A metralhadora giratória de Jair Bolsonaro continua cuspindo fogo, principalmente nos próprios pés. Agora, o presidente bradou, em tom de ameaça, que tem o apoio das Forças Armadas em seus embates, especificamente o da nomeação do diretor da Polícia Federal, barrada pelo STF. Os destemperos verbais do chefe de governo já se tornaram rotina, mas esse é especialmente grave, porque puxa indevidamente o Exército para o lamaçal do debate político corriqueiro.
As reações contrárias já vieram, através de fontes não identificadas, mas que usam farda e carregam estrelas no uniforme. Criticar publicamente o presidente, que é o chefe das Forças Armadas, seria um ato de insubordinação.
Aí é que começa a confusão do ex-capitão. Um dos pilares de sustentação das Forças Armadas é a hierarquia. O presidente, no exercício das suas funções, realmente conta com a obediência constitucional dos militares, mas isso é bem diferente de apoio ao governo. Ontem, em entrevista à Globo News, o ministro da STF Luís Roberto Barroso analisou a postura de Bolsonaro. Para o ministro, há uma separação clara entre a retórica palaciana e as ações concretas do presidente. Até agora, para Barroso, nenhuma decisão do Congresso ou do STF foi descumprida por Bolsonaro.
Esse é o verdadeiro limite. Se um dia o discurso de conflito se transformar em atos antidemocráticos, aí sim saberemos como as Forças Armadas se comportarão. A julgar pela História recente do país, estarão no lado da democracia e da Constituição, como tem sido desde o fim dos governos militares, na década de 1980 do século passado.