Deu a lógica na temporada da hashtag Fique em Casa: as plataformas de streaming dominam as indicações ao Oscar, anunciadas nesta segunda-feira (15) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A Netflix soma 35, e o Amazon Studios, 12. Forçados pela pandemia de coronavírus a adiar muitos filmes para 2021, os grandes estúdios encolheram sua participação na maior premiação do cinema. A produtora mais bem sucedida é a Warner, com oito, seguida por Focus Features e Disney, ambas com sete _ sendo que Mulan (duas categorias) e Soul (três) foram lançados diretamente no Disney+.
Quem também aproveitou a brecha imposta pela pandemia foram as produções independentes e de baixo custo. Sete títulos que disputaram o Gotham Awards, premiação destinada a obras com orçamento de até US$ 35 milhões, estão presentes no Oscar. Entre eles, Nomadland e O Som do Silêncio, concorrentes na categoria de melhor filme.
Na Netflix, o campeão de indicações é Mank, que compete em 10 categorias no dia 25 de abril, incluindo melhor filme, direção, ator (Gary Oldman) e atriz coadjuvante (Amanda Seyfried). Os 7 de Chicago disputa seis, e A Voz Suprema do Blues, cinco. Os outros títulos da plataforma indicados são O Céu da Meia-Noite, Destacamento Blood, Era uma Vez um Sonho, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigirt e Lars, Pieces of a Woman, Rosa e Momo, O Tigre Branco, as animações A Caminho da Lua e Shaun, o Carneiro: A Fazenda Contra-Ataca e os documentários Crip Camp: Revolução pela Inclusão e Professor Polvo.
O carro-chefe do Amazon Studios é o belíssimo O Som do Silêncio, indicado a seis troféus, incluindo melhor filme e ator (Riz Ahmed). Também concorrem Uma Noite em Miami, Borat: Fita de Cinema Seguinte e o documentário Time. A Apple TV teve duas indicações (Greyhound e Wolfwalkers), e o Hulu, uma, por Estados Unidos Vs Billie Holiday (veja as categorias na lista abaixo).
A covid-19 pesou, obviamente, mas está longe de ser o único fator a explicar o sucesso do streaming. Na verdade, paulatinamente a Academia de Hollywood foi entendendo que as plataformas são rivais das salas de cinema, mas não do ofício cinematográfico. Ao mesmo passo, a Netflix foi qualificando suas produções. Como resultado, as oito indicações de 2018 viraram 15 em 2019 e 24 em 2020, quando, dois meses antes de a pandemia paralisar a indústria e o mercado, a empresa de Los Gatos, na Califórnia, tornou-se a recordista no Oscar. Superou a Disney (23) e a Sony (20) graças a O Irlandês (10 categorias), História de um Casamento (seis), Dois Papas (três), as animações Klaus e Perdi meu Corpo e os documentários Democracia em Vertigem, Indústria Americana e A Vida em Mim (curta).
Grandes cineastas, como Martin Scorsese (O Irlandês), Spike Lee (Destacamento Blood) e David Fincher (Mank), têm trabalhado com a Netflix. Tanto por questões financeiras - aliadas à liberdade criativa, dependendo do cacife do diretor - quanto pela possibilidade de alcançar um público desamparado pelo mercado de cinema. No Brasil, por exemplo, apenas 10% dos municípios contam com salas de exibição. O fator econômico também atrai esse espectador: o preço do ingresso para ver um único filme em uma sessão de fim de semana equivale ao valor pago em uma assinatura do serviço de streaming para assistir a quantos títulos quiser, em qualquer horário e quantas vezes quiser. E em casa, o que significa mais segurança em relação aos riscos de ser infectado pelo coronavírus.
É verdade que, no conforto do nosso lar, se perde a tal da magia da sala escura, a imersão proporcionada pela combinação de tela grande, som de altíssima qualidade, ausência de distrações (fora um que outro espectador inconveniente) e nossa incapacidade de pausar, retroceder ou avançar a trama — fundamental para nos entregarmos. Perde-se também a comunhão momentânea com um exército de estranhos, muito bem-vinda e eficiente em comédias, filmes de terror e dramas que fazem soluçar. Mas a pandemia pode ter acelerado a mudança no comportamento do consumidor de cinema. Resta ver se também vai mudar o comportamento da Academia de Hollywood na hora de premiar.
Nenhuma plataforma de streaming venceu o Oscar de melhor filme. Das 54 indicações recebidas desde 2014, quando o documentário The Square concorreu, até 2020, a Netflix conquistou apenas oito. Metade delas nas categorias documentais - os longas Icarus (2017) e Indústria Americana e dois curtas - e três com Roma (2018): melhor filme internacional, diretor e fotografia, ambos para Alfonso Cuaron. Completa a lista Laura Dern, melhor atriz coadjuvante no ano passado por História de um Casamento. O Irlandês, que concorria em 10 categorias, como Mank em 2021, saiu de mãos abanando.
Principais indicados
Melhor filme: Bela Vingança, Judas e o Messias Negro, Mank, Meu Pai, Minari, Nomadland, O Som do Silêncio e Os 7 de Chicago
Melhor direção: Chloé Zhao (Nomadland), David Fincher (Mank), Emerald Fennell (Bela Vingança), Lee Isaac Chung (Minari) e Thomas Vinterberg (Mais uma Rodada)
Melhor atriz: Andra Day (Estados Unidos Vs Billie Holiday), Carey Mulligan (Bela Vingança), Frances McDormand (Nomadland), Vanessa Kirby (Pieces of a Woman) e Viola Davis (A Voz Suprema do Blues)
Melhor ator: Anthony Hopkins (Meu Pai), Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues), Gary Oldman (Mank), Riz Ahmed (O Som do Silêncio) e Steven Yeun (Minari)
Atriz coadjuvante: Amanda Seyfried (Mank), Glenn Close (Era uma Vez um Sonho), Maria Bakalova (Borat: Fita de Cinema Seguinte), Olivia Colman (Meu Pai) e Yuh-Jung Youn (Minari)
Ator coadjuvante: Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro), Lakeith Stanfield (Judas e o Messias Negro), Leslie Odom Jr. (Uma Noite em Miami), Paul Raci (O Som do Silêncio) e Sacha Baron Cohen (Os 7 de Chicago)
Roteiro original: Bela Vingança, Judas e o Messias Negro, Minari, Os 7 de Chicago e O Som do Silêncio
Roteiro adaptado: Borat: Fita de Cinema Seguinte, Meu Pai, Nomadland, Uma Noite em Miami e O Tigre Branco
Fotografia: Judas e o Messias Negro, Mank, Nomadland, Relatos do Mundo e Os 7 de Chicago
Edição: Bela Vingança, Meu Pai, Nomadland, Os 7 de Chicago e O Som do Silêncio
Direção de arte: Mank, Meu Pai, Relatos do Mundo, Tenet e A Voz Suprema do Blues
Figurino: Emma, Mank, Mulan, Pinóquio e A Voz Suprema do Blues
Maquiagem e cabelos: Emma, Era uma Vez um Sonho, Mank, Pinóquio e A Voz Suprema do Blues
Efeitos visuais: O Céu da Meia-Noite, O Grande Ivan, Love and Monsters, Mulan e Tenet
Som: Greyhound, Mank, Relatos do Mundo, O Som do Silêncio e Soul
Trilha sonora: Destacamento Blood, Mank, Minari, Relatos do Mundo e Soul
Canção original: Fight for You (Judas e o Messias Negro), Hear My Voice (Os 7 de Chicago), Húsavík (Festival Eurovision da Canção), Io Si (Seen) (Rosa e Momo) e Speak Now (Uma Noite em Miami)
Longa de animação: A Caminho da Lua, Dois Irmãos, Shaun, o Carneiro: A Fazenda Contra-Ataca, Soul e Wolfwalkers
Documentário: Agente Duplo, Collective, Crip Camp: Revolução pela Inclusão, Professor Polvo e Time
Filme internacional: Mais uma Rodada (Dinamarca), Better Days (Hong Kong), Collective (Romênia), O Homem que Vendeu sua Pele (Tunísia) e Quo Vadis, Aida? (Bósnia-Herzegovina)