Iarley mais uma vez deixou o Inter. Desta vez, foi vítima do corte de funcionários promovido pela atual direção para conter custos diante de uma situação delicadíssima das finanças coloradas. É traumático saber que um campeão mundial, exatamente o melhor jogador da decisão, foi demitido da função de coordenador técnico das categorias de base. Não cabe analisar se o clube está certo ou não, mas fica uma situação constrangedora, embora a digna resposta do ex-jogador após o acontecido. Não é de se admirar. Quando saiu do Beira-Rio, ainda como jogador em 2008, matou no peito algo mais duro, quando o presidente de então, Vitório Píffero, usou a expressão "a fila anda" para justificar a negociação do atacante com o Goiás.
Naquela oportunidade Iarley chorou. Desta vez não houve lágrimas, mas palavras resignadas de quem sabe que seu nome nunca será apagado das páginas do maior momento colorado da história. Foi exatamente na viagem do mundial que o então atacante cometeu um dos mais bonitos atos de indisciplina protagonizados nestes recém completados 112 anos do Inter.
A viagem do Inter para o Japão em 2006 foi via São Paulo e Paris. Por um atraso na saída da capital paulista, a conexão na França foi perdida. A delegação que deixaria o aeroporto Charles de Gaulle por volta das 10 horas da manhã precisou ser colocada num voo que sairia no final da noite. Houve a necessidade dos jogadores saírem da área de embarque e desembarque, fazerem imigração para descansarem num hotel durante a tarde. Para os brasileiros da delegação não houve problemas, mas o peruano Hidalgo e o colombiano Vargas precisavam de visto de entrada, algo que não fora providenciado pelo clube que não previu um contratempo destes.
A decisão tomada foi de deixar os dois jogadores no setor de embarque, esperando por aproximadamente 10 horas até que o voo para Tóquio decolasse. Enquanto isso, os demais atletas descansariam. Resolvida desta maneira a situação, Iarley ouviu de um dirigente ansioso que com autoridade o chamou:
— Vamos, Iarley, vamos logo para o hotel que eles vão ficar aqui.
Foi quando o atacante, com dentes cerrados e, visivelmente irritado com o que estava acontecendo, respondeu com a mesma energia:
— Eu não vou a lugar nenhum. Não vou abandonar meus companheiros. Vou ficar aqui com eles.
E ficou
Para quem não conhece Iarley, que fique com este relato. É a síntese daquele que nesta viagem foi muito líder daquele grupo, juntamente com Fernandão e Clêmer e que encerrou a final perpetuando a imagem da retenção de bola diante da ansiedade dos jogadores do Barcelona no final da partida em que o gol do título nascera de seus pés. Só faltou o título de melhor jogador da competição, dado a Deco e reconhecido pelo próprio como injusto.