possível que uma mesma previsão de horóscopo se aplique à vida de milhões e milhões de pessoas que o leem num mesmo dia?
Não se aplica. A gente faz uma previsão genérica para todo mundo. Todo mundo lê. Vai acontecer com uns, não vai acontecer com outros. Tem uns que leem com fanatismo, como se fosse religião, tem gente que só dá uma passadinha e não se impressiona muito. Mas não tem como uma previsão que sai no jornal, na revista ou na televisão acontecer para todos. É uma dica, uma mensagem para tentar ajudar. Acredito que, quando consigo dar uma ajudinha para uma pessoa que vai tomar uma decisão, o trabalho já está valendo a pena. Está gratificado.
O senhor e eu somos escorpianos. Quais as características desse nosso signo de tanta má fama?
Você é minha irmã astral. Realmente, Escorpião tem fama de ser violento, agressivo. É governado por Plutão, mas era governado por Marte. Depois foi descoberto Plutão, e hoje se descobriu que Plutão nem planeta é... Na verdade, Escorpião tem muita coisa de Áries, é realmente uma pessoa agressiva, impetuosa, precipitada, que nem sempre pensa para fazer as coisas, se entusiasma à primeira vista, pela primeira impressão. Mas é também uma pessoa muito emotiva, de coração generoso e que tem uma capacidade de transformar muito grande, de regeneração. Escorpião está ligado à oitava casa astral, aquela que tem relação com reorganização, reciclar, pegar alguma coisa e dar um visual diferente, transformá-la em algo mais atraente e, com isso, fazer sucesso. Me considero uma pessoa muito precipitada.
O senhor faz previsões para si mesmo?
Faço. Quando vou realizar algo importante, sempre dou uma olhada, mas nunca deixo de fazer as coisas, mesmo quando a influência está negativa, só que aí tenho que redobrar a atenção. Não gosto de fazer as coisas no meu inferno astral, que são os 30 dias que antecedem o aniversário. Meu aniversário é 8 de novembro, então, de 8 de outubro a 8 de novembro, sempre tento evitar fazer as coisas. Mas ano passado tive um assunto muito importante, não tive como fugir, e graças a Deus deu certo. O inferno astral é um período perigoso, exige atenção especial, a pessoa pode estar desmotivada, um pouco deprimida, mas os 30 dias de inferno astral costumam trazer também surpresas muito positivas.
Pelo que vejo, as pessoas acreditam muito em inferno astral, né? Bastante. Acreditam muito mais no inferno astral do que no paraíso astral. O paraíso astral é o quinto signo contando com o nosso. Por exemplo, para você que é de Escorpião: Escorpião (1), Sagitário (2), Capricórnio (3), Aquário (4), Peixes (5). Peixes é o seu paraíso astral. Teoricamente, há mais alegrias, prazer, vitórias e sorte no paraíso astral. Não sei por quê, mas as coisas ruins acontecem com mais facilidade. Pela minha experiência, já vi que muita coisa que está prevista no inferno astral acontece. E muita coisa que está relacionada ao paraíso astral acaba não acontecendo.
Este é um ano de Marte. Ano de Marte normalmente é um ano de guerra, de competição. As pessoas podem usar muito a força, e nisso podem se machucar. Então, recomenda-se prudência em 2019.
JOÃO BIDU
Astrólogo
Seu site tem uma seção chamada “Pergunte ao João Bidu”. Que tipos de histórias aparecem ali?
Comecei a falar de sexo no rádio e lembro bem que tive que parar porque um dia um amigo meu falou: “Pô, João, você me deixou constrangido. Estava levando minha menina para o colégio e você falando de sexo”. Pensei, vou tirar essa seção do ar. Eu já tinha virado um conselheiro sentimental, e de repente também me vi na condição de conselheiro sexual. Mas aí o dono da rádio me perguntou por que eu parei de falar de sexo. Expliquei. “Não, pelo amor de Deus, João, esse povão não tem informação! Você dava dicas importantes.” Aí avisávamos, “daqui a cinco minutos vamos apresentar a seção sobre sexo”, e a pessoa que estava ouvindo poderia trocar para não ficar constrangida. No “Pergunte ao João Bidu” aparece tudo o que você imaginar: a mulher que descobriu que o marido era gay, a mulher que gosta de um e está saindo com outro, a mulher que descobriu que o marido tem uma amante mas ela gosta dele e não sabe o que fazer – este caso é até recente.
O que o senhor recomendou nesse último caso?
Se o homem teve esse caso foi porque, evidentemente, pintou uma grande atração. Então está faltando alguma coisa na relação dela. Se ela acha que pode recuperar e, principalmente, perdoar, o que é muito difícil, para não viver sempre com aquele fantasma na cabeça, então vale a pena tentar novamente. Na hora de responder, nunca gosto de decidir pela pessoa. Gosto de deixar para que ela tome a decisão. Dou uma opinião. Só que sei que é perigoso. Ela vê a minha resposta e, às vezes, quer fazer exatamente do jeito que estou falando, porque acha que eu sei tudo, que estou trabalhando com os astros e sei o que é melhor para ela. Às vezes, ela não consegue separar uma coisa da outra. Trabalho com público de diversas classes sociais, muitas são pessoas com pouquíssima informação.
Você também analisa sonhos. Quais os mais comuns?
Sonho com morte, que na verdade não significa a morte física, mas muito mais a ruptura de alguma coisa, de uma amizade, de um pensamento. Sonhar com cobra... A cobra é muito interpretada como traição, mas acho que é uma interpretação errônea dos antigos. A cobra não é um animal traidor, ela só reage quando se sente acuada, assustada. Antigamente, a cobra também era sinal de saúde. Conforme a cor da cobra, tem um significado. Sonho com sangue significa que algo de extraordinário vai acontecer em sua vida, modificando-a para melhor. As pessoas têm muito medo de ver sangue, mas o sangue também é vida. Sonho com traição também tem bastante. “Será que ele está me traindo realmente?” Sempre falo que o sonho tem várias funções. Muitas coisas que acontecem nos sonhos refletem nossos medos e nossos desejos. Se a gente tem medo de alguma coisa, é provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe sonhando com aquilo. Ao mesmo tempo, quando a gente deseja muito uma coisa e não a consegue na vida real, muitas vezes a gente acaba sonhando com aquilo, realizando a fantasia no sonho. Segundo os estudiosos, isso serve para dar paz para nossa alma, para a gente aguentar as batalhas do dia a dia.
Quais as principais características astrológicas de 2019?
O que se pode dizer deste ano?É um ano de Marte. Ano de Marte normalmente é um ano de guerra, de competição, de muita luta. Marte é o planeta mais guerreiro, tem força, uma força às vezes até descomunal. As pessoas podem usar muito a força, e nisso daí podem se machucar e se dar mal. Então recomenda-se ter certa prudência, moderação em 2019. Usar a vitalidade, sim, usar a força física e mental, sim, mas com moderação, para não criar problemas em vez de encontrar soluções. Isso serve para todos os signos de modo geral, só que para cada signo depende da casa astral em que Marte está. Para você, de Escorpião, Marte representa a sexta casa astral, que tem relação direta com saúde e trabalho. Esses dois setores estarão protegidos e iluminados e podem lhe trazer muitas alegrias, mas vai depender muito da força que você imprimir, da impetuosidade, do jeito que você se dedicar a isso. Até porque tem aquele velho ditado: quem vai com muita sede ao pote acaba se afogando. É um ditado que serve muito para o ano de 2019. Tem que saber usar a força, é uma energia poderosa, mas às vezes ela constrói e às vezes ela destrói.
Do amor, para o meu ano, o senhor não falou... Não está em alta, pelo jeito.
Marte é o planeta do sexo, da paixão, muita paixão, mas que não significa casamento, relação forte e duradoura. Paixões devem explodir muito, não só para você, de Escorpião, mas para todas as pessoas de um modo geral. Marte tem relação direta com a paixão, enquanto Vênus, que é o planeta do amor, fala mais da parceria, de um relacionamento mais sério que pode se transformar em casamento.
Tenho que me cuidar, então (risos).
Sem dúvida alguma, porque pode ir com muita sede ao pote. E, geralmente, no amor, na paixão, quando a gente fecha os olhos e vai com tudo, aí é que a gente leva algumas boladas nas costas. Tomara que não aconteça nem com você, nem comigo (risos).
Dependendo do que acontecer, então, vou pedir uma orientação para o senhor. E para o Brasil, o que se pode antecipar deste 2019?
O Brasil é do signo de Virgem (por conta da data de sua Independência, em 7 de setembro), e Virgem não está em um ano astral dos melhores, não. Marte representa a oitava casa astral, que é transformação, regeneração, essa parte é muito boa, oportunidade de transformar muita coisa, mas, ao mesmo tempo, pode haver também de perdas financeiras, principalmente em assuntos ligados a empréstimos, aposentadorias, consórcios, heranças, legados. Alguma coisa nesse sentido pode acabar tumultuando a vida do país. Júpiter está transitando em Sagitário, e, sempre que um planeta transita pelo signo que rege, sua influência é muito maior. Júpiter governa a nona casa astral, que é o mundo exterior, o internacional, então é bem provável que o mundo passe a olhar o Brasil de maneira diferente e que o Brasil consiga também atrair muitos investimentos estrangeiros. Isso vai ajudar a economia.
O senhor tem 71 anos de idade e 46 de carreira. Gerações acompanharam o seu trabalho. Pensa em parar?
Não, não penso. Enquanto Deus me der saúde... Tenho 71 anos, mas não lembro que tenho 71 anos (risos). Para mim, é como se eu tivesse 50. Tem certas coisas que, evidentemente, não são a mesma coisa, mas como não lembro que tenho 71 e convivo com muita gente jovem, acho que isso me fortalece, me rejuvenesce para eu continuar trabalhando.
As previsões para João Bidu, então, são boas, favoráveis?
São favoráveis. Pelo menos o entusiasmo continua o mesmo de quando comecei.