Viva o épico, diz o slogan da Comic Con Experience deste ano, a CCXP 19, que será aberta oficialmente nesta quinta-feira (5). E é isso mesmo: como um épico de Hollywood, os cenários são gigantescos, o elenco traz nomes de peso, o roteiro promove encontros, desencontros e reencontros, há milhares de figurantes nas cenas de "batalha" e a aventura pode durar longas horas.
Trata-se do maior evento de cultura pop da América Latina. Alguns números fazem jus à esse epíteto: em sua sexta edição, a CCXP ocupa um espaço de 115 mil metros quadrados na São Paulo Expo, na zona sul da capital paulista. Os 280 mil ingressos foram vendidos antecipadamente. Até domingo, o público terá a oportunidade de visitar toda sorte de estandes interativos e conhecer de perto atores de filmes e seriados badalados - de Gal Gadot (Mulher Maravilha 1984) e Margot Robbie (a Arlequina de Aves de Rapina) às turmas de The Boys e La Casa de Papel, de Ryan Reynolds aos protagonistas de Star Wars: A Ascensão Skywalker.
Não esquecendo suas origens, a CCXP também dedica uma área generosa para os quadrinistas, bem no centro do pavilhão. No Artists' Alley, você encontra tanto lendas e astros dos gibis de super-herói, como o americano Neal Adams e o escocês Frank Quitely, quanto talentos maduros ou emergentes das HQs brasileiras: Laerte, Orlandeli, Wagner Willian, Amanda Miranda, Jéssica Groke, Gabriel Dantas... A lista é enorme.
Enormes também podem ser as filas. Tempo e paciência são fundamentais nessas batalhas sem violência. Eu visitei a CCXP na noite de quarta-feira, na chamada Spoiler Night, realizada para a imprensa, convidados e os fãs que compraram um ingresso VIP. Foi o suficiente para provocar esperas de 20 minutos ou meia hora antes de pegar o autógrafo de seu artista favorito ou de brincar em estandes como o carrossel de American Gods, da Amazon Prime Video. Imaginem a partir do meio-dia desta quinta-feira, quando as portas se abrirem para o público em geral - "no sábado e no domingo, as pessoas não conseguem se mexer aqui dentro", me contaram, em diferentes momentos, mas com essas mesmas palavras, um leitor de gibis e uma atendente, ambos com experiência no evento.
Como era minha primeira vez, confesso que cheguei a ficar aturdido com o gigantismo da coisa. Parece infinito: você começa a passear e as atrações vão se multiplicando. Pode ser o espaço bacana da Chiaroscuro Studios, que imita páginas de quadrinhos; o Black Museum, na área da Netflix, que nos convida a uma imersão em cenários do seriado Black Mirror (com direito a pedalar nas bicicletas do episódio Fifteen Million Merits, por exemplo); a barbearia do Sonic, de onde dá para sair com um corte de cabelo inspirado no personagem de game que virou filme da Paramount; a casa de Desalma, o drama sobrenatural da Globoplay que estreia em 2020, com Cassia Kis, Cláudia Abreu e Maria Ribeiro, e que teve metade das cenas gravadas no Rio Grande do Sul; ou o "açougue" do seriado The Boys, da Amazon Prime Video, que "ensina" a bater em super-heróis, tendo como modelo uma cabeça de porco (de mentirinha, é claro!).
Fãs de Breaking Bad e Friends encontrarão, perto uma da outra, réplicas do motorhome de Walter White e do Central Perk, o café frequentado pelos seis amigos nova-iorquinos. Consumistas não podem se queixar: há estandes de editoras (o da Panini ocupa uma "quadra" inteira), de lojas de vestuário, de action figures, de quinquilharias... Deve haver de games também, mas não cheguei a ir para aquelas bandas.
Afinal, ao contrário do que prega a visão estereotipada, não somos homogêneos - e reconhecer isso é uma das virtudes da CCXP, que oferece atrações para diferentes públicos, dos caçadores de autógrafos com mochilas cheias de HQs aos cosplayers que posam para fotos a todo instante, passando pelos "civis" que nem sabem quem é Kevin Feige ou Adriana Melo (se você também não sabe, eu te conto: ele é o chefão do Universo Cinematográfico Marvel, e ela é uma artista brasileira premiada com o Eisner, o principal troféu da indústria americana de quadrinhos, e ambos estarão na São Paulo Expo).
Com tantas atrações - ou melhor, distrações -, é possível perder a noção do tempo (não à toa, seguidamente o serviço de alto-falante nos lembra de tomar água), o que pode levar a desencontros. Eu tinha combinado de conhecer pessoalmente um amigo virtual pernambucano, o Carlos Mello, que a paixão por quadrinhos me trouxe. Mas nossos caminhos não estavam se cruzando naqueles longos e largos corredores. Até que a gente se deu conta de que as filas têm suas vantagens: praticamente estáticas, são um ponto de encontro confiável (e ainda uma espécie de vitrine para visualizar outros camaradas). Achei o Carlos à espera de um autógrafo do americano Charlie Adlard, o desenhista de The Walking Dead. Ganhei um abraço e, de surpresa, um bolo de rolo. Disso também é feita a CCXP: de criar sorrisos como os da foto abaixo e boas recordações.
*O jornalista viajou a convite da Amazon Prime Video