Torço para estar errado, mas antevejo, daqui a alguns meses, o resultado de investigações que apontarão desvios e falta de critérios na utilização de verbas que deveriam ser investidas na recuperação das enchentes.
Estamos diante de um impasse. Por um lado, é fundamental desburocratizar o acesso aos recursos, especialmente os públicos, que podem fazer a diferença entre a vida e a morte de pessoas e de empresas. Por outro lado, a falta de controle abre espaço para os que se acham espertos, mas são apenas desonestos. Eles são a minoria. É fácil defini-los: indivíduos e organizações que, de fato, não precisam de ajuda, mas vão atrás do dinheiro barato e fácil para tentar levar vantagem. Assim, deixam os mais necessitados para trás, porque o dinheiro, infelizmente, é finito. Já pipocam alguns casos aqui e ali, mas temo que outros, mais graves, surgirão.
A transparência absoluta é ainda mais necessária quando o crédito vem do poder público, seja diretamente ou via alguma instituição financeira estatal. Simplificar a burocracia não pode significar, em hipótese alguma, legitimar a falta de critérios rígidos na hora de abrir o cofre, ou mesmo uma eventual interferência política na definição de quem vai receber ou não o dinheiro.
No âmbito privado, foram centenas de vaquinhas, rifas e pedidos, prontamente atendidos pelos gaúchos e por pessoas e empresas do Brasil e do mundo. Nem que seja em um e-mail simples, cabe a quem arrecadou informar os doadores sobre o que foi feito com o resultado. De preferência, com nomes, recibos e valores. A transparência tem dois tipos de efeito: o imediato, através da prestação de contas, e o futuro, que gera confiança e engajamento. Se alguém estendeu a mão durante as enchentes e sua oferta foi mal usada, a tendência é de que se retraia na próxima vez.
Daqui a alguns meses, quando os escândalos forem revelados – tomara, novamente, que eu esteja errado e que tudo esteja sendo feito com absoluto comprometimento ético e legal –, não faltarão os que colocarão a culpa na falta de fiscalização. Discordo. A urgência e a decência exigem que cada cidadão e cada empresa sejam os primeiros e os principais fiscais de si mesmos.