Na esteira do lançamento de Matrix Resurrections nos cinemas, que tal rever o começo de tudo? A sessão Cinemaço da RBS TV exibe na virada deste domingo (2) para segunda-feira (17), à 0h45min, Matrix (1999).
Vencedor de quatro Oscar — melhor edição, som, efeitos visuais e efeitos sonoros —, Matrix virou uma febre mundial. Arrecadou US$ 463,5 milhões nas bilheterias e gerou alta expectativa para suas duas continuações, Matrix Reloaded (2003), que faturou US$ 739,4 milhões, e Matrix Revolutions (2003), US$ 427,3 milhões.
Até quem nunca viu o filme dirigido pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski (que, na época, ainda não haviam se assumido como mulheres transgêneras, portanto, assinavam como Andy e Larry) já deve conhecer bem a trama: num futuro sombrio, o hacker Neo (personagem de Keanu Reeves) descobre que a realidade é controlada por computadores e passa a ser ameaçado por agentes cibernéticos com poderes paranormais e armas com munição aparentemente infinita, contra os quais trava combates coreografados pelo mestre das artes marciais Yuen Woo-Ping (diretor dos primeiros sucessos de Jackie Chan). A familiaridade se deve porque Matrix — fazendo jus ao título — teve conceitos e cenas referenciados, copiados, parodiados quase à exaustão. Desde o lance das pílulas vermelha e azul (que representam a escolha de abraçar a verdade dolorosa ou a ignorância abençoada) até o emprego da câmera lenta que praticamente congela o tempo nas sequências de ação (o efeito bullet time).
O curioso é que o próprio Matrix é uma coleção de citações, como mostrou uma matéria publicada por GZH em 2019, no aniversário de 20 anos do filme. A ponto de o roteirista de quadrinhos escocês Grant Morrison ter acusado as Wachowski de copiarem a sua série Os Invisíveis (1994-2000), sobre um grupo anarquista que deseja libertar a humanidade do domínio de seres transdimensionais. Falando em gibi, Morpheus, interpretado por Laurence Fishburne, é inspirado em Sandman, de Neil Gaiman, cujo protagonista também se chama Morpheus, como o deus dos sonhos na mitologia grega. E há ecos de Ronin (1983-1984), de Frank Miller, na trama.
O visual de Matrix tem semelhanças com Cidade das Sombras (1998), mistura de ficção científica e policial noir de Alex Proyas sobre um homem aprisionado no que parece um mundo ilusório de noite perpétua. Uma inspiração declarada é o anime cyberpunk Ghost in the Shell (1995), sobre uma agente ciborgue que persegue um misterioso hacker. A arma usada por Persephone (Monica Bellucci), uma COP .357 Derringer, é a mesma usada por Leon Kowalski, um dos replicantes fugitivos no clássico Blade Runner: O Caçador de Androides (1982). O roteiro, por sua vez, trabalha com elementos de Alegoria da Caverna, de Platão, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, e Simulacros e Simulação, de Jean Baudrillard.
Há muitas referências religiosas. A nave Nabucodonosor, por exemplo, é uma alusão ao rei da Babilônia que construiu os famosos Jardins Suspensos. Trinity, interpretada por Carrie-Anne Moss, alude à trindade religiosa: Pai (Morpheus), Filho (Neo) e Espírito Santo (Trinity). Neo é um anagrama de One, em inglês, "um", dado seu papel como O Escolhido. A placa do carro do agente Smith, vivido por Hugo Weaving, é IS 5416, menção ao versículo Isaías, 54: 16: "Veja, fui eu quem criou o ferreiro (blacksmith, em inglês) que sopra as brasas até darem chama e forja uma arma própria para o seu fim. E fui eu quem criou o destruidor para gerar o caos".