Cartaz do Domingo Maior neste fim de semana, Planeta dos Macacos: O Confronto (2014) foi o filme com o melhor desempenho comercial da franquia que atualizou a clássica saga de ficção científica dos anos 1960 e 1970. O longa que a RBS TV exibe às 23h25min de domingo (6) faturou US$ 710,6 milhões nas bilheterias — bem mais do que os US$ 481,8 milhões arrecadados por Planeta dos Macacos: A Origem (2011) e os US$ 490,7 milhões de Planeta dos Macacos: A Guerra (2017). No total, a trilogia acumulou US$ 1,68 bilhão. Junto à crítica, os números também são bem favoráveis. No site Rotten Tomatoes, por exemplo, A Origem tem 82% de aprovação, O Confronto, 90%, e A Guerra, 94%.
É um daqueles casos em que a revitalização de uma franquia teve boa receptividade. Foi um feliz casamento entre avanços tecnológicos e a perenidade da ideia original. Vale relembrar: na distopia apresentada pelo cineasta Franklin J. Schaffner em O Planeta dos Macacos (1968) — filme baseado no romance homônimo escrito pelo francês Pierre Boulle —, um astronauta (Charlton Heston) viaja até o futuro e descobre que a Terra foi devastada por uma guerra nuclear. Como uma crítica ao comportamento arrogante e beligerante da humanidade, esta agora está sob jugo de macacos inteligentes e falantes.
Em A Origem do Planeta dos Macacos (2011), o diretor Rupert Wyatt reinventou o argumento do quarto dos cinco filmes da cinessérie, A Conquista do Planeta dos Macacos (1972), que mostra o início da revolta comandada pelo chimpanzé César e o fim do reinado dos humanos sobre o mundo. No filme de Wyatt, César é um bebê salvo do sacrifício por um cientista que testa em primatas superinteligentes uma droga para combater a doença de Alzheimer, estimulando a regeneração das atividades cerebrais. Após um incidente com o vizinho do tal gênio da ciência, o intelectualmente bombado César é confinado em um abrigo para macacos, ambiente em que organiza sua feroz guerrilha.
As cenas de ação não obscurecem o chamamento à reflexão. A animosidade entre homem e macaco e as próprias relações de poder e subserviência que se dão entre chimpanzés, gorilas e orangotangos espelham as tensões — racial, política, religiosa — que seguem convulsionando o mundo.
Dirigido por Matt Reeves — que depois assinaria A Guerra e agora está envolvido com o novo filme do Batman —, O Confronto se passa 10 anos após A Origem. Um vírus criado em laboratório por meio de experiências com macacos dizimou quase toda a humanidade — e o restante decidiu que era uma boa ideia matar uns aos outros ao invés de buscar uma solução.
Enquanto isso, os símios, modificados geneticamente e imunes à infecção, são liderados por César até uma reserva florestal de São Francisco, na Califórnia. Lá, começam a erguer os pilares de uma nova civilização, baseada na união e no respeito mútuo. Só que esse equilíbrio tem prazo de validade, estipulado pelo reaparecimento de um grupo de humanos. O bonobo Koba, que havia sido cobaia no passado, tenta estimular César a exterminar os intrusos.
É a deixa para que Matt Reeves combine o apelo aos instintos do espectador com o convite para que ele pense em questões mais profundas. Novamente, sequências de combate ou de tensão dividem espaço com indagações existenciais: merecemos uma segunda chance ou chegou a vez de uma outra raça tomar conta do planeta? O bacana é que ele pergunta isso sem recorrer a uma visão maniqueísta: tanto macacos quanto os homens têm motivações justas para buscar a paz ou partir para a guerra.
O encontro entre as espécies também é a deixa para que surjam os atores de carne e osso, como Jason Clarke de O Diabo de Cada Dia), no papel de Malcolm, o líder do grupo de reconhecimento, e Gary Oldman, o militar Dreyfus. Mas quem brilha no elenco, outra vez, é um personagem híbrido, César, esculpido com os recursos da tecnologia sobre o talento do ator Andy Serkis.
O inglês de 57 anos é uma sumidade em criaturas nascidas da técnica de captura de movimentos. Viveu o Gollum da trilogia O Senhor dos Anéis, depois encarnou o King Kong de Peter Jackson e também traz no currículo o Capitão Haddock do Tintin de Steven Spielberg, o Líder Supremo Snoke dos recentes filmes Star Wars e o urso Balu do sombrio Mogli que ele mesmo dirigiu para a Netflix. Para vê-lo de cara limpa, assista, por exemplo, a Pantera Negra (faz o mercenário Ulysses Klaw, o Garra Sônica) ou espere The Batman, previsto para 2021 (ele vai interpretar o mordomo Alfred).
Seu desempenho por debaixo de camadas de efeitos especiais é muito profissional e, ao mesmo tempo, passional. Serkis já disse que cada suspiro, cada pequeno movimento de um músculo é um componente importante em uma mídia essencialmente visual, como o cinema — "O ideal é podermos fazer um personagem contar uma história com o menor número possível de palavras", declarou. Não à toa, o diretor do primeiro segmento da nova franquia de Planeta dos Macacos, Rupert Wyatt, definiu o ator como "o Charles Chaplin da nossa geração".