Em uma semana, a analista de marketing Fernanda Faertes, 26 anos, cancelou por três vezes seguidas a conversa com GaúchaZH. Motivo: precisava finalizar tarefas ou participar de reuniões na empresa de tecnologia em que trabalha, em Porto Alegre. Ela não tem rotina 100% fixa – como é cobrada por tarefa, e não por bater ponto, a liberdade de horário permite que chegue a hora em que quiser no escritório. Ao mesmo tempo, a carga de horário diária pode variar de oito a 12 horas. Detalhista e muito exigente consigo mesma, é capaz de retocar projetos à noite ou mesmo no fim de semana. Lida com grandes responsabilidades, por vezes se estressa. Mas ama profundamente o seu trabalho, sente-se plenamente realizada e não consegue imaginar outro jeito de viver.
— Amo o que faço. Me considero workaholic porque, acima de tudo, gosto muito de trabalhar e acredito que isso faz bem para a minha cabeça e para o meu bem-estar. Grande parte da minha felicidade está vinculada a ter sucesso no trabalho, que se mistura com minha vida pessoal. Sou muito exigente comigo mesma e, às vezes, tenho dificuldade em “largar o osso”, o que pode me gerar estresse. Mas aprendi a dosar, não me considero mais aquela pessoa ultraestressada que já fui — reflete.
Workaholic, o viciado em trabalho, é, para a Sunbrand, a pessoa que destina à vida profissional grande foco de energia e associa a própria autoestima à carreira. Por consequência, a profissão ocupa grande espaço em sua rotina. Os colegas da firma são também amigos, o happy hour do escritório é sempre divertido, o tempo livre é oportunidade para falar sobre o que aconteceu durante a jornada ao longo do dia. O indivíduo se estressa, sim, com a pressão que exerce sobre si – no entanto, ao pesar a balança, chega à conclusão de que é mais feliz dessa forma do que se rendesse pouco.
— O termo “workaholic” foi cunhado na virada dos anos 1980 como símbolo da geração X, ligado a Wall Street e à acumulação de bens. Ele simplesmente precisa trabalhar. É uma pessoa que trabalha ensandecidamente em busca de sucesso. Tem objetivo e quer alcançá-lo — diz o publicitário João Satt, presidente do G5.
Grande parte da minha felicidade está vinculada a ter sucesso no trabalho.
FERNANDA FAERTES
Analista de marketing, 26 anos
Fernanda confessa: é o tipo de pessoa que fala do trabalho fora do escritório. Mas, afirma, não é obsessiva: após ouvir feedbacks negativos das amigas, parou com o hábito. A analista de marketing avalia que sempre foi workaholic e credita à ansiedade uma possível explicação. Ao mesmo tempo, não acredita que a característica veio de nascença, por conta própria: tudo começou quando entrou no mercado de trabalho.
Já houve momentos difíceis de estresse ao longo da vida profissional, sobretudo quando o trabalho exigia bastante. Felizmente, a situação melhorou na terapia, onde Fernanda desenvolveu uma política de redução de danos: não deixará de relaxar mesmo se tiver muito trabalho. No tempo livre, foca em exercícios, tocar violão, deitar na cama e tomar um chimarrão ou um café com as amigas.
— Nem que eu tenha que sair do trabalho, tomar banho, jantar e pegar o computador às dez da noite: vou fazer isso. Esse ritmo já foi ruim para mim, mas transformei em algo bom quando vi que gosto muito do que faço. O trabalho me faz crescer como pessoa. Quero entregar sempre o melhor. Você pode fazer disso um inferno ou uma virtude, basta entender os limites. Eu estou sempre disponível, mas às vezes digo “chega”. Demorou, é uma construção.
Características por geração
Baby boomer: apesar de aposentado, segue trabalhando cheio de energia, ainda que pensando que um dia precisará desacelerar.
X: trabalha muito e não tem tempo para nada. Na saída durante o horário livre, segue falando sobre trabalho, visto como símbolo de status.
Y: quer ganhar seu primeiro milhão logo, talvez com uma start-up. Gosta muito de tecnologia e inovação.
Z: é blogueiro ou tem canal no YouTube para falar sobre seu estilo de vida.