A ideia é boa. O momento, talvez, não seja o ideal. A Brigada Militar e a Polícia Civil são duas das instituições mais relevantes do Estado. Valorizá-las é, acima de tudo, um dever democrático.
Faz tempo, acompanho os debates sobre o uso obrigatório de câmeras pelos policiais. Há argumentos sólidos, favoráveis e contrários. Formei minha convicção: as maiores beneficiadas com a adoção dos equipamentos, já amplamente utilizados em outras partes do mundo, serão justamente a Brigada Militar e a Polícia Civil. Hoje, um policial que reage a uma ameaça corre o risco de ser injustamente acusado de uso excessivo da força. Acontece todos os dias. Será educativo para a sociedade acompanhar, quando necessário, os riscos e a complexidade do trabalho nas ruas pelo ponto de vista de quem arrisca a vida para garantir a segurança de todos.
Por isso, talvez agora não seja o momento ideal para pressionar. O corpo de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, foi encontrado em um açude, sexta passada, em São Gabriel. Três policiais militares são os principais suspeitos pelo crime chocante e brutal, depois do qual o assunto “monitoramento” ressurgiu, com força. Meu argumento não tenta minimizar ou relativizar o que aconteceu na Fronteira Oeste.
É certo que as câmeras irão ajudar a evitar abusos, o que já justificaria sua compra com dinheiro público. O que estou tentando dizer aqui é que o impacto vai além. É fundamental que as forças de segurança percebam que a produção de imagens serve também para inocentá-las, acabando de vez com o coitadismo oportunista de quem se aproveita das leis para atentar contra elas, o que, importante deixar claro, não é o caso de São Gabriel. Mas se alguém puxar uma arma para um policial ou estiver colocando em risco a vida de um inocente, teremos a possibilidade de uma prova incontestável.
As câmeras mostrarão também tudo o que nossos policiais fazem e que ninguém vê: os atendimentos que salvam vidas depois de acidentes, a ajuda a um senhor idoso que precisa atravessar a rua, a emoção de uma criança que se aproxima, em um parque, de um policial e de seu cavalo. Esse tipo de coisa que nem sempre é notícia, mas que eventualmente nos ajudará a compreender melhor o que de fato acontece nas cidades e no campo. Enquanto isso, só nos resta exigir todo o rigor da lei e manifestar nossa solidariedade aos amigos e familiares de Gabriel. Que imagens como essa jamais se repitam.