Série do Amazon Prime Video mais assistida em 2019, The Boys tem a estreia de sua segunda temporada marcada para sexta-feira (4). Nesse dia, serão disponibilizados os primeiros três episódios. Depois, a cada semana, a plataforma de streaming lançará um capítulo, até fecharem os oito da nova fornada sobre o embate bem-humorado mas violento entre anti-heróis – literalmente! – e super-heróis que estão longe de serem modelos.
Eu estive entre os espectadores mais animados da primeira temporada. Por isso, foi bacana participar de uma entrevista coletiva com quatro atores do elenco na Comic Con Experience, a CCXP 19, realizada em dezembro passado, em São Paulo: Antony Starr (o Capitão Pátria), Erin Moriarty (Starlight), Jessie Usher (Trem Bala) e Karen Fukuhara (Kimiko).
— Se a primeira temporada foi sobre cada personagem encontrar seu lugar no mundo, a segunda será sobre perder esse chão — disse Starr.
— No primeiro ano, foi como se fizéssemos dois seriados diferentes, os dois núcleos não se encontravam muito. Agora, haverá mais interação — adiantou Erin.
Não quis ler sobre a sinopse dos novos episódios, para não estragar a própria surpresa. Por isso, para quem ainda não viu a série, eis um resumo, SEM SPOILERS PESADOS.
Baseada em uma história em quadrinhos homônima, escrita por Garth Ennis e desenhada por Darick Robertson (e publicada no Brasil pela Devir: o décimo dos 12 volumes está saindo agora), The Boys lança um olhar ácido sobre o mundo dos super-heróis. De um lado, estão Os Sete, uma espécie de Liga da Justiça. O Capitão Pátria tem superpoderes como o do Superman, mas é do mal: oscila entre o cinismo, a fúria e a dissimulação, em uma interpretação fascinante e aterrorizante de Starr (repare como ele pressiona seus aliados colocando as mãos sobre os ombros deles). Rainha Maeve (Dominique McElligott) se parece com a Mulher Maravilha, em uma versão desencantada; Trem Bala é veloz como o Flash; The Deep (Chace Crawford), tipo Aquaman, domina as águas; e Black Noir (Nathan Mitchell) faz às vezes de um Batman mais violento e completamente calado. A mais nova integrante é Starlight, uma garota interiorana, e é por seus olhos inocentes que vemos, por dentro, como Os Sete estão longe de serem edificantes – logo de cara, ela sofre abuso sexual por The Deep.
Do outro lado, sob o comando de Bruto (Karl Urban), um grupo formado também por Hughie (Jack Quaid), Leitinho (Laz Alonso), Francês (Tomer Kapon) e Kimiko tenta desmascarar – destruir, na verdade – os super-heróis. O objetivo é expor que eles são, na verdade, um bando de viciados em uma droga chamada Composto V (que lhes dá os poderes especiais) a serviço de uma empresária gananciosa (encarnada por Elisabeth Shue), que busca um contrato bilionário com o exército americano. O plano dela é empregar Os Sete como supersoldados, o que dá margem para refletir sobre geopolítica e militarismo.
Outro tema importante da série é a fabricação da imagem pública e o preço da fama. E AQUI VALE AVISAR QUE COMEÇAM OS SPOILERS PARA QUEM NÃO VIU A PRIMEIRA TEMPORADA. Os super-heróis surgem como uma metáfora de Hollywood, jogando o foco para o lado sombrio do estrelato, um lugar onde as pessoas podem corromper ou serem corrompidas.
— Trem Bala faz qualquer coisa pela fama e pelo dinheiro. Ele não quer voltar a ser desimportante. Por isso, se droga para manter seus superpoderes e fecha os olhos para o que rola nos bastidores d'Os Sete — comentou Jessie Usher na CCXP.
— É a época certa para The Boys — acrescentou Starr, em uma afirmação que pode ser interpretada como uma alusão a casos como o do produtor Harvey Weinstein, que aproveitava seu poder na indústria do cinema para abusar sexualmente de várias atrizes.
No seriado, o abusador, The Deep, meio que prova do próprio veneno: uma garota resolve explorar e cutucar o corpo do herói, contra a vontade dele. Sexo, aliás, é um elemento marcante na série, embora mais domesticado em relação à HQ. O que se revela um acerto: sem pesar a mão no escândalo, sobra espaço para desenvolver os personagens, bem mais aprofundados e nuançados na comparação com o gibi.
Mas o sexo é justamente o catalisador da temporada de estreia. No seu desfecho, ficamos sabendo que o motivo da vingança de Bruto contra o Capitão Pátria foi uma meia-verdade. Becca, sua esposa, não se matou nem foi assassinada depois de um suposto estupro pelo "super-herói", mas, aparentemente, deixou-se seduzir por ele, engravidou e agora mora em uma cidadezinha americana, onde cria o filho.
Com esse gancho impactante, foi jogo duro esperar tanto tempo pelos episódios que estão chegando. Ainda bem que agora faltam poucas horas.