O título desse texto pode parecer estranho agora. Mas, ano que vem, não será. Há uma relação íntima entre o futuro do Banrisul e a pandemia de covid-19. Quando a vida voltar ao normal, os governos olharão para seus cofres e verão rombos gigantescos, bem maiores do que os existentes hoje. Despesas bilionárias – e necessárias – com a crise, somadas à queda da arrecadação, levarão as três esferas do poder público – federal, estadual e municipal – à beira da insolvência.
O Rio Grande do Sul, especificamente, que já enfrentava dificuldades, estará quase sem ar, criando um clima político favorável – ou pelo menos não tão antagônico – à privatização dos ativos que restam ao Estado. O Banrisul é o mais valioso. Daqui a alguns meses, privatizar o banco não será mais uma questão de opção, mas de sobrevivência. Como toda análise feita em meio à instabilidade, essa também está sujeita ao erro. Mas, no quadro atual, é a mais plausível. Não apenas o Banrisul, mas todas as empresas em nível federal, estadual e municipal que tiveram valor e compradores dispostos a pagar.
Mesmo que o secretário de Desestatização, Desenvolvimento e Mercados, Salim Mattar, tenha jogado a toalha das privatizações nesse ano, o trabalho de modelagem deve seguir. Boa parte do capital disponível para investimentos no mundo não evaporou, apesar do momento de cautela. Lá na frente, quem estiver mais preparado terá maior poder atração.
Por mais paradoxal que pareça, a expansão veloz e excêntrica da presença estatal na economia brasileira, motivada pela pandemia, será seguida por uma retração proporcional. Agora não é hora de poupar recursos no combate à doença e na proteção da vida. Mas é bom estarmos conscientes de que, mais cedo ou mais tarde, a conta virá.