Experiente delegado da Polícia Civil, o vice-governador e secretário estadual da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Junior, acredita que a banalização dos presos algemados em viaturas é chocante e traz enormes prejuízos à sociedade. No Sábado de Aleluia (20) alguns detidos completaram quatro dias acorrentados a veículos policiais em frente ao Palácio da Polícia, sede policial, em Porto Alegre.
- A situação não pode e não vai continuar assim. Primeiro, porque algemar presos em viaturas significa PMs e veículos policiais a menos. Policiais civis como carcereiros significa menos investigação. E a sociedade não merece isso.
Ranolfo define como "lamentável" o ponto a que o Rio Grande do Sul chegou em termos prisionais, "um Estado que até quatro anos atrás se orgulhava de não ter presos em delegacias". Ele prefere não apontar culpados e propõe que se olhe para a frente.
O vice-governador promete a criação de vagas prisionais e aposta no diálogo com o Poder Judiciário e o Ministério Público para conseguir melhorar o cenário. Ele ressalta que foi criada, pelo atual governo, a Secretaria de Administração Penitenciária, encabeçada por um experiente procurador de Justiça.
O vice-governador lembra que faltam 13 mil vagas no sistema prisional gaúcho, um problema histórico. Cita como exemplo a penitenciária estadual de Guaíba, cuja construção começou há 12 anos e tem apenas 53% da obra feita. A construtora deixou o serviço e está sendo aberta nova licitação para a prisão, que deve abrigar 672 prisioneiros.
O vice-governador diz que, em Guaíba, a saída será conseguir novas verbas federais, já negociadas. Com relação a outros presídios, o governo preparou Parcerias Público-Privadas (PPPs). É o caso de Bento Gonçalves (430 vagas, que deve ser inaugurado em maio), Alegrete (400 vagas, a ser inaugurado no início do próximo ano) e Sapucaia do Sul (600 vagas, previsto para setembro).
Por fim, o vice-governador manda um recado aos cidadãos que acham que preso tem mesmo é que sofrer e consideram bobagem o governo se preocupar com a situação dos criminosos algemados em viaturas.
- Não esqueçam que o preso que sofre um dia vai voltar ao convívio da sociedade. E voltará pior do que quando entrou na prisão. Cadeia superlotada e crueldade só servempara fortalecer as facções criminais - analisa Ranolfo.
Situação dos PMs preocupa o Comandante
O coronel Mário Ikeda, comandante da Brigada Militar, também mostra contrariedade com o uso das viaturas policiais como celas. Em especial pelo fato de não serem utilizadas na sua missão principal, o patrulhamento.
- A sociedade perde, os PMs perdem. E a situação dos policiais não é nada agradável, nessa função forçada de carcereiros.
Ikeda confia que as novas vagas prisionais vão suprimir o cenário atual de viaturas-cárcere.