Protagonista da série homônima em exibição no Globoplay e no canal Paramount+ do Amazon Prime Video, Ray Donovan é uma espécie de primo distante de Tony Soprano.
Criada por Ann Biderman, Ray Donovan (2013-2020) teve 82 episódios em sete temporadas e ganhou um filme para concluir a trama. A estreia está marcada para 18 de janeiro, no Paramount+.
Como o mafioso de New Jersey que estrela Família Soprano (1999-2007), o personagem interpretado por Liev Schreiber (visto recentemente em A Crônica Francesa) tem uma esposa, Abby (Paula Malcolmson), e dois filhos, Bridget (Kerrys Dorsey) e Conor (Devon Bagby), alguns parentes complicados — como os irmãos Terry (Eddie Marsan), treinador de boxe que sofre de Parkinson, e Brendan (Dash Mihok), que foi abusado por um padre na infância e hoje é alcoolista e avesso ao sexo — e vive de limpar o lixo. Mas o dos famosos e poderosos de Los Angeles, uma cidade movida a sexo, dinheiro e cobiça.
Ray é o que os estadunidenses chamam de fixer, o cara que cuida de subornos, ameaças à integridade física e o resgate de atores e atletas de situações deveras delicadas — como uma prostituta morta na banheira do quarto de hotel. O protagonista passa a lidar com vários problemas pessoais quando sai da cadeia o pai dele, Mickey (em uma atuação extraordinária de Jon Voight, mostrando como o ridículo, o aterrorizante e o enternecedor podem coexistir no mesmo personagem).
Cada episódio é uma pequena joia, uma hora de tensão, senso de humor distorcido, bastante despudor, masculinidade tóxica, choque e introspecção. Além do elenco cativante (que inclui Steven Bauer e participações de Susan Sarandon, Elliot Gould, Katie Holmes e Hank Azaria, detentor do único prêmio Emmy conquistado pela série, o de ator coadjuvante, no papel do agente do FBI Ed Cochran), além do explosivo conflito familiar (que chega a ser shakespeariano, em uma versão crua e sangrenta daquele encenado em Succession), além do olhar mordaz para o mundo de Hollywood (o escândalo Harvey Weinstein deixou o seriado mais atual e verossímil), existe um truque que torna irresistível e intrigante assistir a Ray Donovan: os roteiristas — e, não raro, os personagens — sempre sabem mais do que nós. Somos a todo instante surpreendidos, estamos geralmente um ou dois passos atrás, andamos como se estivéssemos pisando em cacos de vidro - quem é esse cara? Para onde Ray está indo? O que será que vai acontecer? É impossível não continuar para ver no que vai dar.