É preciso colocar os óculos do olhar infantil para assistir a Sonic: O Filme (2020), cartaz da Tela Quente desta segunda-feira (3), às 22h25min, na RBS TV. Não fiz isso na primeira vez, daí a adaptação cinematográfica do célebre game estrelado por um rapidíssimo ouriço azul pareceu, paradoxalmente, demorar uma eternidade. Mas quando vi com as minhas filhas, a Helena e a Aurora, aí foi como se fosse outro filme.
Sonic, o jogo, surgiu em 1991. Desenvolvido pela Sega, do Japão, foi um dos principais videogames daquela década, ao lado dos Super Mario Bros, da Nintendo. Já nessa época havia a ideia de levá-lo para o cinema, o que só foi acontecer em 2020, não sem percalços — quando lançaram o primeiro trailer, em abril de 2019, os fãs criticaram duramente o visual do ouriço. Disseram, por exemplo, que o personagem gerado por computador se assemelhava mais a um humano fantasiado de Sonic. Não demorou para que aparecessem reedições caseiras consideradas melhores do que a original. Então, o diretor Jeff Fowler, novato em longa-metragem, anunciou que o design do herói seria retrabalhado, o que adiou a data de estreia em uns quatro meses.
O visual de Sonic (dublado por Manolo Rey na versão brasileira) ficou, de fato, bem melhor, menos sinistro e, portanto, mais condizente com o espírito da comédia de aventura, que começa com um agrado aos fãs: as tradicionais estrelas que formam o logotipo da produtora Paramount foram substituídas pelos característicos anéis do game. Logo em seguida, o ouriço aparece sendo perseguido pelo vilão, o Dr. Ivo "Eggman" Robotnik, personagem interpretado por Jim Carrey — que estava havia quatro anos afastado dos cinemas.
Então, a ação é congelada e se retrocede no tempo para mostrar os passos que levaram a essa situação. Isso inclui referências textuais a Star Wars e ao Homem-Aranha e uma trilha sonora óbvia, dado o superpoder do herói, mas deliciosa: Don't Stop me Now (1979), do Queen. Para os adultos, também há citações dos gibis do Flash e da franquia Velozes e Furiosos.
A Helena e a Aurora realçaram virtudes do filme que arrecadou US$ 319,7 milhões _ nada mal durante a pandemia — e garantiu uma continuação, Sonic 2 (2022), que faturou US$ 405,4 milhões e afiançou um terceiro longa-metragem, previsto para dezembro de 2024. A cada risada das minhas filhas, mais eu senti que havia sido rabugento na primeira vez.
Elas foram tocadas pelo desenvolvimento da amizade entre Sonic e o policial Tom Wachowski (James Marsden) na cidadezinha de Green Hills — inclusive, a exemplo dos personagens, começaram a elaborar suas listas de coisas a fazer.
Divertiram-se com as piadas da cunhada de Tom e do seu parceiro de delegacia e com as caretas do Robotnik.
Imitaram a dança do vilão e criaram a sua própria ao som da canção dos créditos finais, Speed me Up, com Wiz Khalifa, Ty Dolla $ign, Lil Yachty e Sueco The Child. (E eu ri um bocado com a cena pós-créditos em que Robotnik cita o clássico Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola.)
E quando a pancadaria em um bar é congelada para que o ouriço rearranje posições dos brigões e de elementos do cenário a fim de, em uma tacada só, salvar seu amigo e a si mesmo e providenciar momentos cômicos, as gurias mudaram de vez minha opinião ao perguntarem: "Pai, como eles fizeram essa cena?". Puxa, que bacana ver um filme que desperta a curiosidade pelo fazer cinematográfico.