Com cinco indicações ao Oscar, Zona de Interesse (The Zone of Interest, 2023) é o mais recente filme sobre um dos capítulos mais abjetos e dolorosos da história da humanidade: o Holocausto, a perseguição e o extermínio de 6 milhões de judeus pelos nazistas, desde a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Em cartaz nos cinemas Espaço Bourbon Country, GNC Iguatemi e GNC Moinhos, em Porto Alegre, o longa-metragem dirigido por Jonathan Glazer revisita o horror dos campos de concentração por um ângulo diferente: retrata o cotidiano praticamente idílico do comandante de Auschwitz, Rudolph Höss (interpretado por Christian Friedel), e sua família.
A câmera jamais cruza o muro que separa a casa das câmaras de gás e dos fornos crematórios, mas o tempo todo ouvimos gritos de ódio e de dor, estampidos de armas de fogo e gemidos dos prisioneiros que sofriam por causa da fome, de doenças, dos trabalhos forçados e de macabras experiências médicas. Trata-se de uma abordagem da banalidade do mal, expressão cunhada pela filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt durante o julgamento do tenente-coronel Adolf Eichmann em Jerusalém, em 1961.
O pai do cineasta de Zona de Interesse, que é judeu, tentou dissuadir o filho de "ressuscitar" os Höss — deveriam continuar "apodrecendo no passado". Mas Glazer entende que a tragédia do nazismo "precisa ser contada e recontada" sucessivas vezes — para que nunca esqueçamos, para nunca deixarmos se repetir.
Por isso, a lista de filmes sobre o Holocausto é grande e de tempo em tempo é ampliada. A seleção que fiz reúne 20 títulos disponíveis nas plataformas de streaming, incluindo filmes oscarizados, como A Lista de Schindler (1993), Os Falsários (2007) e O Filho de Saul (2015). Há ausências ilustres, como Shoah (1985), de Claude Lanzmann, Filhos da Guerra (1990), de Agnieszka Holland, A Lembrança de Anne Frank (1995), de Jon Blair, Amém (2002), de Costa-Gavras, e Ida (2013), de Pawel Pawlikowski.
1) O Grande Ditador (1940)
De Charles Chaplin. Uma das obras mais icônicas de Chaplin, que interpreta Adenoide Hynkel, uma paródia escrachada do líder da Alemanha nazista, Adolf Hitler, e um barbeiro judeu que passa a ser perseguido, . Jack Oakie dá vida a Benzino Napaloni, que ironiza a figura de Benito Mussolini, o comandante da Itália fascista. Lançado em 1940, antes de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, foi o primeiro longa falado do astro e recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e ator. (Canal Telecine do Amazon Prime Video e do Globoplay)
2) Julgamento em Nuremberg (1961)
De Stanley Kramer. O filme não é sobre o julgamento dos líderes nazistas, que já haviam sido condenados, mas de quatro juízes que usaram seus cargos para permitir e legalizar as atrocidades contra os judeus. Valeu a Maximilian Schell o Oscar de melhor ator, no papel do advogado de defesa Hans Rolfe, e venceu também na categoria de roteiro adaptado. O elenco estrelado inclui Spencer Tracy (também indicado ao troféu de ator), Judy Garland (concorrente como atriz coadjuvante) e Montgomery Clift (que competiu como ator coadjuvante). (Oldflix)
3) A Escolha de Sofia (1982)
De Alan J. Pakula. O título que virou expressão: invoca a imposição de se tomar uma decisão difícil sob pressão e enorme sacrifício pessoal. Meryl Streep ganhou o Oscar de melhor atriz por interpretar Sofia, uma polonesa que, sob acusação de contrabando, é presa com seus dois filhos pequenos, um menino e uma menina, no campo de concentração de Auschwitz. Um sádico militar nazista dá a ela a opção de salvar apenas uma das crianças da execução, ou ambas morrerão. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
4) A Lista de Schindler (1993)
De Steven Spielberg. Conta a história verídica de Oskar Schindler, um industrial alemão que salvou mais de mil judeus do extermínio nos campos nazistas. O personagem é vivido por Liam Neeson, que concorreu ao Oscar de melhor ator. Seu antagonista é o comandante Amon Goeth, uma assombrosa interpretação de Ralph Fiennes, indicado ao Oscar de coadjuvante. Esplendidamente fotografado em preto e branco e rodado na Polônia, o filme alia a inventividade visual de Spielberg a um extraordinário poder de emocionar. Ganhou sete prêmios no Oscar: melhor filme, direção, roteiro adaptado, fotografia, montagem, direção de arte e música original. (Canal Telecine do Amazon Prime Video e do Globoplay)
5) A Vida É Bela (1997)
De Roberto Benigni. Premiado com o Oscar de filme internacional, de melhor ator (o próprio Benigni) e de música original (Nicola Piovani), ousa ao misturar comédia (na primeira parte, na cidade italiana de Arezzo) com drama, na segunda. O protagonista é um judeu enviado com sua esposa (Nicoletta Braschi) e o filho pequeno para um campo de concentração, onde ele usará da fantasia para esconder do menino os horrores do nazismo. (Oldflix)
6) Conspiração (2001)
De Frank Pierson. No inverno de 1942, as tropas de Hitler estavam famintas e congelando nas nevascas da Rússia, e os Estados Unidos tinham entrado na guerra. Liderados pelo general da SS Reinhard Heydrich (personagem de Kenneth Branagh), 15 homens de confiança do Führer se encontram para uma reunião secreta perto de Berlim. Lá, eles deliberam sobre a Solução Final, que tinha por objetivo eliminar os judeus da Europa. No elenco, Stanley Tucci e Colin Firth. (HBO Max)
7) O Pianista (2002)
De Roman Polanski. Acompanha o inferno vivido por Wladyslaw Szpilman, famoso pianista polonês que trabalha em uma rádio de Varsóvia e precisa fugir dos alemães que ocuparam seu país. Venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e os Oscar de melhor direção, roteiro adaptado e ator, para Adrien Brody. (Amazon Prime Video e canal Telecine)
8) Os Falsários (2007)
De Stefan Ruzowitzky. Vencedora da estatueta de melhor filme internacional, esta produção austríaca narra a incrível história de um falsário judeu (Karl Markovics) que, preso pelos nazistas, concordou em ajudar seus algozes em uma grande operação de falsificação criada para financiar os esforços de guerra. Depois do conflito, ele fugiu e terminou a vida entre Montevidéu e Porto Alegre. (Belas Artes à La Carte)
9) Phoenix (2014)
De Tony Petzold. O prestigiado cineasta alemão examina dilemas pós-Holocausto em mais uma parceria com a atriz Nina Hoss. Ela encarna uma mulher que teve o rosto desfigurado nos campos de concentração. Depois de uma cirurgia de reconstrução, ela vaga por uma Berlim bombardeada à procura do marido. (MUBI)
10) O Filho de Saul (2015)
De László Nemes. A trama acompanha, em permanente close, um judeu húngaro (Géza Röhrig) obrigado a trabalhar para os nazistas no campo de concentração de Auschwitz. Ele afirma que um garoto executado é seu filho e cumpre uma odisseia para dar ao jovem um funeral judaico. Ganhou o Oscar de melhor filme internacional. (Reserva Imovision)
11) Negação (2016)
De Mick Jackson. Aborda a contestação do extermínio sistemático de judeus e outros grupos pelos nazistas — tese absurda, falaciosa e antissemita.
A história começa em 1994, quando uma palestra da historiadora estadunidense Deborah Lipstadt (personagem real vivida por Rachel Weisz) é interrompida por David Irving (Timothy Spall), britânico cujos escritos tentam provar que Adolf Hitler jamais ordenou o genocídio judaico. O historiador arma um verdadeiro circo, acusando a estudiosa de difamá-lo no livro que ela está lançando e desafiando qualquer pessoa da plateia a apresentar algum documento que comprove a existência do Holocausto. A disputa judicial tem como cenário o Reino Unido, onde, segundo as leis, caberia ao acusado demonstrar sua inocência em um caso como aquele, e não ao denunciante apresentar o ônus da prova. O processo de Irving contra Lipstadt acaba colocando em julgamento no tribunal a própria aceitação histórica do genocídio. Negação ganha atualidade ao discutir essa questão em uma época atravessada por conceitos como "pós-verdade". (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
12) O Pássaro Pintado (2019)
De Václav Marhoul. O filme tcheco que adapta uma novela do escritor Jerzy Kozinski causou uma debandada na plateia durante sua exibição no Festival de Veneza, por conta das cenas de agressões físicas e sexuais e mutilações que permeiam a trama sobre um menino judeu que perambula por vilas e guetos. (MUBI)
13) O Protocolo de Auschwitz (2021)
De Peter Bebjak. O filme eslovaco é baseado na trajetória de dois jovens judeus que revelaram ao mundo o que acontecia nos campos de concentração nazistas _ infelizmente, não foram tão bem ouvidos de imediato. Na trama, Rudolf Vrba e Alfréd Wetzler se chamam Freddy e Valér e são interpretados, respectivamente, por Noel Czuczor e Peter Ondrejicka. (Amazon Prime Video)
Outros filmes sobre o Holocausto:
14) Fuga de Sobibor (1987), de Jack Gold (Looke)
15) O Menino do Pijama Listrado (2008), de Mark Herman (Netflix)
16) A Menina que Roubava Livros (2013), de Brian Percival (Star+)
17) O Zoológico de Varsóvia (2017), de Niki Caro (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
18) O Banqueiro da Resistência (2018), de Joram Lürsen (Netflix)
19) Operation Finale (2018), de Chris Weitz (Netflix)
20) Jojo Rabbit (2019), de Taika Waititi (Star+)