Sexta-feira 13 é dia de ver filmes de terror. Eu poderia começar a lista justamente com Sexta-Feira 13 (1980, disponível no Google Play e no YouTube), mas essa franquia nunca me pegou (para ser franco, o subgênero slasher, marcado por psicopatas assassinos, não faz minha praia, com uma honrosa exceção). Também não vou indicar It: A Coisa (2017, em cartaz na Netflix) porque seria chover no molhado: a mais recente encarnação do tenebroso e malicioso palhaço Pennywise é a maior bilheteria de horror, com US$ 700,3 milhões. Preferi recomendar títulos que realmente me assustaram, me perturbaram, me fizeram sentir medo do escuro ou de dormir sozinho. E que podem ser vistos em alguma plataforma de streaming. São 13 filmes, apropriadamente, assinados por diretores de nove nacionalidades.
A Autópsia (2016)
Exemplo bem acabado do terror claustrofóbico, este filme americano tem direção do norueguês André Øvredal. Brian Cox e Emile Hirsch fazem pai e filho, ambos legistas com uma química (sem trocadilho) tocante. Eles ficam intrigados com o cadáver de uma mulher desconhecida, uma certa Jane Doe. A trama combina bem sustos e eventos sobrenaturais com interpretações sobre pesadelos e monstros da vida real. Disponível no Amazon Prime Video.
A Bruxa (2015)
Com secura atordoante, o diretor Robert Eggers acompanha, na Nova Inglaterra do século 17, uma família cristã excomungada que cai em desgraça quando o filho caçula, um bebê, desaparece à beira de uma floresta. Foi o primeiro papel de destaque da atriz Anya Taylor-Joy, a protagonista da minissérie O Gambito da Rainha (2020). Disponível no Google Play e no YouTube.
A Casa do Medo: Incidente em Ghostland (2018)
O diretor francês Pascal Laugier é especializado em filmes perturbadores, sempre com protagonistas femininas traumatizadas, sempre com crianças expostas ao terror, sempre com violência crua e tortura longa, sempre com enfoque no psicológico dos personagens e reversões de expectativa na trama. São dele Mártires (2008), polêmico e pesadíssimo, e O Homem das Sombras (2012), com Jessica Biel. Em Incidente em Ghostland, uma mulher e suas duas filhas (Crystal Reed e Taylor Hickson), logo na primeira noite na nova casa, têm de lidar com invasores. O que acontece a partir daí é puro pesadelo. Disponível no YouTube.
O Chamado (2002)
A melhor refilmagem americana de um terror japonês. Gore Verbinski dirige o filme sobre uma jornalista (Naomi Watts) que, ao investigar a morte da sobrinha, descobre um vídeo com imagens assustadoras — como a da menina Samara saindo de um poço — e uma profecia: quem assisti-lo morrerá sete dias depois. Teve duas esquecíveis continuações. Disponível no Google Play e no YouTube.
O Exorcista (1973)
Da trinca de ouro formada com O Bebê de Rosemary (1968, disponível na Netflix) e O Iluminado (1980, Google Play e YouTube), O Exorcista é o que considero mais assustador — não necessariamente o melhor.
Primeiro terror indicado ao Oscar de melhor filme, deu origem não apenas a uma franquia, mas ao próprio subgênero dos títulos de exorcismo. Mesmo proibida para menores de 18 anos, a obra do diretor William Friedkin foi uma campeã de bilheteria. Ainda hoje, a história sobre a menina possuída pelo belzebu impressiona, tanto pelas atuações (Ellen Burstyn, a mãe, concorreu ao Oscar de atriz, e Linda Blair e Jason Miller, o padre, foram indicados como coadjuvantes) quanto pela atmosfera, pelos sustos e mesmo pelos efeitos especiais. Disponível na Darkflix.
O Homem nas Trevas (2016)
Diretor uruguaio que chegou aos Estados Unidos apadrinhado por Sam Raimi, Fede Alvarez gastou US$ 9,9 milhões e arrecadou US$ 157 milhões com este angustiante filme sobre três jovens — entre eles, Jane Levy e Dylan Minnette — que invadem a casa de um veterano de guerra cego (Stephen Lang) para roubá-lo e... bom, prepare os nervos. Disponível na Netflix.
A Hora do Pesadelo (1984)
Criado pelo diretor Wes Craven, Freddy Krueger é, digamos, meu psicopata assassino de estimação. Fruto do estupro coletivo de uma freira em um velho manicômio da Rua Elm, ele apavora por atacar em um território sobre o qual não temos controle: nossos sonhos. A última cena é inesquecível. Disponível na Darkflix.
Invasão Zumbi (2016)
Difícil escolher apenas um filme de zumbis, mas fico com este do sul-coreano Yeon Sang-ho, em que as criaturas que se multiplicam em um trem para Busan nos lembram: a qualquer momento, as circunstâncias (políticas, econômicas, sanitárias etc) podem tornar irreconhecíveis as pessoas ao nosso redor. Estão sempre em xeque os laços sociais e afetivos que nos dão identidade e segurança. Disponível na Netflix.
Invocação do Mal (2013)
Nascido na Malásia, o cineasta James Wan é uma espécie de Midas do terror: tudo o que ele toca vira uma franquia. Depois de criar Jogos Mortais, em 2004, e Sobrenatural (Insidiou), em 2011, ele deu início, em Invocação do Mal, a um universo cinematográfico do qual também fazem parte Annabelle e A Freira. No primeiro filme sobre os investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren (vividos por Patrick Wilson e Vera Farmiga), Wan dá um show na maneira como explora tanto as diferentes personalidades de uma família (mãe e cinco filhas) atormentada por uma possessão demoníaca quanto o cenário, feito com quartos de portas duplas e muitos vãos. Disponível na Netflix.
Midsommar (2019)
Diretor de Hereditário (2018), o americano Ari Aster subiu a régua no seu filme seguinte. Transformou a separação de um casal em uma história de terror, ambientada, ao contrário do habitual, sob o sol. Personagens e espectadores vivem uma intensa experiência sensorial em meio a um ritual pagão na Suécia. Disponível no Amazon Prime Video.
O que Ficou para Trás (2020)
Primeiro longa-metragem do diretor e roteirista inglês Remi Weekes, é um filme de casa mal-assombrada, de fantasmas e de sustos, mas esses elementos clássicos do horror estão a serviço de uma história poderosa sobre uma tragédia real e um drama urgente e universal: o dos refugiados. O drama das pessoas que precisam fugir de países que estão em guerra ou onde sofrem perseguição por motivos políticos, religiosos ou étnicos — encarnados, em cena, pelos personagens de Sope Dirisu e Wunmi Mosaku, que escaparam do Sudão do Sul para experienciar o terror num subúrbio da Inglaterra. Disponível na Netflix.
Rec (2007)
Em Barcelona, uma repórter de TV (Manuela Velasco) e seu cinegrafista estão fazendo uma reportagem sobre os bombeiros quando flagram a disseminação de uma infecção raivosa. O primeiro capítulo da franquia espanhola criada por Jaume Balagueró e Paco Plaza trabalha muito bem o estilo found footage, com imagens captadas pelos próprios personagens. O imprevisto é a regra, o que torna tudo mais aterrorizante. Disponível no Amazon Prime Video.
Um Lugar Silencioso (2018)
John Krasinski, o Jim do seriado The Office, dirige e estrela — ao lado da esposa, Emily Blunt — este exasperante filme sobre uma família que tenta sobreviver a uma misteriosa e mortal ameaça alienígena. Para isso, o casal e seus filhos precisam manter absoluto silêncio, pois as criaturas invasoras são guiadas pelo mais sensível ruído. Um Lugar Silencioso fez barulho na bilheteria: US$ 340 milhões. A continuação, que estrearia em março de 2020, foi adiada para abril de 2021 por causa da pandemia. Disponível no Telecine, Apple TV, Google Play e YouTube.
Bônus: fantasmas, invasores e uma vampirinha
Não poderia deixar de citar quatro filmes marcantes que, infelizmente, estão fora do catálogo das plataformas de streaming — mas dá para conferir duas refilmagens americanas.
Os Outros (2001)
Baseado no romance A Volta do Parafuso, de Henry James, este elegante terror é dirigido pelo chileno radicado na Espanha Alejandro Amenábar e protagonizado por Nicole Kidman. Ela interpreta Grace, que mora com o casal de filhos pequenos numa mansão vitoriana. Enquanto aguarda a volta do marido da II Guerra Mundial, a mãe e as crianças lidam com eventos sobrenaturais e a chegada de uma governanta, um velho jardineiro e uma criada muda.
Espíritos: a Morte Está a seu Lado (2004)
Os tailandeses Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom são responsáveis por um dos finais mais arrepiantes que eu já vi. Depois que sua namorada, que dirigia o carro, atropela uma jovem, o fotógrafo começa a ver uma figura sombria nas imagens que registra. Ganhou refilmagem americana em 2008, com o nome de Shutter (disponível no Amazon Prime Video).
Os Estranhos (2008)
Do subgênero "jovens que entram em uma roubada em uma casa de campo", este filme de Bryan Bertino é o meu predileto. Primeiro porque não recorre ao sobrenatural: um trio de mascarados aterroriza Liv Tyler e Scott Speedman. Segundo porque não há justificativa, não é uma punição moral: o casal estava apenas no lugar errado na hora errada. E terceiro por causa da engenhosidade cênica: de modo geral, os vilões aparecem ao fundo, num cantinho da tela ou desfocados. Nós sabemos que eles estão dentro da casa, mas os protagonistas não. Somos sufocados pela expectativa.
Deixa Ela Entrar (2008)
No filme do sueco Tomas Alfredson, Oskar é um menino de 12 anos, vítima de bullying na escola, que encontra uma aliada na guria estranha que só o visita de noite. Ganhou uma decente versão americana dois anos depois, estrelada por Chloë Grace Moretz e rebatizada de Deixe-me Entrar (em cartaz no Google Play e no YouTube).