A abertura oficial será apenas na sexta-feira (23), mas como o torneio de softbol feminino começa, para nós aqui do Brasil, nesta terça (20), já podemos entrar no clima da Olimpíada de Tóquio, no Japão.
Para marcar a 32ª edição do maior evento esportivo do mundo, fiz uma lista com filmes que se passam no contexto dos Jogos Olímpicos (às vezes, vale dizer, o esporte sequer está no centro da trama) e que podem ser vistos em plataformas de streaming. Muitos trazem histórias reais, alguns incluem um tanto de ficção; uns têm drama e glória, outros, dor e derrota; e nem todos merecem medalha — mas o que importa é competir, né?
Infelizmente, não está disponível o grande clássico do atletismo — aliás, das Olimpíadas como um todo: Carruagens de Fogo (1981). Dirigido por Hugh Hudson, reconstitui a preparação de dois atletas do Reino Unido para a Olimpíada de 1924, em Paris: Eric Liddel (Ian Charleson) é um missionário escocês que corre por devoção a Deus, e Harold Abrahams (Ben Cross), filho de judeus, quer provar sua capacidade para a comunidade de Cambridge. Ganhou os Oscar de melhor filme, roteiro original, figurinos e trilha sonora — composta por Vangelis e imortalizada em inúmeras citações: virou um clichê dos momentos de superação e das cenas em câmera lenta. Se achar em DVD ou em um canal por assinatura, não deixe de ver.
Jamaica Abaixo de Zero (1993)
Olimpíada de Inverno também vale: inspirada em uma história real, esta comédia dirigida por Jon Turteltaub tem como protagonista o fictício velocista jamaicano Derice Bannock (interpretado por Leon Robinson). Depois de não conseguir a classificação para os Jogos de Seul, em 1988, ele decide tentar uma vaga olímpica de um jeito mais improvável. Na companhia do treinador Irving Blitzer (vivido por John Candy), resolve formar a primeira equipe do caloroso país caribenho no bobsled, aquele trenó que desliza no gelo. A versão reggae de I Can See Clearly Now gravada por Jimmy Cliff tornou-se um tremendo sucesso radiofônico. (Disney+)
Munique (2005)
O thriller político de Steven Spielberg recria o atentado terrorista à delegação de Israel na Olimpíada de 1972 — 11 atletas foram sequestrados e mortos pela organização palestina Setembro Negro. Essa história também foi contada em Um Dia em Setembro (1999), documentário de Kevin Macdonald ganhador do Oscar (e indisponível no streaming). Mas Munique vai além, ficcionalizando a campanha de retaliação posta em marcha pela primeira-ministra Golda Meir (interpretada de forma assombrosa por Lynn Cohen). Estrelado por Eric Bana, Daniel Craig, Geoffrey Rush, Mathieu Kassovitz e Marie-Josée Croze, concorreu a cinco Oscar, incluindo melhor filme, direção e roteiro adaptado. (Apple TV)
Desafio no Gelo (2004)
Eis um filme sobre a Guerra Fria ambientado na Olimpíada de Inverno. A trama, baseada em fatos, se passa em 1980. O diretor Gavin O'Connor acompanha os desafios do novo treinador da seleção dos Estados Unidos de hóquei no gelo, Herb Brooks (vivido por Kurt Russell), que tem como missão derrotar a equipe soviética, até então considerada imbatível, nos Jogos de Lake Placid (EUA). (Disney+)
Foxcatcher (2014)
Vou citar o que disse meu colega Daniel Feix: "A história de Foxcatcher não chocou o mundo, como indica, pretensiosamente, o subtítulo brasileiro do filme de Bennett Miller. Mas isso é bom: se você nunca ouviu falar dos acontecimentos narrados no longa, vai descobri-los com uma boa dose de suspense, sem saber exatamente qual a tragédia que porá fim à relação entre o campeão olímpico de luta greco-romana Mark Schultz (Channing Tatum), seu irmão Dave (Mark Ruffalo), que o treina, e o excêntrico milionário que os apadrinha, John du Pont, interpretado por um surpreendente Steve Carell". Encenada entre os anos 1980 e 1990 (Schultz foi medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles, em 1984), a obra valeu a Miller o troféu de melhor diretor no Festival de Cannes e concorreu a cinco Oscar: direção, ator (Carell), ator coadjuvante (Ruffalo), roteiro original e maquiagem. (Paramount+, Google Play e YouTube)
Gabby Douglas (2014)
Nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, Gabby Douglas se tornou a primeira ginasta afro-americana a conseguir duas medalhas de ouro, tanto na categoria individual como em equipe. Mas, como diz a sinopse da cinebiografia dirigida por Gregg Champion, "ela enfrentou obstáculos muito maiores fora do esporte". A atleta é interpretada por Sydney Mikayla na infância, por Imani Hakim dos 14 aos 16 anos e, depois, por ela própria. No elenco, Regina King, no papel da mãe de Gabby, Natalie Hawkins. (Google Play e YouTube)
Invencível (2014)
Em seu terceiro filme como diretora, a atriz Angelina Jolie conta a história do corredor estadunidense Louis Zamperini, que disputou a prova dos 5 mil metros na Olimpíada de Berlim, em 1936, e, durante a Segunda Guerra Mundial, virou prisioneiro dos japoneses depois de sofrer um acidente de avião. Jack O'Connell encarna o protagonista deste drama indicado aos Oscar de melhor fotografia, edição de som e mixagem de som. (Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
Raça (2016)
Trata-se da cinebiografia do estadunidense Jesse Owens, o corredor negro que humilhou Adolf Hitler ao conquistar quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Com direção de Stephen Hopkins, é protagonizado por Stephan James (do policial Crime Sem Saída e do seriado Homecoming). (Google Play e YouTube)
Voando Alto (2016)
Cinebiografia do esquiador britânico Michael Edwards, o Eddie, the Eagle, encarnado por Taron Egerton no filme de Dexter Fletcher. Seu objetivo é tentar ser o primeiro atleta de seu país a disputar a prova de saltos em 60 anos, nos Jogos de Inverno de 1988. Para chegar lá, tem a ajuda de um ex-esquiador (Hugh Jackman) que trabalha como motorista de uma máquina de limpar neve. (Disney+)
Dangal (2016)
Sucesso de público na Índia, o filme de Nitesh Tiwari narra a história da família de Mahavir Singh Phogat, que treinou suas filhas Geeta Phogat e Babita Kumari para se tornarem as primeiras grandes atletas de luta livre em seu país. Geeta disputou a Olimpíada de 2012, e Babita esteve no Rio em 2016. (Netflix)
Eu, Tonya (2017)
Escândalo também vale: Margot Robbie recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz ao interpretar a patinadora Tonya Harding, que, na Olimpíada de Inverno de 1994, se envolveu no caso de agressão a Nancy Kerrigan, sua rival na equipe dos EUA. O filme de Craig Gillespie venceu a estatueta dourada de atriz coadjuvante (Allison Janney, como a terrível mãe de Tonya) e também concorreu ao prêmio de edição. (Apple TV)
O Caso Richard Jewell (2019)
Este é outro filme que não está diretamente relacionado ao esporte — gira em torno de um atentado à bomba durante a Olimpíada de Atlanta (EUA), em 1996. O cineasta Clint Eastwood reconstitui a história do segurança que evitou uma tragédia no Parque Olímpico, mas acabou pintado como vilão por polícia e imprensa. Paul Walter Heuser — que também está em Eu, Tonya — faz o papel de Richard Jewell, e Kathy Bates concorreu ao Oscar de melhor atriz coadjuvante na pele de sua mãe. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
Paratodos (2016) / Pódio para Todos (2020)
Para fechar, acho importante citar dois documentários que, como os títulos indicam, nos lembram que depois da Olimpíada tem os Jogos Paraolímpicos. Os depoimentos de vários atletas incrementam a discussão sobre inclusão e ajudam a entender o impacto do evento no entendimento global sobre deficiências, diversidade e excelência.
A produção brasileira Paratodos, de Marcelo Mesquita, mostra os bastidores do esporte de alto rendimento em quatro modalidades: atletismo, natação, futebol de 5 e canoagem. Entre os campeões que participam, estão a corredora Therezinha Guilhermina e os nadadores Clodoaldo Silva e Daniel Dias. (Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
O documentário britânico Pódio para Todos (Rising Phoenix no original), de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, reúne estrelas como a corredora estadunidense Tatyana McFadden, dona de 17 medalhas parolímpicas, e a esgrimista italiana Bebe Vio, campeã paraolímpica e mundial de florete na categoria B. (Netflix)
Bônus: 4x100: Correndo por um Sonho (2021)
Outro representante brasileiro na lista, o filme esteve em cartaz nos cinemas há pouco tempo e, em breve, deve chegar ao streaming.
Assinada por Tomas Portella, é uma rara ficção sobre atletismo e uma raríssima produção esportiva focada em mulheres — pena que não suba ao pódio no quesito qualidade. A trama começa na Olimpíada do Rio, em 2016. Estamos na final da corrida de revezamento 4x100 metros. Na hora de pegar o bastão passado por Adriana (papel de Thalita Carauta), Maria Lúcia (Fernanda de Freitas) comete um erro e põe a perder o sonho de uma medalha para o Brasil. Quatro anos depois, a midiática Maria Lúcia segue na equipe, enquanto Adriana virou lutadora de MMA. As duas se reencontram e entram em conflito durante a preparação para os Jogos de Tóquio.