O tênue limite entre a informalidade e a bagunça foi um dos maiores segredos da vitoriosa Seleção Brasileira campeã mundial em 2002. Se é verdade que supercraques como Ronaldo, Rivaldo ou Ronaldinho deram o suporte técnico à equipe que venceu todos seus sete jogos, o ambiente do grupo ajudou muito. Depois da tensão das Eliminatórias, a relação mais aberta colaborou muito para o fortalecimento daquilo que passou a ser visto como uma família.
Desde a primeira fase, em Ulsan, se notava uma abertura surpreendente na relação da delegação com imprensa e torcida. A consagrada "Família Scolari" não se resumia a jogadores e membros da comissão técnica.
Ela se estendia para jornalistas que circulavam pelos hotéis e conversavam informalmente com atletas, ou torcedores que pediam autógrafos e fotos numa era pré-selfies e eram atendidos. Tornaram-se célebres as rodas de chimarrão com Felipão e seus conhecidos nos saguões dos hotéis. Os treinos não eram fechados havia atendimento em zona mista quase que diariamente.
Tal ambiente estava longe de significar liberdade em excesso para os jogadores. Ali estava um trunfo para cobranças enérgicas do comando da equipe, caso fosse necessária. Não foi. Não há notícia de deslizes de comportamento que pudessem comprometer a harmonia do grupo ou o rendimento técnico. Houve disciplina e harmonia em meio a uma falsa balbúrdia.
Para se ter uma ideia, no gigantesco hotel de Yokohama em que estava hospedada a Seleção Brasileira para a decisão contra a Alemanha, havia uma legião de animadíssimos torcedores alojados, dividindo inclusive o elevador com as estrelas da equipe. Era como a consagração do assédio, sem nenhum tipo de abusos de segurança ou com consequência negativa.
O penta certamente passou por esta convivência próxima de todos os segmentos que gravitam em torno da Seleção. Esta foi a verdadeira "Família Scolari", uma receita que nem o próprio Felipão conseguiu repetir. Nunca mais será visto. Foi algo único e inesquecível para todos.