Não é torcida. Aliás, tomara que tudo volte ao normal e que eu esteja errado. Mas é improvável que os alunos retornem às salas de aula no Rio Grande do Sul na data planejada pelo governo. O motivo: o índice de contaminação ainda é muito elevado no Estado e, com a reabertura do comércio, da construção civil e dos serviços, a tendência é que os reflexos sejam sentidos daqui a duas semanas, com aumento da pressão no sistema hospitalar.
Repito: não é o que eu quero que aconteça. Mas é o que a observação da realidade nos indica até agora. Logo, essa perspectiva de retorno presencial às escolas em setembro é um movimento político interessante, porque estabelece um horizonte e acalma as justificadas ansiedades. Mas só saberemos mesmo daqui a duas semanas. E a tendência, no curto prazo, não é animadora.
Há várias questões a serem pesadas nessa delicada equação de riscos e ganhos. Centenas de milhares De pais e mães que precisam trabalhar não têm onde deixar seus filhos, que acabam aglomerados em vizinhos ou deixados sozinhos em casa. Há também a percepção de que as tensões geradas pela convivência forçada em ambientes familiares leva a um aumento dos maus tratos contra menores e também à subnotificação. A escola é um ambiente onde muitas vezes os sinais da violência são percebidos e, em função deles, providências são tomadas.
O impasse que vivemos agora, nessa e em outras áreas, nos impõe mais uma vez a certeza de que a desigualdade social não é uma questão partidária ou ideológica. É um limitador do desenvolvimento econômico e humano. O desafio das nossas autoridades é gigantesco. Encontrar uma fórmula simples que contemple realidades e interesses de escolas púbicas e privadas, de famílias com acesso à internet e sem conexão digital, de casas onde há espaço para estudar e onde mal há espaço para respirar. Existe um abismo entre os extremos, imensamente distantes entre si, para os quais é preciso olhar. Há um abismo que inviabiliza o meio-termo.