O dia 30 de agosto de 1980 entrou na história de dois clubes por causa de um mesmo ídolo. No estádio Olímpico de Roma se enfrentaram a dona da casa, Assoziacione Sportiva Roma e o brasileiro Inter. O motivo do encontro amistoso e festivo foi a estreia do meio-campista Falcão naquele que seria seu cenário mais glorioso dali em diante pela equipe italiana.
A despedida do time colorado em competições fora um mês antes, na final da Libertadores contra o Nacional-URU. Depois disto, 10 dias antes da partida na Itália, houve participação protocolar num torneio de verão na Espanha com o último jogo tendo sido contra o CSKA da Bulgária. O Inter entregava para os italianos e para o mundo seu maior ídolo.
Paulo Roberto Falcão é inigualável como grande símbolo de atleta colorado formado no clube e vinculado com sua história. Como jogador era magnífico. Quando entrou no time titular do Inter em 1973 atuava como primeiro volante ou "centromédio", pela denominação da época. A qualidade o fez mudar de função, deixando de ser protetor para se tornar articulador e chegar mais próximo do ataque. Dos jogadores consagrados mundialmente nas duas últimas décadas, o estilo era o mesmo do francês Zinedine Zidane. Falcão só não foi maior no cenário mundial porque as lesões abreviaram o fim de sua carreira.
Emblemático ao ser capitão e autor do último gol da maior conquista do ciclo vitorioso do maior time da história colorada na década de 1970, na Roma, há exatos 40 anos, começou uma trajetória ainda não igualada por um brasileiro na Itália. Por mais que outros craques tenham sido até mais vitoriosos em diferentes clubes, o significado de Falcão para a história romanista o levou a ser o grande protagonista do título italiano da temporada 1982/83, depois de já ter sido o principal jogador no vice-campeonato de duas temporadas antes. O clube só tinha uma conquista nacional, nos anos de 1940 e, segundo muitos, por influência do ditador Benito Mussolini.
Atuações espetaculares, o título inédito para mais de uma geração, uma postura adequada aos padrões italianos e uma grande inserção no mundo das celebridades colocaram Falcão no topo da Itália e o amor da torcida o coroou como "oitavo rei de Roma", numa alusão a tempos anteriores à era do Império. Até hoje falar em Paulo Roberto Falcão é ter trânsito livre na cidade. As homenagens são recorrentes e o delírio se mostra presente em qualquer aparição do eterno craque.
O jogo entre os dois times do coração de Falcão foi um grande acontecimento. Estádio Olímpico cheio, delírio dos tifosi da curva sud, os mais fanáticos romanistas, e um jogaço com quatro gols no campo foram os ingredientes. Não houve despedida pelo Inter. Isto ficou restrito a uma visita à concentração colorada na noite anterior.
O volante atuou durante todo o tempo já com a camisa cinco da Roma e viu os antigos companheiros estarem em vantagem por duas vezes no placar, antes da definição em 2 a 2 do escore. Eram tempos em que os clubes brasileiros tinham como excursionar à Europa, participando do início das temporadas dos times de lá.
Há 40 anos, o "Bola-Bola", apelido dado nos tempos iniciais de Inter, começava a ser o "Rei de Roma", consagrado pelos romanistas. Confira a ficha técnica do jogo histórico:
30/08/1980 — Roma 2 x 2 Inter
Local: Estádio Olímpico (Roma)
Árbitro: Ricardo Lacesi (ITA)
Gols: Batista 11, Pruzzo 22 e Cléo aos 43 minutos do primeiro tempo; Di Bartolomei aos 39 minutos do segundo tempo.
Roma: Tancredi; Romano, Maggiora, Turone e Santanini; Falcão, Di Bartolomei e Angelotti; Conti, Pruzzo e Amenta. Técnico: Nils Liedholm
Inter: Gasperin; Beretta, Mauro Pastor, André Luiz e Cláudio Mineiro; Batista, Vânder e Cléo; Valtinho, Jones e Silvinho. Técnico: Ênio Andrade.
Gols: Batista aos 11 minutos do primeiro tempo, Pruzzo aos 22 minutos do primeiro tempo, Cléo aos 43 minutos do primeiro tempo e Bartolomei aos 39 minutos do segundo tempo.