Já está disponível no canal Telecine do Amazon Prime Video e do Globoplay Os Fabelmans (The Fabelmans, 2022), a autobiografia disfarçada de Steven Spielberg, cineasta três vezes ganhador do Oscar — como diretor e produtor de A Lista de Schindler (1993) e como realizador de O Resgate do Soldado Ryan (1999).
Ganhador dos Globos de Ouro de melhor longa-metragem dramático e de melhor diretor, o título concorreu em sete categorias do Oscar, mas não levou nenhuma: filme, direção, atriz (Michelle Williams), ator coadjuvante (Judd Hirsch), roteiro original (escrito por Spielberg com Tony Kushner, seu parceiro em Munique, Lincoln e Amor, Sublime Amor), design de produção e música (do veterano John Williams).
Em entrevistas, Spielberg contou que sempre foi muito reservado sobre a sua vida particular e, durante a pandemia, questionou-se sobre qual seria a história que ainda faltava contar, caso tivesse apenas mais um filme para fazer. Eis que ele se deu conta que seria a sua própria — algo que a sua mãe, Leah, sempre incentivou, por mais exposta que ela pudesse ficar (explicar seria dar spoiler para quem não viu Os Fabelmans).
A história começa na fila para uma sessão de O Maior Espetáculo da Terra (1952), de Cecil B. De Mille, e termina com uma visita do alter ego de Spielberg, o jovem Sammy Fabelman (interpretado por Gabriel LaBelle), à sala do mestre John Ford (encarnado pelo cineasta David Lynch).
Entre um fato e outro, Sammy terá de lidar com uma dualidade decorrente das personalidades opostas de seus pais, Burt e Mitzi (em atuações encantadoras de Paul Dano e Michelle Williams). Enquanto ele quer que o filho invista em uma "carreira de verdade" e não no hobby cinematográfico, a mãe, uma artista talentosa, mas que nunca fez carreira, o incentiva a viver o seu sonho.
O protagonista também precisará encarar problemas familiares e escolares ao mesmo tempo em que descobre não apenas técnicas de filmagem — vide os efeitos visuais em um bangue-bangue caseiro —, mas sobretudo os poderes do cinema. Se o desastre de trem no filme de De Mille provocou um trauma, por exemplo, a reprodução, com uma câmera super-8 e um trenzinho de brinquedo, traz a cura.
Os Fabelmans nos convida a um passeio pelos temas, pela carreira e pela vida pessoal de Spielberg. Por extensão, pela vivência de todos os cineastas e de todos os espectadores. Os filmes aparecem como válvulas de escape, como metáforas, como meio de dizer aquilo que não se consegue verbalizar, como meio de mostrar aquilo que não se consegue ou não se quer enxergar.