Em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta segunda-feira (27), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso criticou os recentes protestos contra a instituição e o Congresso. Conforme o magistrado, a pauta, no entanto, é "produto de grupos minoritários" e não há risco à democracia.
— Estamos sujeitos a críticas severas. O Supremo é chamado a arbitrar assuntos complexos. Faz parte da vida e é preciso lidar com isso com maturidade. Mas defender o fechamento de instituições democráticas é um comportamento indesejável. Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e tem saudade de um passado que não existiu — afirma Barroso.
Sobre a participação do presidente em atos como o ocorrido no dia 19 de abril, quando Jair Bolsonaro discursou na caçamba de uma caminhonete, diante do quartel-general do Exército em Brasília, para manifestantes que participavam de uma carreta em defesa do governo, contra o Congresso e o STF e a favor de uma intervenção militar no Brasil, Barroso disse que não vê respaldo na sociedade. Na ocasião, Bolsonaro também responsabilizou STF por determinar que os demais entes federados têm poder para ordenar o fechamento do comércio.
— O que eu posso dizer é que, nessas manifestações esporádicas, a reação da sociedade tem sido extremamente vigorosa. Demonstra uma democracia madura. Eu não vejo perigo inconstitucional — avalia o ministro.
Indagado sobre a indicação de Alexandre Ramagem, amigo de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, para o comando da Polícia Federal (PF), Barroso diz que não vai se manifestar no momento.
— Este é o fato do dia, por isso é para os comentaristas do dia. (...) Depois que os fatos acontecem, eu posso até fazer algum comentário, mas antes não faço.
O ministro, que assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também avaliou a possibilidade de adiamento das eleições de 2020, marcadas para o primeiro domingo de outubro. Barroso diz que espera que ainda sejam realizadas neste ano. Afirmou, porém, que tudo depende da evolução da pandemia de coronavírus.
— Desejaria não precisar adiar as eleições. Se for necessário, isso é papel do Congresso. Depende de uma emenda à Constituição. Se for inevitável, que seja pelo prazo mais breve possível.