Não é que Martina Heuser estivesse onde não queria. Trabalhar como gerente de estilo na Lojas Renner, ter um alto salário e viajar todo ano para cidades-paraíso como Barcelona, Nova York e Londres são desejos de grande parte dos profissionais da área de moda. Com apenas 32 anos, já ocupava um lugar de prestígio. No entanto, com o nascimento do filho, Bento, ela passou a ter uma certeza: quanto mais crescesse na carreira, mantivesse o ritmo alucinante e cultivasse o alto padrão de vida, mais difícil seria para desacelerar. Nem a meditação e a yoga davam mais conta. Em março de 2017, promoveu uma vendaval: com o apoio do marido, largou o emprego e virou professora de yoga.
— Quando o Bento nasceu, vi que precisaria mudar de vida. Eu era workaholic, amava meu trabalho. Mas, aos poucos, comecei a me desinteressar. Chegou uma hora em que essa ideia de consumo não fazia mais sentido para mim, ainda que eu gostasse da profissão e amasse meus colegas – conta Martina, hoje com 36 anos e frequentadora mensal de retiros de yoga.
O estudo sobre comportamentos da Sunbrand define como “zen” as pessoas que estão desacelerando. O objetivo delas, assim como o de Martina, é ter uma rotina mais tranquila e com significado. São indivíduos cansados de trabalhar demais ou críticos à forma como está estruturada a sociedade de consumo. Sonham com uma casa na praia ou na Serra e recorrem à astrologia ou à espiritualidade (mudam para o budismo ou hinduísmo, por exemplo) em busca de respostas. Alex do Nascimento, da Sunbrand, diz que o zen “acordou para questões do ser e busca um sentido para a vida e para o mundo através da espiritualidade”.
Depois do vendaval, Martina encontrou, aos poucos, a calmaria de que precisava. Logo que pediu demissão, não podia ouvir falar de moda ou de consumo. Levou tempo até que entrasse novamente em um shopping center. Focou-se exclusivamente nas aulas de yoga e na vida pessoal. O cenário mudou quando a amiga e também professora Valentina Asmus provocou:
Eu era workaholic, amava meu trabalho. Mas chegou uma hora em que essa ideia de consumo não fazia mais sentido para mim.
MARTINA HEUSER
Professora de yoga, 36 anos
— Quem faz yoga só usa roupa bicho-grilo ou de academia. Que tal criarmos uma marca diferente?
Surgiu a Inhale (“inspirar” em inglês), de roupas que se adaptam ao movimento. Hoje, as empresárias contratam costureiras mulheres e de cooperativas, não lançam modelos novos a cada estação e utilizam matéria-prima brasileira, com algodão orgânico e tingimentos naturais.
Quando encontrou GaúchaZH no estúdio onde dá aulas, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Martina vestia uma túnica verde de algodão e um collant de poliamida cor de bronze. É difícil imaginá-la nos tempos de workaholic: a estilista fala devagar. Diz se identificar também com a tribo “green”:
— Tento comer o que for mais natural possível, produzir meu alimento, viajar para a praia ou campo quando posso. Não sei se trabalho menos hoje, mas trabalho com o que sou apaixonada. Tento fugir ao modelo de produção em larga escala. Eu tinha muita necessidade de exercer a espiritualidade, e agora tenho meu tempo para exercer minha prática. Mas sei que sou privilegiada e posso fazer escolhas. Uma pessoa na periferia do Brasil não tem as mesmas condições de meditar. Há muita miséria por aqui para se preocupar com isso.
Características por geração
Baby boomer: participa de grupos voltados ao autoconhecimento e à espiritualidade, pode ter o desejo de morar no interior.
X: busca aulas de ioga, grupos de meditação, realiza retiros espirituais, oferece aos filhos brinquedos próximos à natureza.
Y: deseja morar na praia para levar uma vida mais tranquila e trabalhar no que sempre sonhou.
Z: depende muito dos pais para fugir da cidade, mas vê importância no autoconhecimento.