O presidente do Brasil, seja qual for o seu nome, não é o maior culpado pelas mais de 100 mil mortes causada pela covid-19. O maior culpado se chama novo coronavírus. É um erro gigantesco politizar a questão a esse ponto, tanto quanto é politizar a cloroquina.
Radicalizar para um lado é tão absurdo e ineficaz quanto radicalizar para o outro. Afirmar que Jair Bolsonaro é o maior culpado pelas mortes é dizer aos cidadãos, indiretamente, que sair de máscara, respeitar o distanciamento social e usar álcool gel são atitudes secundárias e que um homem só tem mais poder do que todo o resto.
Nesses tempos em que o meio-termo enfrenta grave ameaça de extinção, deixo claro: esse não é um texto de defesa a Bolsonaro. Ao contrário.
Reafirmo minha convicção de que há uma abissal diferença entre ter toda a culpa e não ter nenhuma. É óbvio que, por sua relevância e visibilidade, um presidente importa e suas ideias e ações têm impacto na sociedade. No caso da covid-19, Bolsonaro está do lado errado. Diz e faz o que não deveria, e isso importa, para pior, no caso.
Mas dizer que ele é o maior responsável pelo que está acontecendo apenas retroalimenta essa espiral de insanidade da qual Bolsonaro se aproveita e com a qual se fortalece. E os prefeitos? E os governadores? E os negacionistas? E quem desobedece aos decretos? Penso que são responsáveis pelos seus atos. Acredito no poder dos indivíduos e no da articulação entre eles. Essa é a arma da qual dispomos. Ela é mais poderosa do que qualquer presidente.