Um dos maiores desafios dos gaúchos, quando os resgates terminarem, será o da moradia. Existem hoje milhares de pessoas abrigadas em igrejas, ginásios, escolas, clubes e outros locais que suspenderam as suas atividades e se uniram a esse comovente esforço de socorro.
Há locais onde a volta à normalidade poderá ser adiada. Outros, como as escolas, precisarão voltar a receber alunos e professores o quanto antes. Como se já não bastassem os prejuízos causados pela pandemia ao aprendizado e ao desenvolvimento das nossas crianças, agora as enchentes suspenderam as aulas. Além do mais, pais e mães necessitam deixar seus filhos em locais seguros e assistidos para voltar a trabalhar ou procurar emprego. Muitos negócios e empresas não sobreviverão à tragédia.
O esforço para proporcionar um teto, comida, calor e segurança para tantos gaúchos irá requerer a extrema sensibilidade dos governos e da sociedade civil
Reabrir as escolas que recebem hoje desabrigados sem adotar outras providências levará a um lamentável efeito dominó. A solução de um problema causará outro, igual ou até pior. São incontáveis as famílias que perderam tudo e não têm mais para onde ir. É nosso dever oferecer a elas um caminho.
Regiões densamente habitadas, que foram evacuadas, levarão meses para serem limpas e restauradas. Muito tempo, dinheiro e trabalho serão necessários para arrumar as casas que conseguiram se manter em pé. Quando a água baixar, elas estarão tomadas pela lama. Vidas e memória destruídas surgirão depois da vazão da enchente.
O esforço para proporcionar um teto, comida, calor e segurança para tantos gaúchos irá requerer a extrema sensibilidade dos governos e da sociedade civil, que não são entes separados e antagônicos, mas sim parte de uma mesma engrenagem. Momentos de crise são testes definitivos para a democracia. Podemos não gostar ou discordar deste ou daquele governante. Mas isso não pode se sobrepor ao fato de que eles têm a legitimidade sagrada do voto para liderar e decidir. Colocar, neste momento, interesses pessoais ou eleitoreiros acima disso é um desserviço e um absurdo.
Garantir casa para quem perdeu tudo é imprescindível para reconstruir a esperança. Nós vamos conseguir. Nosso passado e nosso futuro têm um encontro marcado ali adiante, quando voltaremos a sorrir. Vai passar.