Quando chegou ao Inter, encantado pela grandeza do clube, Miguel Ángel Ramírez disse que era como ganhar uma Ferrari para pilotar, algo que qualquer profissional deseja e idealiza. Havia sinceridade e razão para um técnico que havia treinado apenas uma equipe de porte médio no Equador, desenvolvendo um excelente trabalho, conquistando uma Copa Sul-Americana e mostrando excelente padrão de jogo.
Quem o contratou por certo acreditou que estava diante de alguém de talento precoce, quase um prodígio, para comandar um processo revolucionário na maneira de jogar do time colorado. Não deu certo. A Ferrari não rendeu, porque o piloto mostrou ser apenas um aplicado motorista, pelo menos por enquanto.
Ramírez é um bom técnico, mas ainda não é ótimo, e era isso que o Inter precisava para cumprir com eficiência a proposta de quebra de paradigmas. Não falta teoria para o treinador. O que ele prega é a modernidade do futebol, mas se mostrou extremamente arraigado a esta teoria e não deu a devida importância para a prática.
Um jovem de 36 anos precisa ter uma conjunção de valores para ter sucesso num ambiente como o colorado. No Beira-Rio, ele está diante de um vestiário que necessita de um líder, seja como técnico ou como atleta. Há uma baixa autoestima pela falta de títulos. É preciso ser, antes de um gênio tático, um gestor de grupo. Só assim novas e diferentes missões podem ser cumpridas.
Como técnico do Inter, Miguel Ángel Ramírez não teve o poder de mobilização do elenco. Outro estrangeiro, Eduardo Coudet, quando saiu, tinha conquistado, e bem, seus subordinados. No caso de Abel Braga, nem se fala.
Talvez os resquícios de Abelão no vestiário tenham atrapalhado a transição para o novo comandante. Os dois são muito diferentes, seja em espírito, carisma ou filosofia de jogo. O espanhol deu mostras de quem subestimou as peculiaridades coloradas, seja dentro do campo ou principalmente fora, uma vez que foi conquistado por um novo e entusiasmado projeto dos dirigentes.
A ele foram dados plenos poderes dentro do vestiário, algo que não se deve fazer com alguém tão novo e desconhecedor do ambiente. Quando a diretoria se deu conta, já era tarde, e a Ferrari pilotada por Ramírez não passou da velocidade de um carro popular.