Não parece, mas já faz 13 anos que Avatar estreou. Em 2009, a saga do invasor que acaba se aliando aos nativos na guerra pelo território e pela preservação da natureza se tornou um fenômeno no que diz respeito a levar o público aos cinemas tendo, justamente, a experiência na sala escura como seu principal trunfo. Seria em frente a uma telona, com um bom som e com óculos 3D no rosto que o espectador teria o maior deleite sensitivo que um filme poderia oferecer. E, de fato, não era exagero. Tanto é que a produção se tornou a maior bilheteria da história, arrastando multidões.
Treze anos depois, a história dos Na'vi e do planeta Pandora está de volta com Avatar: O Caminho da Água, em exibição nos cinemas nacionais. Novamente, o diretor James Cameron aposta alto na experiência, aumentando a imersão e aprimorando o que foi visto na produção original.
Para isso, o cineasta não comandou nenhum outro título ao longo do período que separa os dois, ficando todo este tempo mergulhado na produção do filme — e de suas eventuais sequências —, em um trabalho recheado de preciosismo que enche os olhos e impressiona.
Como resultado, é seguro dizer que um novo salto tecnológico foi dado, com um realismo extremo aplicado em um universo criado praticamente por computação gráfica, bem como nas criaturas azuis que habitam Pandora. Se não é exagero dizer que o primeiro Avatar não foi superado na questão dos efeitos visuais por outros títulos de grande orçamento que vieram depois, também é possível cravar que o seu sucessor conseguiu se estabelecer no cume do primor visual e, agora, é o alvo a ser alcançado pelos demais — o que dificilmente acontecerá com tamanho esmero.
A nova produção de James Cameron conta com 3h12min de puro deleite cinematográfico, com uma profundidade ainda maior na tela, utilizando todo o potencial da tecnologia 3D, fazendo valer cada centavo do ingresso mais caro. E, se antes o diretor surpreendeu ao criar florestas ricas em detalhes, o desafio agora é dobrado ao levar boa parte da narrativa de Avatar 2 para o mundo subaquático, mostrando total domínio da difícil — e cara — tarefa de filmar dentro d'água.
A técnica, é claro, já vem sendo melhorada pelos cineastas a partir de experiências com O Segredo do Abismo (1989) e Titanic (1997), que serviram como base para chegar ao resultado visto agora. É o cinema de espetáculo com potência máxima, com diversas sequências lentas de contemplação e boas cenas frenéticas de ação.
História
Muito criticado por ter reciclado uma história já batida em Avatar, usando a trama apenas como um artifício para apresentar a sua tecnologia, James Cameron tinha um desafio para as sequências — afinal, ele planejou cinco filmes: o cineasta precisava criar uma trama que fosse interessante o suficiente para engrenar uma franquia, fazendo com que o público se interessasse pelos personagens e não somente pelo visual. Isso porque o longa de 2009 foi um fenômeno de bilheteria, mas acabou não povoando o imaginário dos fãs de cultura pop.
Assim, Cameron, que assinou o roteiro do primeiro filme sozinho, para Avatar: O Caminho da Água, firmou parceria com Rick Jaffa e Amanda Silver — dupla da última trilogia O Planeta dos Macacos e Mulan — para desenvolver o script do novo longa. O resultado é melhor que o de 2009, aumentando a relevância dos personagens, que, provavelmente, podem conquistar o mínimo da preocupação e da atenção da audiência. Ou seja, é um passo importante para a consolidação de uma franquia.
A trama, porém, conta com pontos absurdos, como os artifícios para trazer de volta atores que tiveram personagens mortos na primeira aventura. Fica difícil compreender a necessidade dos retornos de Stephen Lang e Sigourney Weaver — esta última interpreta, por meio de captura de movimentos e por voz, uma adolescente, o que não funcionou bem. Já a chegada de Kate Winslet como Ronal é um interessante acréscimo, sendo um reforço importante para o empoderamento feminino proposto na história.
Desta vez, a história acompanha Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña) precisando fugir da floresta e indo em busca de abrigo com os Na'vi que vivem nas águas de Pandora. Ali, eles começam a ser atacados, novamente, pelos humanos invasores e uma nova guerra se inicia, mas, agora, com mais em jogo: a segurança dos quatro filhos dos protagonistas, que nasceram de um filme para o outro.
Assim, conflitos familiares e a difícil ambientação no novo território entram em campo, ajudando a dar mais profundidade emocional ao longa. A conexão entre os personagens e os animais, de forma quase religiosa, é outro ponto alto nesta jornada.
Mas, apesar de um esforço maior no desenvolvimento da trama, o que Cameron quer é mostrar os detalhes de toda a expansão de universo de Avatar que ele desenvolveu na última década — e não foi pouco. Assistir, em 3D, ao mergulho nos oceanos do planeta alienígena é, provavelmente, a experiência cinematográfica do ano.
O cineasta não poupa o espectador de nada: sem nenhuma pressa, ele transporta o público para o fundo do mar, mostrando uma riqueza inacreditável da fauna e da flora do seu próprio mundo. É como assistir a um documentário extremamente imersivo com criaturas complexas que sequer existem.
O que pode jogar contra é que mundo mudou nestes 13 anos que separam Avatar de sua sequência. E Cameron, um dos mestres em realizar blockbusters, apesar de estar na vanguarda tecnológica, também está em um ritmo diferente de uma grande fatia do público de hoje, que se acostumou a histórias curtas e aceleradas.
Investir uma quantia tão elevada — US$ 350 milhões —, em um filme lento, com mais de três horas de duração, pode afastar o público. E isso é um risco. Mas se tem alguém em que se justifica apostar alto é em James Cameron, que demora, mas entrega experiências cinematográficas de outro planeta.