Os dias de isolamento e a tensa realidade atual tornam as pessoas mais sensíveis. A falta de futebol ao vivo cria uma saudade no torcedor e um vácuo em quem trabalha no esporte. A reprodução de antigos e marcantes jogos ajuda a passar o tempo e nos remete a recordações. No domingo estará na tela da RBS TV a final da Copa do Mundo de 2002, a vitória brasileira sobre a Alemanha em Yokohama, nosso último título mundial.
Vivi aquela decisão da maneira mais intensa possível. Depois de quase 40 dias trabalhando no Centro de Imprensa em Seul, longe dos estádios e muito envolvido em produção e edição, fui chamado às pressas para cobrir no Japão a final e reforçar a equipe da Rádio Gaúcha.
Era minha primeira cobertura de mundial na chamada linha de frente. O que já estava bom, ficou melhor. Uma nova Copa começava para mim na antevéspera de uma final que teria o Brasil.
A ida para o Japão foi totalmente improvisada, sem passes-livres para os trens, com carona no quarto do hotel em que estava nossa equipe e a Seleção, sem credencial com direito a entrar no estádio, mas com total disposição e empolgação. Durante a primeira noite, nem uma dor de dente ou um terremoto — sim, teve um leve terremoto em Yokohama na antevéspera do jogo — me tiraram a euforia.
O sábado foi de ver no saguão do hotel Luiz Felipe Scolari e os jogadores brasileiros se misturando com torcedores, num ambiente de confiança que só fazia aumentar a convicção de que veria o Brasil ser campeão em meu primeiro jogo de uma Copa do Mundo num estádio. No último treino a entrada foi clandestina em função da limitação de minha credencial. Vieram entrevistas, o acotovelamento da zona mista e a noite, desta vez sem dor de dente, sem terremoto e sem sono. Não há como dormir na véspera de uma decisão de mundial com a Seleção Brasileira em campo para ser penta.
Até a bola rolar, o trabalho era com a torcida, fora do estádio. Na hora do jogo, em função da credencial limitada, foi hora de torcer. Com ingresso de cadeira fui subindo a escada para meu local e, no momento em que comecei a ver o gramado, os times, lá no campo, também apareciam ao som do hino do mundial.
Mais de um mês de naturais tensões profissionais se acumulavam e misturavam-se a outros tantos anos de paixão pelo futebol e pela Seleção que conheci através da TV na maravilhosa Copa de 1970. Misturou tudo e não houve como conter o choro, muito choro. Não deu para prestar a atenção no hino nacional. Em mais de 30 anos de vida profissional, foi a única vez em que me vi aos prantos e não creio que isto volte a acontecer num estádio, mesmo que os anos nos deixem com a sensibilidade mais acentuada.
Quando a bola rolou, reações de galera. Vibrei, sofri, gritei, xinguei e abracei efusivamente japoneses que, ao meu lado, vestiam a camisa canarinho sem falar uma sílaba em português. Terminado o jogo, hora de trabalho com o retorno de entrevistas com torcedores, acompanhamento da chegada da delegação campeã no hotel e mais uma noite sem dormir.
Neste domingo, Ronaldo, Felipão, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos, o grande Rivaldo e todas as outras feras estarão de volta na tela da TV. Capaz de eu chorar novamente.