Será inaugurada na terça-feira (10), às 19h, no Cine Grand Café, a exposição A Hora da Estrela, com 24 desenhos digitais nos quais Leandro Selister celebra 24 filmes que foram marcantes para ele (confira cinco mais abaixo).
Desde sua abertura, em dezembro de 2021, o cinema localizado no centro comercial Nova Olaria, em Porto Alegre, vem buscando dialogar com outras artes. Entre as mostras que já abrigou, estão a de Zoravia Bettiol, a primeira no espaço, e aquela com gravuras de Anico Herkovitz, Elida Tessler, Maria Tomaselli, Marilice Corona e Regina Silveira, entre outras artistas.
Agora é a vez de Selister, 57 anos, artista visual, designer, fotógrafo — e cinéfilo. Ele reproduziu digitalmente cenas de filmes como A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral, que dá nome à exposição com curadoria de Ben Berardi. Trata-se da adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector, que valeu a Marcélia Cartaxo o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim.
O número de desenhos, 24, refere-se à técnica do cinema, que tradicionalmente apresenta 24 quadros (ou fotogramas, ou frames) por segundo. No material de apresentação, Ben Berardi diz que "cada um dos 24 quadros nos leva a uma poltrona de sala de cinema diferente", despertando uma lembrança única e uma emoção singular.
Selister diz que não precisou pensar por muito tempo no momento de escolher os filmes:
— Foram aqueles que realmente me tocaram de alguma forma, quase que imediatamente lembrados. Teriam muitos outros e certamente terão muitos ainda que irão me marcar. A mágica do cinema é essa mesma, mexer com alguma coisa dentro da gente que nos impulsiona a querer viver mais.
A pedido da coluna, o artista revelou cinco dos 24 filmes e escreveu sobre o impacto causado:
A Hora da Estrela (1985)
"Vou começar por A Hora da Estrela, que inclusive acabou sendo o nome da exposição por sugestão do Ben Berardi. Sou apaixonado por esse livro, e quando o filme foi lançado eu fiquei impressionado com a adaptação para o cinema, a sensibilidade da diretora em escolher as passagens mais incríveis e a interpretação da Marcélia Cartaxo como Macabéa. O filme, como o livro, me comove até hoje pela ingenuidade daquela personagem e a maneira como ela se comove com as pequenas coisas, suas perguntas sobre um mundo que ela tenta compreender. Só de escrever aqui, já me dá um nó na garganta, sabe? Isso sem falar das atuações da Fernanda Montenegro e do José Dumont."
Bagdad Café (1987)
"Bagdad Café (de Percy Adlon) eu vi em São Paulo quando fui visitar a Bienal com duas grandes amigas. O filme estava passando no cinema que fica no Conjunto Nacional, e quando a sessão acabou o público inteiro começou a aplaudir. Isso era em 1989, e nunca tínhamos visto esse tipo de situação em alguma sala de cinema de Porto Alegre. A música é marcante e até hoje acho que falar do filme remete direto para Calling You. Fiquei marcado pela descoberta de duas mulheres que por razões diferentes se veem sozinhas no mundo e vão construindo uma relação de amizade e de superação. Tudo é muito diferente nesse filme, é empolgante, a gente saiu do cinema e caminhou cada um para um lado na Paulista, embriagados mesmo com o que tínhamos assistido. As minhas amigas lembram até hoje desse momento."
O Iluminado (1980)
"Sou fã de filmes de terror psicológico e de suspense. O Iluminado (versão de Stanley Kubrick para o livro de Stephen King) é um dos filmes mais assustadores que já vi, assim como O Exorcista, que também desenhei. O que me marcou mesmo, além da atuação do Jack Nicholson, foi aquele gurizinho que ficava conversando com o dedo, seu amigo imaginário Tony. Aquilo é arrepiante. As cenas dele com a bicicleta pelos corredores do hotel, a gente sempre esperando algo acontecer!! E quando ele entra no quarto da mãe e começa a falar "REDRUM" e depois escreve na porta ao contrário e começa a gritar sem parar com a faca na mão. A mãe acorda e lê pelo espelho "MURDER"!!! Sensacional. Apavorante. Um clássico absoluto, né?"
Pequena Miss Sunshine (2006)
"Pequena Miss Sunshine (de Valerie Faris e Jonathan Dayton) é uma daquelas surpresas que te marcam pra vida toda. Eu sou mega chorão e emotivo e não tem como não chorar com a história da menina Olive, que vai em busca do título de Pequena Miss Sunshine com a família mais fora dos eixos impossível. A cena em que ela se apresenta com a música Super Freak, chocando todos na plateia e depois fazendo com que toda a família suba ao palco, é simplesmente hilária e emocionante ao mesmo tempo. Um filme que valoriza e estimula a valorização da individualidade de cada um de nós. Drama e comédia na medida certa que deixam aquela sensação de que podemos tudo!"
E.T.: O Extraterrestre (1982)
"Encerro com E.T., do Steven Spielberg. Assisti quando me mudei para Porto Alegre, no Cinema Cacique. Faz pouco tempo que me dei conta do real motivo pelo qual o filme me marcou tanto.
Eu tinha 18 anos quando vi e lembro que saí chorando do cinema. Eu havia me mudado para Porto Alegre em definitivo, deixando para trás os amigos e alguns familiares em Pelotas. Me sentia muito só aqui, ainda sem conhecer ninguém. Todo o filme fala de amizade, da relação forte de afeto e confiança entre o menino e o E.T. que foi deixado por sua família na Terra e que deseja voltar para casa. Acho que isso foi o que me pegou. Eu era o próprio E.T. em uma cidade que ainda não conhecia, onde não tinha afetos construídos e muito menos sabia o que iria acontecer na minha vida. A cena que desenhei é de quando, antes de partir, o E.T. dá de presente para a irmã do pequeno Elliot o vaso com as flores que em determinado momento do filme renascem, mostrando que ele não está morto. É linda demais essa cena."
A mostra fica em cartaz no Cine Grand Café até o dia 19 de junho, com visitação de terças a domingos, das 13h30min às 21h.