Se Ronaldo foi o artilheiro na Copa do Mundo de 2002, o passaporte do Brasil para chegar ao Mundial da Coreia do Sul e do Japão teve o carimbo de outro centroavante. Luizão foi o herói da classificação da Seleção para o Mundial ao marcar dois gols na goleada de 3 a 0 sobre a Venezuela na última rodada da turbulenta campanha brasileira nas Eliminatórias.
Na Copa do Mundo, Luizão não chegou a balançar as redes, mas foi personagem na vitória de 2 a 1 sobre a Turquia, quando sofreu o pênalti que garantiu a virada brasileira. Em conversa com GaúchaZH, o centroavante falou sobre o polêmico lance – ele foi derrubado fora da área – e avaliou que o triunfo contra a seleção turca foi fundamental para o Brasil ganhar confiança para a sequência do Mundial. O ex-jogador também recordou sua passagem pelo Grêmio antes da Copa. Confira a entrevista de Luizão:
O que representa ser campeão do mundo?
Ser pentacampeão do mundo é o máximo que um jogador pode alcançar. Todo jogador que inicia a carreira sonha em ganhar a Copa. Eu, por ser de uma cidade de 3 mil habitantes (Rubineia, no interior de São Paulo), chegar à Seleção já era algo grandioso. Poder ser campeão do mundo, então, isso era inimaginável.
Você foi um dos heróis da classificação para a Copa com aqueles dois gols contra a Venezuela. Quais as lembranças daquele jogo?
A nossa campanha nas Eliminatórias foi conturbada. Teve trocas de treinadores, eu me lesionei e fiquei um grande tempo fora até ser convocado de novo. Junto com os meus companheiros fiz um grande jogo contra a Venezuela. Aquele foi um dia especial porque era o meu aniversário (14 de novembro). Nós sabíamos que iríamos vencer aquele jogo, o grupo estava confiante. Sair do Brasil com uma grande vitória foi importante para encerrar aquela campanha nas Eliminatórias.
Naquele período até a Copa do Mundo se discutiu muito sobre a ausência do Romário. Isso pesava para vocês atacantes?
Penso que cada um fez sua parte. A decisão era do treinador. O Felipão decidiu por levar o Edílson, o Denílson e eu. Era algo que não nos incomodava. O treinador optou por nós, e penso que cada um fez sua parte.
A estreia foi difícil contra a Turquia. A vitória de virada veio com aquele polêmico pênalti que você sofreu. O quanto pesou começar a campanha com vitória?
O pênalti foi fora da área mesmo, todo mundo sabe. Aquela vitória significou muito para a gente ganhar confiança. Saímos perdendo, o Ronaldo empatou e eu sofri o pênalti da virada. A partir dali, a torcida começou a jogar com a gente. Tenho certeza que esse jogo nos impulsionou.
O Brasil não era tratado como grande favorito ao título antes da Copa. Isso afetava vocês?
A gente chegou confiante. Depois da estreia contra a Turquia, a confiança foi muito maior. Qualquer um que estava lá vai falar isso.
Qual o papel do Felipão no título?
Ele foi fundamental porque tinha o grupo na mão. Todo mundo tinha respeito por ele. Ele era um "paizão" mesmo. Era uma comissão técnica em que um ajudava o outro. Sempre é difícil ficar 60 dias assim com um grupo. Ele é um cara fantástico e que merece tudo o que conquistou na vida.
Ele confiava muito em você.
É curioso isso. A gente nunca trabalhou junto antes da Seleção. Ele só tinha sido adversário e gostava muito de mim.
"Fui feliz no Grêmio, fiz muitos amigos e não tenho mágoa alguma, apenas carinho".
LUIZÃO SOBRE PASSAGEM PELO GRÊMIO
Qual foi o jogo mais marcante da campanha do penta?
A final sempre é importante, mas o jogo contra Inglaterra foi bonito. Tivemos a expulsão do Ronaldinho e vencemos. Contra Bélgica, também foi difícil. Se o juiz dá aquele gol do Wilmots, poderia ter complicado.
O Ronaldo foi dúvida para a semifinal contra a Turquia e você era o reserva imediato. Como foi aquele momento?
Eu estava tranquilo se tivesse que jogar, mas estava torcendo para o Ronaldo se recuperar porque ele era um fenômeno. Ele é muito meu amigo. Eu até brinco que ele foi meu titular na Copa do Mundo e na Olimpíada (em 1996).
Você teve uma rápida passagem pelo Grêmio antes da Copa do Mundo. Como foi sua saída logo após o Mundial?
Estar ao lado do (Paulo) Paixão (preparador físico do Grêmio e da Seleção Brasileira à época) foi importante. Eu vinha de uma lesão, e foi fundamental ter o Paixão por perto. Eu tinha uma multa. Um ano antes, quando estava no Corinthians, tive uma lesão e perdi um contrato milionário de saída. Quando estava no Grêmio, recebi a proposta (do Hertha Berlim) e fui sincero. Tinha uma multa de R$ 400 mil e uma dívida de R$ 200 mil. Aceitei pagar os R$ 200 mil para sair. Mas eu fui muito feliz no Grêmio, fiz muitos amigos e não tenho mágoa alguma, apenas carinho. Só tenho a agradecer ao povo gaúcho. Tinha uma multa e eu paguei. Penso que fui bem nos jogos em que atuei. Fiz uma função diferente tendo que acompanhar o lateral. O Tite não jogava com centroavante e me adaptei. Dei passe na Argentina e fiz um gol contra o River aqui no Olímpico (nas oitavas de final da Libertadores). O Tite não ia me usar na semifinal (disputada depois da Copa), ele preferia jogar sem centroavante. Eu não podia perder a proposta da Alemanha. Paguei a multa e saí.