Já está disponível na plataforma de streaming Disney+ Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way of Water, 2022), filme de James Cameron que se tornou a terceira maior bilheteria de todos os tempos ao arrecadar US$ 2,32 bilhões. Com esse montante, ultrapassou outro título do mesmo cineasta, Titanic (1997), que fez US$ 2,26 bilhões e é o quarto colocado no ranking encabeçado por mais uma obra de Cameron, o primeiro Avatar (2009), com US$ 2,92 bilhões. O vice é Vingadores: Ultimato (2019), dos irmãos Anthony Russo e Joe Russo, com US$ 2,79 bilhões.
Avatar 2 também conquistou indicações ao Oscar de melhor filme, design de produção, som e efeitos visuais; ao Bafta, da Academia Britânica, em som e efeitos visuais; ao Globo de Ouro de melhor filme dramático e melhor direção; e ao Critics' Choice Awards, concorrendo nas categorias de filme, diretor, fotografia, edição, design de produção e efeitos visuais. Em todas essas premiações, só venceu em efeitos visuais. Já foi muito para um longa-metragem que, com seus demorados 192 minutos de duração, poderia receber outro subtítulo: O Caminho do Sono.
Achei a nova aventura no mundo de Pandora uma maçada sem fim, cheia de cenas longuíssimas, tiroteios de videogame, violência à beira do sadismo — inclusive por parte dos mocinhos, os personagens azuis do povo Na'vi, que não têm pudores para matar seus inimigos, às vezes até exibindo prazer sanguinário —, vilões caricatos, música onipresente, mensagens ecológicas requentadas e diálogos e narrações em off que fazem doer os ouvidos, de tão ruins ou simplesmente melosos (pense no pior da autoajuda). Há ainda contradições dos personagens que não se justificam pela trama, mas apenas pelos interesses de Cameron em dar continuidade à franquia (explicar seria dar spoiler, lá para o final do filme você vai entender).
Megalômano, o cineasta canadense de 68 anos deve gastar US$ 1 bilhão para produzir as quatro sequências de Avatar. O terceiro filme já está em pós-produção e estreia em 2024. Parte do quarto, previsto para 2026, já foi rodada. O quinto sai em 2028.
A dinheirama se faz visível na tela. A computação gráfica (CGI) empresta um realismo impressionante tanto aos personagens digitais (interpretados com a técnica da captura de movimento) quanto aos cenários submarinos, onde Cameron pôde dar vazão a sua paixão pelos oceanos — além de ter feito Titanic e O Segredo do Abismo (1989), ele também já foi ao fundo do mar para explorar os destroços do navio de guerra alemão Bismarck, aventura transformada em um documentário em 2002 (Expedition: Bismarck).
O que também se faz visível é o excesso de mãos lidando com o roteiro. Cameron, Rick Jaffa e Amanda Silver trabalharam em cima de uma história que contou ainda com ideias de Josh Friedman e Shane Salerno. Um fiapo de história, na verdade. Depois dos eventos narrados em Avatar, Jake Sully (papel de Sam Wortinghton) e Neytiri (Zoe Saldaña) formaram uma família, com três filhos biológicos — o jovem Neteyam (Jamie Flatters), o adolescente Lo'ak (Britain Dalton) e a menina Tuktirey (Trinity Bliss) — e uma filha adotiva: Kiri, interpretada por Sigourney Weaver, atriz que viveu sua mãe, a doutora Augustine, no primeiro filme. Quando o coronel Miles Quaritch (Stephen Lang) retorna do mundo dos mortos — agora na forma de um avatar azulão — em busca de vingança, os Na'vi precisam deixar a floresta. Encontram abrigo em um povo de Pandora que vive pela água, os Metkayina, comandados por Tonowari (Cliff Curtis) e Ronal (Kate Winslet).
Como se cada roteirista puxasse a brasa para seu lado, O Caminho da Água não é fluido. O ritmo é desbalanceado. Longas passagens contemplativas são abruptamente interrompidas por longas sequências de perseguição e combate.
Os melhores momentos apenas retomam os principais temas do primeiro Avatar: a conexão com a fauna e a flora, a defesa (pelos Na'vi) da integração com a natureza — que é uma extensão do próprio corpo — diante da sanha (pelos humanos) de explorar à exaustão os recursos naturais, a valorização do conhecimento ancestral para o desenvolvimento sustentável.
Embora o recado não seja novo, são realmente lindas as cenas em que Lo'ak se relaciona com Payakan, um gigantesco tulkun, uma criatura tipo baleia. E ainda que James Cameron pese a mão nos requintes de crueldade (embalados por uma trilha sonora que não dá sossego e que às vezes resvala equivocadamente para o épico), há uma crítica irônica por trás da violenta caçada aos tulkuns por humanos que querem extrair dos animais um líquido que retardaria o nosso envelhecimento: como somos extraordinários em construir máquinas de morte e em planejar a destruição.