A Tela Quente desta segunda-feira (9), na RBS TV, exibe Planeta dos Macacos: A Guerra (2017), filme que fechou uma das mais consistentes trilogias cinematográficas.
Essa franquia revitalizou, com sucesso de público e de crítica, a clássica saga de ficção científica dos anos 1960 e 1970. Planeta dos Macacos: A Origem (2011) arrecadou US$ 481,8 milhões e tem 82% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes. O Confronto (2014) faturou US$ 710,6 milhões e chegou a 90% de aprovação. A Guerra rendeu menos do que o segundo título, US$ 490,7 milhões, mas foi ainda mais elogiada: 94% no Rotten.
Houve um feliz casamento entre avanços tecnológicos na produção de cinema e a perenidade da ideia original. Vale relembrar: na distopia apresentada pelo cineasta Franklin J. Schaffner em O Planeta dos Macacos (1968) — filme baseado no romance homônimo escrito pelo francês Pierre Boulle —, um astronauta (Charlton Heston) viaja até o futuro e descobre que a Terra foi devastada por uma guerra nuclear. Como uma crítica ao comportamento arrogante e beligerante da humanidade, esta agora está sob jugo de macacos inteligentes e falantes.
Em A Origem, o diretor Rupert Wyatt reinventou o argumento do quarto dos cinco filmes da cinessérie, A Conquista do Planeta dos Macacos (1972), que mostra o início da revolta comandada pelo chimpanzé César e o fim do reinado dos humanos sobre o mundo. No filme de Wyatt, César é um bebê salvo do sacrifício por um cientista que testa em primatas superinteligentes uma droga para combater a doença de Alzheimer, estimulando a regeneração das atividades cerebrais. Após um incidente com o vizinho do tal gênio da ciência, o intelectualmente bombado César é confinado em um abrigo para macacos, ambiente em que organiza sua feroz guerrilha. As cenas de ação não obscureciam o chamamento à reflexão. A animosidade entre homem e macaco e as próprias relações de poder e subserviência que se dão entre chimpanzés, gorilas e orangotangos espelhavam as tensões — racial, política, religiosa — que seguem convulsionando o mundo.
Dirigido por Matt Reeves, O Confronto se passava 10 anos após A Origem. Um vírus criado em laboratório por meio de experiências com macacos dizimou quase toda a humanidade — e o restante decidiu que era uma boa ideia matar uns aos outros em vez de buscar uma solução. Enquanto isso, os símios, modificados geneticamente e imunes à infecção, são liderados por César até uma reserva florestal de São Francisco, na Califórnia. Lá, começam a erguer os pilares de uma nova civilização, baseada na união e no respeito mútuo. Só que esse equilíbrio tem prazo de validade, estipulado pelo reaparecimento de um grupo de humanos. O bonobo Koba, que havia sido cobaia no passado, tenta estimular César a exterminar os intrusos. Novamente, sequências de combate ou de tensão dividiam espaço com indagações existenciais: merecemos uma segunda chance ou chegou a vez de uma outra raça tomar conta do planeta?
Matt Reeves também dirige A Guerra, em cartaz a partir das 23h25min desta segunda na RBS TV. O filme começa mostrando uma batalha na selva entre macacos e humanos. Após sofrer grandes perdas, os símios buscam um novo refúgio, enquanto César parte atrás de vingança contra o coronel McCullough, personagem interpretado com gosto por Woody Harrelson, que aqui faz citações escancaradas ao coronel Kurtz vivido por Marlon Brando no clássico Apocalypse Now (1979). Em sua jornada no meio da neve, César é acompanhado, contra sua vontade, por companheiros como o sábio orangotango Maurice e o gorila Luca, além de topar no meio do caminho com dois novos personagens: o simpático chimpanzé Bad Ape e uma garotinha silenciosa.
A Guerra do título não faz referência apenas ao conflito bélico. Alude também à turbulência que existe entre os macacos, divididos entre o instinto animal e a índole racional.
— César ainda mantém seu otimismo, acha que pode encontrar uma solução pacífica. Mas as perdas que acaba sofrendo alimentam seu ódio e seu desejo de vingança. Vemos então uma grande mudança na personalidade dele. E não há vencedores em uma guerra — comentou em entrevista a ZH Andy Serkis, o ator que brilha no papel do líder símio.
O inglês de 57 anos é uma sumidade em criaturas nascidas da técnica de captura de movimentos. Serkis viveu o Gollum da trilogia O Senhor dos Anéis, depois encarnou o King Kong de Peter Jackson e também traz no currículo o Capitão Haddock do Tintin de Steven Spielberg, o Líder Supremo Snoke dos recentes filmes Star Wars e o urso Balu do sombrio Mogli que ele mesmo dirigiu para a Netflix. Para vê-lo de cara limpa, assista, por exemplo, a Pantera Negra (faz o mercenário Ulysses Klaw, o Garra Sônica) ou espere The Batman, do mesmo Matt Reeves, previsto para março de 2022 (ele interpreta o mordomo Alfred).
Seu desempenho por baixo de camadas de efeitos especiais é muito profissional e, ao mesmo tempo, passional. Serkis já disse que cada suspiro, cada pequeno movimento de um músculo é um componente importante em uma mídia essencialmente visual, como o cinema.
— O ideal é podermos fazer um personagem contar uma história com o menor número possível de palavras — declarou.
Não à toa, o diretor de A Origem, Rupert Wyatt, definiu o ator como "o Charles Chaplin da nossa geração".