Presencialmente, participei de poucas coberturas do Festival de Cinema de Gramado — que de 12 a 20 de agosto vai celebrar sua 50ª edição. Mas todas foram significativas, se não para a história do evento, pelo menos para a minha trajetória profissional.
Em 2002, por exemplo, testemunhei uma rara consagração tripla, e em dose dupla. Os prêmios de melhor filme pelo júri oficial, pelo público e pela crítica foram para Durval Discos, de Anna Muylaert, na categoria dos longas-metragens brasileiros de ficção, e para Como se Morre no Cinema, de Luelane Loiola Corrêa, entre os curtas.
Em 2003, na mesma edição em que o ator Milton Gonçalves recebeu o troféu Oscarito, o Kikito de melhor curta foi para Carolina, de Jeferson De, o criador do Dogma Feijoada, movimento que busca dar protagonismo ao negro, à cultura negra e a temas da negritude. No palco do Palácio dos Festivais, o diretor comemorou erguendo o punho, no célebre gesto dos Panteras Negras.
2004 foi o ano do primeiro Kikito de melhor filme para uma produção gaúcha — O Cárcere e a Rua, de Liliana Sulzbach, na categoria de documentário — e foi o ano de uma enorme polêmica. O diretor Joel Zito Araújo e os seis atores (Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa Garcia, Taís Araújo, Thalma de Freitas e Rocco Pitanga) premiados pelo filme Filhas do Vento chegaram a anunciar a intenção de devolver os Kikitos. O motivo? As declarações do presidente do júri, o crítico paulista Rubens Ewald Filho, afirmando que a premiação a eles — todos negros — foi política, "totalmente planejada": "Alguém acha que foi à toa que demos prêmios para seis atores negros em um Estado como o Rio Grande do Sul, sempre acusado de desprestigiar o negro?".
"Não queremos esmolas e não aceitamos ser premiados por cota. Se a opinião do Sr. Rubens for a mesma do júri, recusamos publicamente todos os prêmios que recebemos na noite do festival", dizia a nota divulgada pela equipe do filme. Na ocasião, a atriz e diretora Márcia do Canto, integrante do grupo de sete jurados, afirmou que as declarações de Rubens não representavam a posição do júri:
— É uma opinião pessoal do Rubens, da qual discordo. Ele foi antiético e equivocado. Os critérios de premiação foram a qualidade, independentemente de a pessoa ser negra, branca, azul ou rosa.
O triunfo presenciado no Festival de Gramado de 2005 não envolveu entrega de Kikito: foi o da aplaudidíssima pré-estreia, fora de competição, de Dois Filhos de Francisco, filme do diretor Breno Silveira que reconstitui o início de carreira da dupla Zezé Di Camargo & Luciano e que se tornou um campeão de bilheteria.
Por fim, o lançamento da minha coluna em GZH, em agosto de 2019, culminou em uma participação na cobertura da Rádio Atlântida, sob o comando do saudoso Magro Lima, nos bastidores da noite de premiação.
Ou seja: vou comemorar em Gramado os 50 anos do festival e os três anos como colunista.
E como será a cobertura deste ano? Bem, aqui em GZH, pretendo fazer uma espécie de diário, contando, nas manhãs seguintes, um pouco sobre os filmes exibidos e a movimentação de astros e estrelas na noite anterior. Também vou acompanhar as homenagens, como a entrega dos troféus Oscarito, para o ator Marcos Palmeira, e Eduardo Abelin, para o diretor Joel Zito Araújo. Em ZH, no caderno Fíndi, a coluna do dia 20 trará apostas sobre os ganhadores dos Kikitos. E, na Rádio Gaúcha, vou participar de edições dos programas Timeline, Gaúcha Mais e Supersábado.