Eterno The Rock para seus fãs de primeira hora, Dwayne Johnson é o protagonista de Arranha-Céu: Coragem Sem Limites (Skyscraper, 2018), atração que vai dar um sentido literal à Tela Quente.
O filme que será exibido às 22h45min, na RBS TV, se passa em Hong Kong. Mais precisamente, em um enorme edifício de alta tecnologia. Johnson interpreta Will Sawyer, veterano de guerra e ex-líder das operações de resgate do FBI — ocupação na qual abre a trama, de forma impactante. Agora, ele é encarregado pela segurança de um sofisticado prédio na China, onde também mora sua esposa, Sarah (Neve Campbell, da franquia cinematográfica Pânico), e as crianças do casal, Georgia e Henry.
O problema é que o espigão de 200 e tantos andares vira alvo de um ataque terrorista e começa a pegar fogo. Sawyer tem de, simultaneamente, escapar das autoridades, já que é considerado suspeito, e salvar a esposa e os filhos, presos no edifício. Não à toa, o astro definiu o filme como uma homenagem aos filmes que inspiraram a ele e a sua geração com "grit, guts and heart" (brio, tripas e coração): Inferno na Torre (1974), Duro de Matar (1988) e O Fugitivo (1993).
Escrito e dirigido por Rawson Marshall Thurber, Arranha-Céu oferece 100 minutos de adrenalina para quem gosta de ação impossível — com muita destruição e muita vertigem. Também é inteligente ao apresentar uma situação ou uma coisa aqui para retomar lá na frente. Ou seja, o espectador tem um referencial emocional, em um caso, e não acha que a solução foi tirada da cartola, no outro.
E o filme é um veículo para Dwayne Johnson, hoje com 48 anos, desenvolver mais um pouco seu carisma como herói tipo família. É uma característica que o ex-lutador vem trabalhando desde que trocou os ringues de luta livre pelo cinema. Seu primeiro papel de destaque foi o de um vilão, o Escorpião Rei de O Retorno da Múmia (2001), mas sua popularidade foi capaz de gerar uma aventura solo do personagem no ano seguinte.
Johnson é um dos atores mais rentáveis de Hollywood na atualidade. Somados, seus filmes já arrecadaram mais de US$ 11 bilhões nas bilheterias, com destaque para os cinco segmentos da franquia Velozes e Furiosos, na qual interpreta Luke Hobbs, os dois Jumanji e o desenho animado da Disney Moana, no qual empresta a voz para o grandalhão Maui. Em dezembro de 2021, ele será visto como o protagonista de Adão Negro, mais um filme de super-herói baseado nos quadrinhos da DC.
De olho no mercado chinês
Se Arranha-Céu olha para o passado de Hollywood na sua concepção, também mira o futuro do cinema em sua ambientação. Ao usar Hong Kong como cenário e escalar atores como Chin Han, de Cingapura, Hannah Quinlivan, de Taiwan, e o sino-americano Byron Mann, o filme é mais um passo na aproximação com o mercado asiático — especialmente o gigantesco da China. Afinal, o dinheiro está trocando de mãos na indústria cinematográfica.
Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas e pujança financeira, a China está prestes a ultrapassar, nas bilheterias, os Estados Unidos (328,2 milhões de habitantes e com uma economia crescendo em ritmo inferior ao dos asiáticos). Em 2019, os chineses arrecadaram US$ 9 bilhões nas salas de cinema, um crescimento de 5%. Os americanos registraram US$ 11 bilhões, mas com uma queda de 4%.
Significativamente, a lista dos 20 filmes com maior faturamento no ano passado inclui quatro títulos chineses. Dois deles ficaram bem perto do top 10: o desenho animado Ne Zha, 12º colocado, com US$ 726,1 milhões, e a ficção científica The Wandering Earth, na 13ª posição, com US$ 699,8 milhões.
A pandemia, que impactou mais os cinemas ocidentais, pode ter acelerado esse processo de sucessão. Atualmente, o campeão mundial de bilheteria é chinês: The Eight Hundred, um drama de guerra assinado por Guan Hu que se passa na Xangai de 1937, durante o segundo conflito militar entre China e Japão. Está com US$ 461,3 milhões, à frente de Bad Boys para Sempre, que estreou antes de o coronavírus dominar o mundo e volta a reunir os personagens de Will Smith e Martin Lawrence, com US$ 426,5 milhões, e de Tenet, o novo thriller do diretor Christopher Nolan, lançado prematuramente como uma esperança de retomada dos cinemas — os US$ 362 milhões arrecadados mal pagam os custos de produção (US$ 200 milhões) e marketing (estimado em US$ 100 milhões).
Hollywood também se beneficia do mercado chinês. Sozinho, o país corresponde a 22,4% da bilheteria do recordista Vingadores: Ultimato (2019). Lá, o filme da Marvel faturou US$ 629,1 milhões. Nos Estados Unidos, foram US$ 858,3 milhões. Em alguns casos, a balança se inverte: Warcraft (2016), adaptação de um game, fez US$ 47,3 milhões em solo americano e quase cinco vezes mais na China: US$ 225,5 milhões.
Não é por acaso que, lá em 2013, a versão de Homem de Ferro 3 exibida na China tinha cenas exclusivas rodadas no país e com a presença da atriz Fan Bingbing.
Não é por acaso que a Disney, na sua onda de refilmagens realistas dos desenhos animados, estreou recentemente Mulan, sobre uma jovem da China imperial que finge ser homem para lutar na guerra em proteção a seu pai.
Não é por acaso que em 2021 a Marvel vai lançar Shang-Chi e a Lenda dos 10 Anéis, o primeiro filme com seu principal herói das artes marciais, interpretado pelo canadense Simu Liu.
O caminho oposto também ocorre. Produtoras chinesas vêm investindo em Hollywood. O gigante do comércio online Alibaba firmou parceria com a Amblin Partners, de Steven Spielberg, para coproduzir filmes. O conglomerado Wanda adquiriu, por US$ 3,5 bilhões, o estúdio Legendary, da trilogia do Batman realizada por Christopher Nolan. O Pearl Studio é uma joint venture entre a DreamWorks e investidores de Xangai que bancou com a americana Netflix a animação A Caminho da Lua (2020), mistura de ficção científica espacial com lendas chinesas.
Portanto, não estranhe se, cada vez mais, deparar com ideogramas nos créditos de abertura, personagens chineses nas tramas e cidades como Pequim, Xangai e Hong Kong na cenografia. Este é o cinema de um futuro muito próximo, ainda mais depois que Parasita (2019), da vizinha Coreia do Sul, quebrou uma barreira importante ao se tornar a primeira obra não falada em inglês a ganhar o Oscar de melhor filme.