Poucas vezes uma despedida deixou tão clara a ideia de que haverá um momento de reencontro e que a relação está longe de ser rompida. D'Alessandro anunciou sua saída do Inter a partir do início de 2021 e chegou a dizer que não encerra um ciclo, mas uma história. Mera questão linguística. É aposta de 10 entre 10 pessoas que acompanham a longeva relação de que um novo ciclo ou uma nova história, como queiram, se estabelecerá num futuro talvez não tão distante. Podem se preparar para ver o nome do argentino passar a ser cogitado em cada troca de comando vivida no clube daqui para a frente.
D'Alessandro já tem habilitação para ser treinador. Ele fez o curso oficial da Associação de Futebol Argentino quando voltou ao River Plate em 2016. Aí já está uma porta escancarada e que agora não se cogita porque o meia está irredutível na ideia de seguir jogando. Além disso, o Inter sempre foi receptivo para ídolos que viram treinadores. Ainda que sem sucesso pleno, Figueroa, Falcão e Fernandão já comandaram o time colorado. É uma questão de tempo imaginar o argentino orientando de fato e de direito o time. Enquanto isto não acontece, vale imaginar qual modelo tático será o preferido de alguém que prima pela técnica e sabe que nem sempre se encontram talentos como o seu para montar um elenco.
O exemplo de seu ex-companheiro e amigo Marcelo Gallardo cabe bem para D'Alessandro. O hoje consagrado técnico do River Plate fez uma transição entre encerramento de carreira como atleta e início como treinador no Nacional do Uruguai entre 2010 e 2012. Por que não pensar em algo semelhante? É interessante para quem faz esta troca não fazê-la num clube de tão grande vinculação. Rogério Ceni teve este problema ao iniciar-se no comando do São Paulo, algo que o Beira-Rio testemunhou com Fernandão.
A ascendência de D'Alessandro como jogador e capitão do Inter é tanta que sua influência sempre rivalizou com a de dirigentes. Esta vocação para liderança cria uma outra possibilidade viável para um retorno do ídolo, como alguém ligado à gestão de futebol. Para isto ele ainda precisará se habilitar, como fez para poder um dia atuar como treinador. Quem o conhece não tem dúvidas de que a busca por formação específica e aprimoramento acadêmico serão coisas naturais nesta nova fase de sua vida. Na entrevista coletiva em que anunciou sua saída, até o traje e os óculos davam ares de dirigente.
Independentemente de correntes políticas que no futuro comandem o Inter, a aposta é certa: D'Alessandro vai voltar ao Beira-Rio. Seja como treinador ou como gestor, não é preciso ser vidente para prever que haverá aprovação da torcida. O "fim da história" citado pelo hoje jogador é apenas o prenúncio de que outra história tem tudo para começar dentro de algum tempo.