Há pouco mais de quatro meses, o Conselho Nacional de Justiça publicou regulamentação que concedeu a transexuais e transgêneros o direito de mudar no cartório o nome e o gênero que constam dos documentos, sem necessidade de provar mudança de sexo ou apresentar uma ordem judicial. Receosa de que essa conquista possa ser colocada em xeque em um governo Bolsonaro, a trans Rafaela Rodrigues, 35 anos, tratou de procurar um cartório para realizar a alteração, duas semanas atrás.
— Nos meus documentos, meu nome ainda está como Leonardo, apesar de socialmente ser Rafaela há anos. Entrei com os papéis agora para garantir o direito, porque isso pode mudar — conta.
Encaminhado esse trâmite, Rafaela se mobiliza agora para realizar o casamento com seu companheiro, Edgar Maieski, 34 anos. Os dois são sócios em uma produtora de eventos em Porto Alegre.
— Não estávamos planejando o casamento, mas quando o Bolsonaro começou a ter destaque maior, demandou nossa atenção. Queremos entrar com a documentação ainda nesta semana, se for possível. Temos medo de um retrocesso nos direitos. Ainda lembro que, um tempo atrás, era terrível ser gay e sair na rua, era impossível ir ao centro de Porto Alegre sem ser zoado. Ficou mais tranquilo, mas o ódio e o preconceito continuaram a existir, reprimidos — diz Rafaela.