Impressionante como um mesmo fato pode gerar reações diferentes. No governo Sartori, os presos algemados em viaturas por falta de vagas nas cadeias produziram uma comoção popular. O Piratini era bombardeado todos os dias, ininterruptamente, inclusive por mim, que cobrava soluções rápidas.
Assistindo ao Jornal Nacional no final da semana, me senti omisso. Os presos estão lá novamente, acorrentados nas viaturas, vigiados por brigadianos que deveriam estar nas ruas. Não tenho pena de bandido, mas carrego a convicção de quem ninguém deve pagar mais do que deve, porque isso se volta depois contra a sociedade. Sei também que minha argumentação soa ingênua ou ideológica no meio da radicalização e do emburrecimento do debate. Azar. Minha posição não é ideológica. É prática e objetiva. Bandido bom é bandido punido exemplarmente, de acordo com a lei, e recuperado.
Voltando à boa vontade com o governador Eduardo Leite – a mesma que Sartori não teve –, ela pode ser explicada pela guinada da opinião pública rumo a uma direita radical, que confunde defesa da lei com solidariedade a bandido, posição tão míope quanto a da esquerda convicta de que os criminosos são apenas pobres vítimas do sistema. Mas isso não me acovarda. Ao contrário. O governo Leite deveria ser mais cobrado, não apenas porque Sartori foi, mas porque cobrar é obrigação de quem acredita que a lei existe para ser cumprida, até mesmo na hora de punir quem não a cumpre.
O governo Leite tem o dever de resolver a questão prisional. Foi eleito para isso. Parece mais preocupado com outros temas e se aproveita de uma trégua gerada pela anestesia bolsonarista. Como gaúcho, me sinto envergonhado ao ver exibida, para todo o Brasil, a situação ilegal protagonizada pelo Estado onde vivo. E não me venham com a mesma ladainha de sempre, que bota a culpa em um problema estrutural antigo. Eduardo Leite se elegeu prometendo soluções novas, que precisam de mais do que conversa e simpatia na hora de bater selfies com os eleitores.