“Eu me sinto constrangido por não ter falado nesse assunto nos últimos anos”. A frase é de um amigo, empresário e cidadão gaúcho. Conversamos sobre a enchente durante a semana. Diante da afirmação feita por ele, emendei: “Eu também”.
É impressionante o bombardeio a que estão sendo submetidos os nossos governantes, como se eles tivessem o dever de pensar em um tema sobre o qual quase ninguém pensava. Fico imaginando os comentários, inclusive os meus, se o prefeito da Capital, o governador e o presidente da República tivessem afirmado, durante suas campanhas eleitorais, que investiriam milhões de reais em bombas flutuantes e em outros equipamentos e obras de prevenção à enchente no Rio Grande do Sul. Logo nos perguntaríamos quais interesses estavam por trás dessa intenção.
Fui mediador de debates para o governo do Estado e para as prefeituras nos últimos anos. Até onde me lembre, os temas mudança climática e enchente nunca apareceram, nem nas minhas perguntas, nem nas dos eleitores, nem nas feitas entre os candidatos. Não conheço ninguém que tenha levado em conta esses assuntos na hora de decidir em quem votar.
É fundamental questionar e apurar responsabilidades, mas isso é bem diferente de sabotagem e furor condenatório
Vejo com tristeza um processo de enfraquecimento dos nossos líderes, eleitos pelo voto, na hora em que mais precisam de apoio e de força. É como se um avião estivesse enfrentando uma grande turbulência e uma parte dos passageiros invadisse a cabine para xingar o piloto. É fundamental questionar e apurar responsabilidades, mas isso é bem diferente de sabotagem e furor condenatório.
Agora é hora da solidariedade e do trabalho. Gostaria, por exemplo, de ver os ex-prefeitos de Porto Alegre unidos e ajudando a cidade. Quem sabe formando um grupo suprapartidário de apoio, todos juntos.
A onipotência leva muitos a pensar que o Estado é apenas um estorvo. Não entenderam a pergunta, mas têm absoluta convicção da resposta. Estado não precisa ser grande nem pequeno. Precisa ser eficiente naquilo que deve fazer. Democracia é respeitar o voto, principalmente o divergente.
Hoje, temos prefeitos, governador e presidente eleitos, gostemos deles ou não. O melhor, para todos, é que, na hora da crise, eles tenham força, confiança e apoio para fazer o que deve ser feito. O resto é politicagem, vaidade e egoísmo.