A plataforma de streaming MUBI resgatou do limbo digital Seguinte (Following, 1998), o primeiro filme de Christopher Nolan, diretor britânico do grande favorito ao Oscar 2024 — Oppenheimer lidera a corrida para a premiação da Academia de Hollywood, com 13 indicações.
Nolan, 53 anos, é um cineasta que costuma conseguir seduzir crítica e público. Seis de seus 12 longas-metragens ultrapassaram a marca dos US$ 500 milhões nas bilheterias. Dois deles tiveram arrecadação bilionária — Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) —, e Oppenheimer, com o relançamento nas salas IMAX dos cinemas para capitalizar as indicações ao Oscar, também deve alcançar essa marca (está com US$ 952,9 milhões).
Seguinte é o único de seus títulos que sequer angariou US$ 1 milhão. Foram apenas US$ 126 mil faturados. Pouquíssima gente viu — sobretudo no Brasil, onde nunca foi lançado comercialmente nos cinemas nem entrou no catálogo das plataformas mais populares. Mas é um filme que merece muito ser visto.
O longa de estreia foi feito enquanto Nolan tinha outro emprego e com apenas 6 mil libras — ele próprio operou a câmera, usando estoques de filmes 16mm em preto e branco e aproveitando a iluminação disponível nos cenários. O caráter amador transparece, mas também saltam aos olhos elementos que pautariam a trajetória do diretor, a começar pela frase de abertura do protagonista anônimo, como o de Tenet (2020): "O que se segue é a minha explicação".
Em uma narrativa não linear, que intercala quatro tempos distintos, acompanhamos em Seguinte a trajetória de um aspirante a escritor (Jeremy Theobald, que depois faria pontas em Batman Begins e Tenet). Tal qual um cineasta que segue seus personagens, ele faz o mesmo com pessoas aleatórias nas ruas de Londres, à procura de inspiração.
Acaba deparando com o ladrão Cobb — a profissão e o nome de Leonardo DiCaprio em A Origem (2010) —, tipo vivido por Alex Haw que invade casas de estranhos, rouba pequenos objetos íntimos e muda coisas de lugar, para que as vítimas percebam o crime e passem a sentir falta do que perderam. É quase como um truque de mágica, que está no centro da trama de O Grande Truque (2006).
Como de hábito na filmografia do diretor, haverá uma reviravolta que muda nosso entendimento da história. O inesperado é um lance premonitório: o apartamento do protagonista tem na porta o logotipo do Batman, sete anos antes de Nolan dar início a sua trilogia do Homem-Morcego.