Dezembro é assim: a cada semana, estreiam filmes cotados para disputar o Oscar — pelo menos segundo as especulações da crítica e de publicações especializadas, como a centenária revista Variety.
Nesta sexta-feira (10), vou atualizar a lista dos títulos que já estão em cartaz e que podem aparecer entre os concorrentes ao prêmio da Academia de Hollywood em 2022 — as indicações serão divulgadas em 8 de fevereiro (a cerimônia está marcada para 27 de março).
São 10 dicas, em exibição nas salas de cinema de Porto Alegre ou disponíveis em plataformas de streaming.
Amor, Sublime Amor (2021)
Em exibição desde quinta-feira (9), é o primeiro musical dirigido por Steven Spielberg, cineasta que é figurinha carimbada no Oscar: já recebeu 17 indicações e conquistou três estatuetas — melhor filme e melhor diretor por A Lista de Schindler (1993) e melhor diretor por O Resgate do Soldado Ryan (1998). Em Amor, Sublime Amor, ele adapta um espetáculo da Broadway que encena um romance à la Romeu e Julieta em meio a uma guerra de gangues na Nova York dos anos 1950. A primeira versão para o cinema, de 1961, ganhou 10 Oscar. A do Spielberg, para o meu gosto, a certa altura esquece que é um filme musical. Falta coreografia e sobra realismo. (Em cartaz nos cinemas)
Ataque dos Cães (2021)
Presente em várias listas dos melhores filmes do ano — spoiler: estará na minha —, é um dos maiores favoritos ao Oscar. O filme da diretora Jane Campion, a mesma de O Piano (1993), é um faroeste tardio e desconstrutivo: se passa em 1925 e desmancha a aura mítica dos caubóis. O protagonista é interpretado por Benedict Cumberbatch, o Sherlock da série de TV e o Doutor Estranho do Universo Cinematográfico Marvel, no grande desempenho de sua carreira. Seu personagem, Phil Burbank, estudou na prestigiada faculdade Yale mas preferiu levar uma vida de bronco. Essa vida começa a ser abalada quando o irmão dele (Jesse Plemons) se casa com uma mãe viúva (Kirsten Dunst), que tem um filho adolescente de traços e modos delicados (Kodi Smit-McPhee). (Netflix)
Casa Gucci (2021)
Dirigido pelo incansável Ridley Scott, que, aos 83 anos, lançou dois filmes em 2021 — o outro foi (o bem melhor) O Último Duelo —, Casa Gucci era para ser o ápice de uma grande leva recente de ficções e documentários dedicada ao mundo da moda. Afinal, faz desfilar um elenco de peso — Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto, Salma Hayek e Jeremy Irons — na reconstituição da história que levou ao assassinato do herdeiro da centenária grife italiana fundada em 1921, hoje uma marca avaliada em US$ 17,6 bilhões, segundo relatório elaborado em 2020 pela consultoria Brand Finance. Para pisar no tapete vermelho do Oscar, bastaria um passinho. Mas o filme tropeça. Não chega a ser um fiasco, mas tropeça. Ainda assim, deve garantir a Lady Gaga sua segunda indicação ao prêmio de atriz. (Em cartaz nos cinemas)
Deserto Particular (2021)
Aqui é uma questão mais de torcida do que de previsão.
Segundo a revista Variety, o escolhido do Brasil tem poucas chances de conseguir uma vaga no Oscar 2022 de melhor filme internacional. Os 15 finalistas entre 93 candidatos serão conhecidos no dia 21 de dezembro, e entre as principais apostas estão The Worst Person in the World (Noruega), de Joachim Trier, Um Herói (Irã), de Asghar Farhadi (diretor dos oscarizados A Separação e O Apartamento), Drive my Car (Japão), de Ryusuke Hamaguchi, Reze pelas Mulheres Roubadas (México), de Tatiana Huezo, A Mão de Deus (Itália), de Paolo Sorrentino (premiado pela Academia de Hollywood por A Grande Beleza), e Titane (França), de Julia Ducournau (ganhadora da Palma de Ouro no Festival de Cannes). Deserto Particular é dirigido por Aly Muritiba e conta a história de um homem (Antonio Saboia) que parte de Curitiba para o sertão da Bahia quando a mulher com quem troca mensagens de WhatsApp para de responder. Com um ritmo cadenciado e imagens poéticas, o cineasta nos convida para tanto uma jornada Brasil adentro quanto uma viagem de autodescobrimento do protagonista. (Em cartaz no Cine Grand Café)
Duna (2021)
Ver em casa não é a mesma coisa do que ter a experiência de imersão propiciada pelo cinema, mas a nova ficção científica do diretor franco-canadense Denis Villeneuve, o mesmo de A Chegada (2016) e de Blade Runner 2049 (2017), é um dos grandes eventos cinematográficos da era covid-19. Adaptação de um clássico romance publicado em 1965 pelo escritor estadunidense Frank Herbert, que influenciou diretamente a saga Star Wars, o filme se passa no ano de 10.191, num futuro que se mistura com o arcaico. O imperador Shaddam Corrino IV comanda os planetas sob um sistema feudal, os combates corpo a corpo misturam espadas e campos de força. Temos naves espaciais que transportam multidões e helicópteros que se assemelham a insetos, edificações que remetem às pirâmides do Egito e gigantescos vermes que singram sob o deserto de Arrakis, o principal cenário. Em meio à ação, surgem, para reflexão, temas religiosos, político-econômicos e ecológicos. O protagonista, Paul Atreides (Timothée Chalamet), é o messias destinado a libertar os povos oprimidos por jogos de poder que espelham os efeitos do colonialismo, do imperialismo e do capitalismo predatório. As valiosas "especiarias", com utilidades tanto místicas quanto tecnológicas, aludem à maneira como exploramos os recursos naturais. (HBO Max e para aluguel ou compra em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
Encanto (2021)
É o único título da lista que ainda não pude ver, mas parece impossível a Academia de Hollywood deixar de fora do Oscar o 60º longa-metragem animado da Disney. Com músicas de Lin-Manuel Miranda — a estrela por trás de Hamilton e Em um Bairro de Nova York — e direção de Byron Howard, Jared Bush e Charise Castro Smith, Encanto acompanha uma família nas montanhas da Colômbia que tem poderes especiais, com exceção da filha Mirabel, que acaba tendo de salvar os outros. (Em cartaz nos cinemas)
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (2021)
No longa de animação dirigido por Mike Rianda e coassinado por Jeff Rowe, os Mitchells são uma família que lembra muito, inclusive fisicamente, os heróis de Os Incríveis (2004), mas sem superpoderes. Eles precisam salvar o mundo, que virou refém de um celular com inteligência artificial. Tem aventura, drama, crítica social e, claro, muito humor, tanto para os baixinhos quanto para os grandinhos (graças a uma série de referências, como as citações musicais de Kill Bill, do Tarantino). É forte rival para a Disney no Oscar da categoria. (Netflix)
Identidade (2021)
Trata-se da adaptação de um romance publicado em 1929 pela escritora estadunidense Nella Larsen (Passing, no título original). É ambientado na Nova York dos anos 1920 e conta a história de duas mulheres que, depois de crescerem juntas, se reencontram na vida adulta: Irene (Tessa Thompson) se identifica como negra e está casada com um médico negro (que sonha em se mudar para o Brasil, um país onde, segundo ele, não há racismo); Clare (Ruth Negga) se passa por branca e tem um marido rico e preconceituoso. O filme marca a estreia como diretora da atriz Rebecca Hall — ela própria neta de um homem negro que adotou a identidade branca e que criou os filhos como brancos. Amparada pela belíssima fotografia em preto e branco e por uma melancólica trilha sonora, Rebecca conduz a trama com uma delicadeza que não esconde as tensões — tanto as decorrentes do reencontro quanto as raciais, que permeiam as relações na sociedade dos EUA. (Netflix)
King Richard: Criando Campeãs (2021)
O filme dirigido por Reinaldo Marcus Green pode valer a terceira indicação de Will Smith ao Oscar de melhor ator. Como em Ali (2001) e em À Procura da Felicidade (2006), ele encarna um personagem real. A exemplo do boxeador Muhammad Ali, Richard Williams faz do esporte uma arena para o combate ao racismo. A exemplo do pai desempregado Chris Gardner, não mede esforços para garantir um futuro melhor para as filhas, as tenistas Venus e Serena Williams. Pena que King Richard se concentre tanto na figura do protagonista, nublando o talento e a autodeterminação das garotas — interpretadas respectivamente por Saniyya Sidney e Demi Singleton. (Em cartaz nos cinemas)
Tick, Tick... Boom! (2021)
Lin-Manuel Miranda estreia como diretor de cinema com este musical que lidera a corrida do Satellite Awards, entregue pela International Press Academy. O filme se baseia no espetáculo homônimo de Jonathan Larson, interpretado no filme por Andrew Garfield (o Homem-Aranha entre Tobey Maguire e Tom Holland). Tick, Tick... Boom! retrata o processo criativo do compositor de um dos maiores sucessos da Broadway, Rent (1994), mas se concentra na história de seu maior fracasso, Superbia, que nunca chegou a estrear. Garfield tem um desempenho surpreendente e arrebatador como o artista que vai se afundando em dívidas e se afastando da namorada e dos amigos. Vale dizer que, apesar desse contexto, não estamos diante de uma tragédia: há muito humor e muita esperança. (Netflix)